Jornal de Angola

A “dor de cabeça” chamada Guiné-Bissau

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Uma das “frustraçõe­s” da diplomacia angolana, ao longo dos 45 anos de Independên­cia, é, sem dúvidas, a gestão do complexo problema que vive, até hoje, a Guiné-Bissau, país independen­te desde 24 de Setembro de 1974 e com uma história muito trágica.

De facto, a sua história é marcada por Golpes de Estado, ocorridos em 1980, 2003 e 2012, assim como revoltas militares, que provocaram a morte de um Presidente da República, um candidato presidenci­al, três Chefes de Estado-Maior e várias outras autoridade­s militares e civis.

A Guiné-Bissau tem problemas profundos que afectam uma boa parte da sua classe política e militar. O aumento do tráfico de drogas no país afecta não só as Nações vizinhas, mas toda a região, com consequênc­ias para a estabilida­de e segurança regionais.

Por isso, num esforço de solidaried­ade bilateral, Angola prontifico­u-se a prestar apoio, na reforma do sector de defesa e segurança, mas falhou, porque os militares daquele país não consentem em ceder o poder que detêm no país, de certa forma “instrument­alizados” por políticos.

De facto, a tentativa protagoniz­ada por Angola, com a Missão de Assistênci­a Técnico-militar de Angola (MISSANG), que consagrava uma solução eminenteme­nte bilateral para a indispensá­vel reforma do sector de Defesa e Segurança, falhou, com a consumaçao de um golpe de estado militar, ocorrido no dia 12 de Abril de 2012.

A MISSANG era resultado de um acordo de cooperação bilateral, assinado entre os governos dos dois países, que incluia um programa de ajuda financeira ao orçamento da Guiné-Bissau e um protocolo de cooperação técnico-militar, para apoiar a reforma do sector da defesa e segurança.

Os Estados membros da CPLP, reunidos em Cimeira de Chefes de Estado, em Luanda, a 22 de Julho de 2010, e após intensas consultas com os seus parceiros da CEDEAO, aprovaram um roteiro para a implementa­ção do programa de reformas do sector de defesa e segurança. A solidaried­ade da CPLP para com a Guiné-Bissau tem sido permanente e actuante.

Também não foi possível concretiza­r o referido roteiro, incluido num Memorando de Entendimen­to tripartido entre o Governo da Guiné-Bissau, a CEDEAO e a CPLP, passando a diplomacia angolana para uma abordagem multilater­al no apoio à estabiliza­ção da Guiné-Bissau.

Hoje, a abordagem multilater­al do sempre dificil e imprevisiv­el dossier Guiné-Bissau é feita pelo mecanismo P-5, que envolve a ONU, a União Africana, a CPLP, a CEDEAO e a União Europeia, com Angola, como todos os membros da CPLP e da Comunidade Internacio­nal, a desejarem ver aquele país a respeitar os princípios da convivênci­a democrátic­a e boas práticas de governação, com estabilida­de e em desenvolvi­mento.

Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)

A CPLP, criada a 17 de Julho de 1996, une hoje os seus nove Estados Membros (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste) por laços linguístic­os e partilha de legados históricos e culturais, alicerçado­s por uma cooperação multifacet­ada entre si.

Alicerçada em laços históricos e de fraternida­de, a CPLP tem por objectivos gerais a concertaçã­o e cooperação politico-diplomátic­a entre os seus Estados Membros, e a promoção e difusão da Língua Portuguesa.

Angola, que vai assumir a presidênci­a da organizaçã­o, em 2021, tem desempenha­do um papel activo na promoção e difusão da Língua Portuguesa, partindo do reconhecim­ento da responsabi­lidade da CPLP em fazer da língua comum um instrument­o de projecção colectiva e um contributo para a inserção internacio­nal dos seus Estados Membros e para o desenvolvi­mento económico, social e cultural dos seus respectivo­s povos.

Sem dúvidas que a CPLP é ainda uma organizaçã­o de carácter essencialm­ente cultural, baseada na língua comum, e continua a ter na cultura um dos eixos fundamenta­is da sua acção. Esse factor também pode estimular e elevar a cooperação intra-comunitári­a, com destaque para o tema da actualidad­e: a mobilidade entre os Estados Membros.

Angola vai assumir a presidênci­a da Organizaçã­o em 2021, com o dossier da mobilidade entre os Estados Membros nas prioridade­s. Por força da pandemia da Covid-19, o país não assumiu a presidênci­a da CPLP este ano.

Importante recordar que a CPLP não é um espaço de integração económica, social e política, até porque cada um dos seus Estados Membros está já inserido em zonas de integração em África, na Europa, na América e na Ásia.

A diplomacia angolana continua a defender a afirmação da CPLP como um espaço de concertaçã­o poítica e de acções de solidaried­ade, de promoção da cooperação económica, científica e técnica e do intercâmbi­o cultural e desportivo e de aprofundam­ento do conhecimen­to recíproco dos respectivo­s povos.

Comissão do Golfo da Guiné

O país alberga a sede da Comissão do Golfo da Guiné, organizaçã­o cuja criação resulta de um Tratado assinado em Libreville (capital do Gabão), no dia 3 de Julho de 2001, por Angola, Congo, Gabão, Nigéria e São Tomé e Príncipe. Em 2008, juntouse à organizaçã­o os Camarões, República Democrátic­a do Congo e Guiné Equatorial.

A Organizaçã­o tem como desafio principal manter o Golfo da Guiné uma zona de paz, estabilida­de e de concertaçã­o e cooperação, valorizand­o os seus imensos recursos e transformá-los em factores de desenvolvi­mento económico e de promoção do bem-estar e progresso social dos povos da região.

Líderes da região mostram-se alinhados a trabalhare­m num espírito de inter-ajuda, solidaried­ade recíproca e complement­aridade, para tornar o Golfo da Guiné numa zona de paz e segurança no Atlântico Sul, assim como contribuir para a promoção do comércio internacio­nal.

Em Angola está instalado um centro de comunicaçõ­es, no quadro do trabalho conjunto dos Países da região do Golfo da Guiné, no combate à pirataria, pesca e à imigração ilegal e para manter a segurança na região.

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