ONU convoca doadores de fundos para rohingyas
Organização internacional precisa de mil milhões de dólares para fazer frente às várias necessidades de milhares de refugiados
A ONU realiza hoje uma videoconferência de doadores internacionais, para tentar angariar os fundos urgentes e necessários para ajudar os refugiados da minoria muçulmana rohingya.
A organização internacional precisa de mil milhões de dólares para responder às múltiplas necessidades dos cerca de 800 mil rohingyas que fugiram de Myanmar (antiga Birmânia) e estão refugiados em campos sobrelotados no Bangladesh.
No entanto, os actuais fundos são extremamente insuficientes, segundo afirmou um porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Andrej Mahecic, na terça-feira.
“Menos de metade dos fundos solicitados foram desembolsados até agora”, frisou o porta-voz numa, conferência de imprensa, em Genebra (Suíça). A videoconferência será co-organizada pelo ACNUR, Estados Unidos, Reino Unido e a União Europeia (UE).
A situação exige “um apoio internacional mais forte e um redobrar de esforços para encontrar soluções para estes apátridas e deslocados”, insistiu Andrej Mahecic.
O porta-voz do ACNUR sublinhou ainda que a actual pandemia da Covid-19 acrescentou “novos desafios e necessidades” a uma situação de emergência que já era “massiva e complexa”.
O ACNUR estima que 860 mil rohingyas vivem no Bangladesh em campos próximos da fronteira com Myanmar, enquanto os cerca de 150 mil encontram-se refugiados outros países da região. Estima-se, igualmente, que cerca de 600 mil ainda vivem no território birmanês.
Milhares de rohingyas procuraram refúgio no Bangladesh, sobretudo na zona de Cox’s Bazar, desde meados de Agosto de 2017, quando foi lançada, no estado de Rakhine (oeste de Myanmar), uma operação militar do Exército birmanês contra o movimento rebelde Exército de Salvação do Estado Rohingya, devido a ataques da rebelião a postos militares e policiais. Os rohingyas também foram alvos de acções de milícias budistas.
A campanha de repressão do Exército de Myanmar contra esta minoria foi descrita pela ONU como limpeza étnica e um possível genocídio, incluindo o assassínio de milhares de pessoas, a violação de mulheres e de crianças e a destruição de várias aldeias.
Foram negociados acordos para o regresso gradual dos refugiados rohingyas para Myanmar, mas a ONU sempre insistiu na necessidade de garantir a segurança destas pessoas. Myanmar, de maioria budista, não reconhece esta minoria e impõe-lhe múltiplas restrições, nomeadamente a liberdade de movimentos.
Desde que a nacionalidade birmanesa lhes foi retirada, em 1982, os rohingyas têm sido submetidos a muitas restrições: não podem viajar ou casar sem autorização, não têm acesso ao mercado de trabalho, nem aos serviços públicos (escolas e hospitais).
Recentemente, a Organização Não-Governamental (ONG) Human Rights Watch denunciou que mais de 130 mil rohingyas estão confinados em campos de concentração de Myanmar, instando o mundo a pressionar as autoridades birmanesas para que libertem estas pessoas desta detenção “arbitrária e indefinida”.