AI acusa as autoridades de uso excessivo de força
Amnistia Internacional (AI) atribui tiros às forças de segurança e diz ter “provas credíveis e perturbadoras” do uso excessivo de força
Um tiroteio, na terça-feira à noite, durante um protesto contra a corrupção e a brutalidade policial, esta terçafeira (20.10), causou um número incerto de vítimas em Lagos, na Nigéria. Imagens chocantes de manifestantes atingidos por disparos circulam pelas redes sociais no país.
A Amnistia Internacional (AI) atribuiu os tiros às forças de segurança e divulgou que teria recebido provas “credíveis e perturbadoras” de que o uso excessivo de força ocasionou mortes em Lekki Toll Gate - uma área da maior cidade de África. A AI estaria “a trabalhar na verificação” do número de mortos.
Testemunhas disseram que homens armados abriram fogo sobre a multidão para dispersá-la após a imposição do recolher obrigatório com o objectivo de acabar com protestos, contra abusos cometidos pela Brigada Especial AntiRoubo (SARS) da Polícia, que já duram duas semanas.
Tiros esporádicos ainda podiam ser ouvidos na maior cidade da Nigéria na quartafeira de manhã, disse um jornalista da agência de notícias AFP. O governador do Estado de Lagos, Babajide SanwoOlu, disse que 25 pessoas foram feridas, tendo duas delas recebido cuidados intensivos.
“Esta é a noite mais dura das nossas vidas, uma vez que forças fora do nosso controlo directo moveram-se para manchar com tons sombrios na nossa História”, disse Sanwo-Olu no Twitter, divulgando fotografias dele a visitar hospitais nas primeiras horas de quarta-feira. Vou trabalhar com o Governo Federal para chegar à raiz deste infeliz incidente”, acrescentou.
Reacção das forças de segurança
O exército nigeriano não emitiu uma declaração directa, mas rotulou os relatos de soldados a disparar sobre manifestantes como “notícias falsas” no Twitter.
Diante da intensificação dos protestos contra a SARS, Sanwo-Olu tinha anunciado recolher obrigatório indefinido, desde terça-feira à tarde, na cidade de oito milhões de habitantes, depois de ter afirmado que as manifestações tinham sido “capturadas por criminosos”.
O chefe da Polícia ordenou também que unidades anti-motim fossem destacadas para todo o país. Fotografias e vídeos sobre o episódio foram partilhados nas redes sociais.
“São cinco da manhã, e ainda estamos a receber chamadas das pessoas em Lekki. Durante toda a noite, alguns esconderam-se ali perto, outros foram feridos e entraram em pânico”, disse no Twitter o podcaster nigeriano Feyikemi Abudu, que tem estado activamente envolvido nos protestos.
Repercussão internacional
O candidato presidencial americano Joe Biden exortou o presidente e os militares “a cessarem a violenta repressão contra os manifestantes na Nigéria, que já resultou em várias mortes”.
“Os Estados Unidos devem manter-se ao lado dos nigerianos que se manifestam pacificamente a favor da reforma da Polícia e procuram pôr fim à corrupção na sua democracia”, disse Biden numa declaração.
“Encorajo o governo a iniciar um diálogo de boa-fé com a sociedade civil, para abordar estas queixas de longa data e trabalhar em conjunto para uma Nigéria mais justa e inclusiva”.
Várias celebridades apoiaram os manifestantes no apelo para a demissão do Presidente Muhammadu Buhari. Até terça-feira, ao menos 18 pessoas tinham morrido nas manifestações. Os protestos têm sido marcados pela indignação contra crimes policiais e por amplas exigências da juventude por mudanças radicais na nação mais populosa de África.
Esta é a noite mais dura das nossas vidas, uma vez que forças fora do nosso controlo directo moveram-se para manchar com tons sombrios a nossa História”, disse Sanwo -Olu no Twitter