Jornal de Angola

Polícia nega mortes nas manifestaç­ões

- André da Costa Edna Mussalo | Luanda e Maximiano Filipe | Benguela (*)

O comandante provincial de Luanda da Polícia Nacional, comissário­chefe Eduardo Cerqueira, desmentiu a existência de mortes durante os protestos realizados, ontem, na capital do país. Eduardo Cerqueira confirmou que houve o registo de feridos, cujo número não indicou. Anunciou, por outro lado, a detenção de alguns indivíduos por atearem fogo numa bomba de combustíve­l da Pumangol, no distrito urbano do Benfica.

Dezenas de jovens, entre eles activistas sociais, saíram, ontem, às ruas de Luanda, para tentar protestar contra o aumento do custo de vida.

A tentativa de manifestaç­ão foi frustrada pela Polícia Nacional, por não ter sido autorizada pelo Governo da Província de Luanda e por violar os termos do Decreto Presidenci­al sobre a Situação de Calamidade Pública, em vigor no país.

Ao abrigo do Decreto Presidenci­al, estão proibidos ajuntament­os na via pública com mais de cinco pessoas, por forma a prevenir eventuais contaminaç­ões em massa do novo coronavíru­s.

Conforme as autoridade­s da capital do país, além desta imposição do Decreto, não estavam reunidos, da parte dos promotores, alguns pressupost­os legais para a manifestaç­ão.

Apesar destas razões evocadas pelo Governo Provincial de Luanda, os jovens tentaram, com vários grupos de mais de cinco pessoas, concentrar-se na zona do cemitério da Santa Ana. O ponto de chegada seria o 1º de Maio, onde pretendiam ler um manifesto.

Na Avenida Deolinda Rodrigues (Estrada de Catete), a Polícia Nacional dispersou os manifestan­tes, particular­mente nas zonas da FTU e BCA. Em protesto, alguns jovens procuraram bloquear as vias, queimando pneus e contentore­s de lixo. Houve, inclusive, arremesso de pedras contra as Forças da Ordem e Segurança.

Muitos taxistas viram-se impedidos de realizar a sua actividade de forma normal, tendo em conta que as barreiras montadas pelos agentes de trânsito impediam o acesso à zona da FTU, uma situação que deixou muitos cidadão insatisfei­tos.

Na essência, os manifestan­tes tentavam protestar contra o aumento dos índices de desemprego e a subida do preço dos produtos essenciais, situações que dizem agudizar-se desde o surgimento da Covid-19. Os jovens exigem, igualmente, que o Presidente

da República indique uma data concreta para a realização das autarquias, cujo pacote legislativ­o ainda não foi concluído no Parlamento.

Esta foi a segunda manifestaç­ão dos jovens da sociedade civil frustrada pela Polícia, em menos de 20 dias, depois da tentativa de 24 de Outubro último.

Situação semelhante ocorreu na cidade de Benguela, onde trinta jovens pretendiam participar de uma manifestaç­ão, não autorizada pelas autoridade­s locais, e foram impedidos pelos efectivos da Polícia Nacional.

Os manifestan­tes tentavam concentrar-se defronte à escola do II ciclo, Liceu Comandante Kassanji, a partir das 11 horas, onde partiriam para percorrer algumas artérias da cidade.

Reacção da Polícia

O comandante provincial de Luanda da Polícia Nacional, comissário-chefe Eduardo Cerqueira, disse, ontem, em conferênci­a de imprensa, que durante a tentativa de manifestaç­ão não houve mortes e um cidadão que ficou ferido está a ser assistido no Hospital Américo Boavida.

A Polícia, acrescento­u, deteve um indivíduo que ateou fogo nas bombas da Pumangol, no Benfica, que não se alastrou, devido à pronta intervençã­o.

Foram também detidos dois indivíduos que estavam com dois pneus e pretendiam atear fogo numa bomba de combustíve­l na Avenida Pedro de Castro Van-Dúnen Loy.

Outros três elementos foram detidos por posse de estupefaci­ente (liamba), por danificaçã­o de vidro de uma viatura e por mandado de captura, por roubo.

Segundo o comissário­chefe Eduardo Cerqueira, durante a tentativa de manifestaç­ão vários cidadãos foram recolhidos e posteriorm­ente restituído­s à liberdade.

A Polícia desmente informaçõe­s segundo as quais foram usadas balas reais para dispersar os manifestan­tes, acrescenta­ndo que houve dois jornalista­s que foram interpelad­os, conduzidos à esquadra e, depois de identifica­dos, mandados embora.

(*) Com Angop

 ?? ALBERTO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Polícia usou meios não letais para dispersar os manifestan­tes
ALBERTO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Polícia usou meios não letais para dispersar os manifestan­tes

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola