O tempo e o combate à corrupção
Entre os valores que o tempo conserva como propriedade exclusiva, admira-nos a capacidade de registo de todas as ocorrências, recordadas quando necessárias e, naturalmente, utilitárias para uns e não tanto para outros, aspecto que faz dele - tempo-, algo que tem sempre razão, bem como resposta para tudo e todos.
Definido e abordado por inúmeras e diversas maneiras e razões, o tempo se exprime como uma série ininterrupta e eterna de instantes; cada uma das divisões do compasso musical; a forma pontual ou dentro do prazo previsto; (a seu tempo) em ocasião oportuna; (com tempo) com vagar, sem precipitação; (dar tempo ao tempo) esperar a ocasião ou momento certo.
Recuamos no tempo para recordar o pronunciamento de um calejado político cá do burgo, que mais ou menos palavra disse: “Depois do conflito armado que dilacerou o país em larga escala, um dos piores males da sociedade angolana é a corrupção, que havia atingido níveis endémicos”.
A afirmação teve o valor que na altura o tempo concebeu, reforçado com as responsabilidades que detinha na gestão do país, o que obrigava uma atenção especial por parte dos agentes, que de forma directa ou indirecta, estavam envolvidos na saga de delapidação da coisa pública, como se fossem os legítimos e únicos herdeiros do que é pertença de todos que tiveram a mesma graça que eles, de nascerem em solo pátrio angolano.
Mais do que a verdade de um nojento novo paradigma social em construção na altura, o que devia ser classificado como um alarme laranja foi pura e simplesmente ignorado por quem, na ânsia de se destacar dentro dos semelhantes, optou pela posse do prazer material, esquecendo que nada na face da terra é perene, senão o tempo.
E este, mais uma vez, dentro da sua razão, sempre alinhado com a exclusiva característica de surdo e mudo, mas que vê e fala tudo, a seu tempo, tratou de entrar em acção por via do combate contra a corrupção, que é um dos mais aludidos fenómenos do novo paradigma do ambiente político-social angolano.
Como é natural em situações do género, ouvem-se aplausos vindos da bancada dos considerados excluídos do banquete à que foi exposta a riqueza nacional, e do lado oposto, claro, a resistência típica dos viciados, que para além de ser um clube da minoria, julga(va)m-se intocáveis e, claro, os senhores absolutos. Este tempo passou.
No vai-e-vem do referido processo, como em tudo, existe o “exército dos outros”, normalmente constituído por beneficiário de saborosas migalhas, com poder de condicionar as suas mentes em defesa dos interesses de quem, no cúmulo de culpas, mais deviam redimir-se, que vitimizarem-se, ou julgarem-se perseguidos de forma selectiva.
Entre verdades e inverdades das partes, a certeza é que o tempo urge para indexar pendor patriótico ao processo de combate contra a corrupção, em que todos os cidadãos participem, cada um da sua forma e razão, sob pena de falharmos e sermos condenados pelas gerações vindouras, a quem nos obrigamos em deixar uma Angola melhor que encontramos.
E, claro, não se constrói esta Angola com tentativas de maquilhagem da imagem dos prevaricadores nem com classificação de serem actos de vingança quando, por exemplo, são entregues bens como unidades fabris de elevada capacidade, edifícios residenciais e de escritórios, cuja titularidade privada nunca seria de quem tem o salário como a fonte justa e sagrada de rendimentos.
De facto, o tempo chegou, e pelo acima exposto, para lá da sua razão, o valor do tempo de um ano, mês, minuto e segundo, se afigura incomensurável quando, respectivamente, se pergunta a um estudante que não passou nos exames finais; a mãe que teve um filho prematuro; a pessoa que perdeu o avião, o sobrevivente de um acidente; etc. etc.
Poderíamos, portanto, elencar outros tantos exemplos que tornam valorizado o tempo na sua mais esplêndida latitude, mas preferimos ficar pelo seguinte conselho: “O tempo tem resposta para tudo: valorize-o”. Mais do que isso, façamos da luta contra a corrupção, uma causa nacional.
O tempo chegou, e pelo acima exposto, para lá da sua razão, o valor do tempo de um ano, mês, minuto e segundo, se afigura incomensurável quando, respectivamente, se pergunta a um estudante que não passou nos exames finais; a mãe que teve um filho prematuro; a pessoa que perdeu o avião, o sobrevivente de um acidente; etc. etc.