Um debate menos tenso
Com novas regras de organização, Donald Trump e Joe Biden apresentaram os últimos argumentos no frente-a-frente para corrida a Casa Branca. No dia 3 de Novembro, os americanos escolhem entre republicanos e democratas quem dirige a Nação
O segundo e último debate entre o Presidente Donald Trump e o candidato democrata nomeado, Joe Biden, realizado na madrugada de ontem em Angola (noite de quinta-feira nos Estados Unidos), aconteceu num cenário de quase 38 milhões de eleitores, que, há onze dias do escrutínio, já votaram antecipadamente e por correio. Os estados do Texas e Vermont atingiram cerca de 50 por cento dos eleitores que votaram, comparado com as eleições de 2016, e Nova Jérsia, Geórgia, Novo México e Montana estão em cerca de 40 por cento.
Sem possibilidade de alterar as opções feitas por aqueles que já votam por correio ou antecipadamente, o debate à madrugada de ontem, na Universidade de Belmont, em Nashville, Estado do Tennessy, foi histórico, por ter obrigado a comissão organizadora a cortar os microfones de cada candidato por instantes, enquanto um respondia às questões da moderadora Kristen Welker, jornalista correspondente da NBC News na Casa Branca.
Tudo para evitar interrupções de raciocínio, tal como aconteceu no primeiro debate, em que o candidato republicano, Donald Trump, interrompeu várias vezes o oponente democrata, Joe Biden, com insultos e ataques pessoais. Mas, no debate de hora e meia, sem interrupções para comerciais, ficou salvaguardada a possibilidade de réplica de uns segundos em cada tema. Sobre a mesa, estavam como tópicos a luta contra a Covid-19, as famílias americanas, questões raciais, alterações climáticas, segurança nacional e liderança. Donald Trump regressava ao frente-a-frente depois de ficar curado da Covid-19 e de uma presença, em formato diferente, num canal de televisão para apresentar o seu programa de Governo, tal como o fez Joe Biden, em simultâneo, numa outra estação de televisão.
Ontem, o primeiro a responder foi Trump e, novamente, o Coronavírus foi o primeiro tópico do debate eleitoral presidencial. “Temos uma vacina pronta dentro de semanas”, começava Trump, num debate que, além de ter servido para reafirmar propostas de campanha, não dispensou os ataques pessoais.
E foi o Presidente Trump quem abriu as hostilidades, acusando Biden de receber 3,5 milhões de dólares de amigos da Rússia. “Quando eras Vice-Presidente da Administração Obama, os russos pagaram-te muito dinheiro. Os e-mails revelam isso. E isso tem de ser explicado ao povo americano”, disse.
Joe Biden preferiu começar pelos números da Covid 19 e acusou o oponente de não ter um plano contra a pandemia. Em relação às acusações de suborno, Joe Biden negou que tenha recebido dinheiro de russos e, no contra-ataque, afirmou que Donald Trump, além de evasão fiscal, tem contas em bancos da China, onde tem empresas a operar.
Estas acusações dominaram grande parte do debate presidencial. A maior surpresa foi o comportamento calmo de Donald Trump, depois da confusão que dominou o primeiro debate. Quem a dada altura do debate parecia mais tenso era Joe Biden, que chegou a fazer interjeições de desacordo, enquanto o adversário estava no uso da palavra. Cada candidato teve dois minutos para responder cada questão. As novas regras de intervenção, com direito a microfone no silêncio enquanto um falava, trouxeram a calma ao debate.
O que propõem?
Donald Trump reiterou a promessa de reduzir os níveis de tropas americanas no exterior, ao mesmo tempo que continua a investir nas forças armadas. O Presidente diz que continuará a desafiar as alianças internacionais e manter as tarifas comerciais para a China.
Joe Biden prometeu melhorar as relações com os aliados dos EUA. O candidato nomeado pelos democratas diz que acabaria com as tarifas unilaterais sobre a China e, em vez disso, faria uma coligação internacional com o país asiático.
Donald J. Trump pretende criar uma equipa de trabalho no final de Janeiro próximo, que se vai concentrar em “assegurar e abrir o país.” Promete ainda periodizar a busca por uma vacina para a cura da Covid-19, aplicando 10 biliões de dólares no projecto.
Joe Biden pretende criar um programa nacional de rastreamento de contactos, estabelecer, pelo menos, dez centros de testes em cada Estado e fornecer testes de coronavírus gratuitos para todos. Biden promete máscaras para todo o país, cujo uso em instituições federais seria obrigatório.
Trump é um céptico em relação às mudanças climáticas, mas pretende expandir projectos sobre energias não renováveis. O republicano tem como objectivo aumentar a perfuração de petróleo e gás e reduzir ainda mais a protecção ambiental. Trump compromete-se a retirar o país do acordo sobre o clima de Paris - o acordo internacional para enfrentar as mudanças climáticas. Os EUA prometem formalmente deixá-lo no final deste ano.
Biden diz que voltaria imediatamente ao acordo climático de Paris se fosse eleito. O democrata quer que os EUA atinjam emissões líquidas de zero até 2050 e propõe a proibição de novos arrendamentos para perfuração de petróleo e gás em terras públicas, bem como um investimento de dois triliões em energias verdes.
O Presidente Trump prometeu criar dez milhões de empregos em dez meses e um milhão de novas pequenas empresas. Trump quer reduzir o imposto de renda e fornecer às empresas créditos fiscais para incentivá-las a manter empregos nos EUA.
Biden quer aumentar os impostos para quem tem renda alta, para pagar investimentos em serviços públicos, mas diz que o aumento só afectará aqueles que ganham mais de 400.000 dólares por ano. O democrata apoia o aumento do salário mínimo federal para 15 dólares por hora, contra os actuais 7,25.
Trump quer revogar o Affordable Care Act (ACA), aprovado pela Administração Obama, que aumentou a regulamentação do Governo federal do sistema de seguro de saúde privado, incluindo a proibição de negar cobertura para pessoas com condições médicas pré-existentes.
O republicano diz que quer melhorá-lo e substituí-lo, embora nenhum detalhe do plano tenha sido publicado. O Presidente também pretende baixar o preço dos medicamentos, ao permitir a importação de fármacos mais baratos do exterior.
Biden quer proteger e expandir a ACA. O senador de Delaware projecta reduzir a idade de elegibilidade para o Medicare, a apólice que fornece benefícios médicos para os idosos, de 65 para 60 anos. Também deseja dar a todos os americanos a opção de se inscreverem num plano de seguro de saúde público semelhante ao Medicare.
O republicano diz que quer melhorá-lo e substituí-lo, embora nenhum detalhe do plano tenha sido publicado. O Presidente também pretende baixar o preço dos medicamentos, ao permitir a importação de fármacos mais baratos do exterior