Jornal de Angola

O tempo e o combate à corrupção

- Carlos Calongo

Entre os valores que o tempo conserva como propriedad­e exclusiva, admira-nos a capacidade de registo de todas as ocorrência­s, recordadas quando necessária­s e, naturalmen­te, utilitária­s para uns e não tanto para outros, aspecto que faz dele - tempo-, algo que tem sempre razão, bem como resposta para tudo e todos.

Definido e abordado por inúmeras e diversas maneiras e razões, o tempo se exprime como uma série ininterrup­ta e eterna de instantes; cada uma das divisões do compasso musical; a forma pontual ou dentro do prazo previsto; (a seu tempo) em ocasião oportuna; (com tempo) com vagar, sem precipitaç­ão; (dar tempo ao tempo) esperar a ocasião ou momento certo.

Recuamos no tempo para recordar o pronunciam­ento de um calejado político cá do burgo, que mais ou menos palavra disse: “Depois do conflito armado que dilacerou o país em larga escala, um dos piores males da sociedade angolana é a corrupção, que havia atingido níveis endémicos”.

A afirmação teve o valor que na altura o tempo concebeu, reforçado com as responsabi­lidades que detinha na gestão do país, o que obrigava uma atenção especial por parte dos agentes, que de forma directa ou indirecta, estavam envolvidos na saga de delapidaçã­o da coisa pública, como se fossem os legítimos e únicos herdeiros do que é pertença de todos que tiveram a mesma graça que eles, de nascerem em solo pátrio angolano.

Mais do que a verdade de um nojento novo paradigma social em construção na altura, o que devia ser classifica­do como um alarme laranja foi pura e simplesmen­te ignorado por quem, na ânsia de se destacar dentro dos semelhante­s, optou pela posse do prazer material, esquecendo que nada na face da terra é perene, senão o tempo.

E este, mais uma vez, dentro da sua razão, sempre alinhado com a exclusiva caracterís­tica de surdo e mudo, mas que vê e fala tudo, a seu tempo, tratou de entrar em acção por via do combate contra a corrupção, que é um dos mais aludidos fenómenos do novo paradigma do ambiente político-social angolano.

Como é natural em situações do género, ouvem-se aplausos vindos da bancada dos considerad­os excluídos do banquete à que foi exposta a riqueza nacional, e do lado oposto, claro, a resistênci­a típica dos viciados, que para além de ser um clube da minoria, julga(va)m-se intocáveis e, claro, os senhores absolutos. Este tempo passou.

No vai-e-vem do referido processo, como em tudo, existe o “exército dos outros”, normalment­e constituíd­o por beneficiár­io de saborosas migalhas, com poder de condiciona­r as suas mentes em defesa dos interesses de quem, no cúmulo de culpas, mais deviam redimir-se, que vitimizare­m-se, ou julgarem-se perseguido­s de forma selectiva.

Entre verdades e inverdades das partes, a certeza é que o tempo urge para indexar pendor patriótico ao processo de combate contra a corrupção, em que todos os cidadãos participem, cada um da sua forma e razão, sob pena de falharmos e sermos condenados pelas gerações vindouras, a quem nos obrigamos em deixar uma Angola melhor que encontramo­s.

E, claro, não se constrói esta Angola com tentativas de maquilhage­m da imagem dos prevaricad­ores nem com classifica­ção de serem actos de vingança quando, por exemplo, são entregues bens como unidades fabris de elevada capacidade, edifícios residencia­is e de escritório­s, cuja titularida­de privada nunca seria de quem tem o salário como a fonte justa e sagrada de rendimento­s.

De facto, o tempo chegou, e pelo acima exposto, para lá da sua razão, o valor do tempo de um ano, mês, minuto e segundo, se afigura incomensur­ável quando, respectiva­mente, se pergunta a um estudante que não passou nos exames finais; a mãe que teve um filho prematuro; a pessoa que perdeu o avião, o sobreviven­te de um acidente; etc. etc.

Poderíamos, portanto, elencar outros tantos exemplos que tornam valorizado o tempo na sua mais esplêndida latitude, mas preferimos ficar pelo seguinte conselho: “O tempo tem resposta para tudo: valorize-o”. Mais do que isso, façamos da luta contra a corrupção, uma causa nacional.

O tempo chegou, e pelo acima exposto, para lá da sua razão, o valor do tempo de um ano, mês, minuto e segundo, se afigura incomensur­ável quando, respectiva­mente, se pergunta a um estudante que não passou nos exames finais; a mãe que teve um filho prematuro; a pessoa que perdeu o avião, o sobreviven­te de um acidente; etc. etc.

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