Líderes das maiores religiões pedem um mundo mais unido
Lideres de várias religiões exigiram, ontem, em Roma, um mundo mais fraterno, unido e aberto ao diálogo, de modo a acabar com as “principais feridas”, como as guerras ou a pandemia do novo coronavírus.
O encontro, organizado pela Comunidade de Sant'Egidio, sob o lema “Ninguém se salva por si mesmo”, ocorreu em duas sessões: um acto de oração em que cristãos, judeus, muçulmanos e budistas rezaram em várias partes de Roma, e outro situado na Praça do Capitólio.
Cristãos-ortodoxos, protestantes e católicos-reunidos na igreja central de Ara Coeli. Diante deles, o Papa Francisco, pela primeira vez em público com uma máscara, alertou para o risco representado pelo individualismo, principalmente neste período de pandemia.
O líder da Igreja Católica advertiu que os cristãos também têm diante de si a “tentação” de pensar apenas em proteger a si mesmos o seu próprio grupo ou comunidade, “ter apenas seus problemas e interesses em mente, enquanto tudo o mais não importa”.
Francisco saiu do templo para a Praça Campidoglio com o Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I.
Já na praça, diante dos líderes religiosos, separados como medida de segurança, o Papa exigiu um mundo “mais fraterno” para combater o flagelo da guerra, agora agravado pela pandemia.
“Precisamos de paz! Mais paz! (...). O mundo, a política, a opinião pública correm o risco de se acostumarem com o mal da guerra como companheira natural na História dos povos”, disse.
Além disso, Francisco celebrou os “passos fecundos” do diálogo inter-religioso nos últimos tempos, apesar dos recentes “eventos dolorosos” como o radicalismo ou o terrorismo.
“Os crentes compreenderam que a diversidade das religiões não justifica a indiferença ou a inimizade. Com efeito, a partir da fé religiosa, podemos tornar-nos num artesão da paz e não um espectador inerte do mal da guerra e do ódio”, disse.
Lamentou que o mundo actual, assolado pelo flagelo das guerras, esteja ameaçado pelo coronavírus e “a impossibilidade, em muitos países, de haver acesso aos tratamentos necessários”.
“Enquanto isso, os conflitos continuam, e com eles a dor e a morte. Pôr fim à guerra é o dever urgente de todos os líderes políticos diante de Deus. A paz é a prioridade de qualquer política”, afirmou o Papa Francisco.
Mas a pandemia, frisou, também pode servir como uma “lição útil” para pensar sobre uma saída de conflitos e prevenir novas guerras: “Nenhum povo, nenhum grupo social pode sozinho alcançar a paz, o bem, a segurança e a felicidade”.
O grande Imam Ahmed al Tayeb, Sheikh de Al Azhar, instituição sunita de referência no Médio Oriente, não compareceu, mas enviou uma mensagem na qual afirma que a fraternidade é o antídoto que acabará com “as epidemias morais e intelectuais” que espalham o ódio e racismo.
O Rabino Chefe de França, Haïm Korsia, defendeu que o mundo “precisa de se exercitar no encontro, no debate e até mesmo na animada discussão, mas sempre com a esperança de encontrar o outro para se encontrar”.
No final, foram acendidas velas para o fim de vários conflitos na África ou na Bielorrússia, mas também para pedir o fim da “violência generalizada” na América Central, a “reconciliação” da Venezuela e a implantação da paz na península coreana.
No encerramento, todos os líderes religiosos observaram um minuto de silêncio pelas vítimas da Covid-19 e dos conflitos, assinaram e leram uma mensagem conjunta, um apelo pela paz, na qual pedem, entre outras coisas, uma vacina acessível a todos os povos.