Polícia nega mortes nas manifestações
O comandante provincial de Luanda da Polícia Nacional, comissáriochefe Eduardo Cerqueira, desmentiu a existência de mortes durante os protestos realizados, ontem, na capital do país. Eduardo Cerqueira confirmou que houve o registo de feridos, cujo número não indicou. Anunciou, por outro lado, a detenção de alguns indivíduos por atearem fogo numa bomba de combustível da Pumangol, no distrito urbano do Benfica.
Dezenas de jovens, entre eles activistas sociais, saíram, ontem, às ruas de Luanda, para tentar protestar contra o aumento do custo de vida.
A tentativa de manifestação foi frustrada pela Polícia Nacional, por não ter sido autorizada pelo Governo da Província de Luanda e por violar os termos do Decreto Presidencial sobre a Situação de Calamidade Pública, em vigor no país.
Ao abrigo do Decreto Presidencial, estão proibidos ajuntamentos na via pública com mais de cinco pessoas, por forma a prevenir eventuais contaminações em massa do novo coronavírus.
Conforme as autoridades da capital do país, além desta imposição do Decreto, não estavam reunidos, da parte dos promotores, alguns pressupostos legais para a manifestação.
Apesar destas razões evocadas pelo Governo Provincial de Luanda, os jovens tentaram, com vários grupos de mais de cinco pessoas, concentrar-se na zona do cemitério da Santa Ana. O ponto de chegada seria o 1º de Maio, onde pretendiam ler um manifesto.
Na Avenida Deolinda Rodrigues (Estrada de Catete), a Polícia Nacional dispersou os manifestantes, particularmente nas zonas da FTU e BCA. Em protesto, alguns jovens procuraram bloquear as vias, queimando pneus e contentores de lixo. Houve, inclusive, arremesso de pedras contra as Forças da Ordem e Segurança.
Muitos taxistas viram-se impedidos de realizar a sua actividade de forma normal, tendo em conta que as barreiras montadas pelos agentes de trânsito impediam o acesso à zona da FTU, uma situação que deixou muitos cidadão insatisfeitos.
Na essência, os manifestantes tentavam protestar contra o aumento dos índices de desemprego e a subida do preço dos produtos essenciais, situações que dizem agudizar-se desde o surgimento da Covid-19. Os jovens exigem, igualmente, que o Presidente
da República indique uma data concreta para a realização das autarquias, cujo pacote legislativo ainda não foi concluído no Parlamento.
Esta foi a segunda manifestação dos jovens da sociedade civil frustrada pela Polícia, em menos de 20 dias, depois da tentativa de 24 de Outubro último.
Situação semelhante ocorreu na cidade de Benguela, onde trinta jovens pretendiam participar de uma manifestação, não autorizada pelas autoridades locais, e foram impedidos pelos efectivos da Polícia Nacional.
Os manifestantes tentavam concentrar-se defronte à escola do II ciclo, Liceu Comandante Kassanji, a partir das 11 horas, onde partiriam para percorrer algumas artérias da cidade.
Reacção da Polícia
O comandante provincial de Luanda da Polícia Nacional, comissário-chefe Eduardo Cerqueira, disse, ontem, em conferência de imprensa, que durante a tentativa de manifestação não houve mortes e um cidadão que ficou ferido está a ser assistido no Hospital Américo Boavida.
A Polícia, acrescentou, deteve um indivíduo que ateou fogo nas bombas da Pumangol, no Benfica, que não se alastrou, devido à pronta intervenção.
Foram também detidos dois indivíduos que estavam com dois pneus e pretendiam atear fogo numa bomba de combustível na Avenida Pedro de Castro Van-Dúnen Loy.
Outros três elementos foram detidos por posse de estupefaciente (liamba), por danificação de vidro de uma viatura e por mandado de captura, por roubo.
Segundo o comissáriochefe Eduardo Cerqueira, durante a tentativa de manifestação vários cidadãos foram recolhidos e posteriormente restituídos à liberdade.
A Polícia desmente informações segundo as quais foram usadas balas reais para dispersar os manifestantes, acrescentando que houve dois jornalistas que foram interpelados, conduzidos à esquadra e, depois de identificados, mandados embora.
(*) Com Angop