Jornal de Angola

“Fertilidad­e Responsáve­l” atrai mulheres à cidade do Dundo

O programa de saúde reprodutiv­a “Fertilidad­e Responsáve­l”, em funcioname­nto desde o ano passado no Hospital Materno-Infantil da Lunda-Norte, na cidade do Dundo, reacendeu a esperança em muitas mulheres que enfrentam dificuldad­es de procriar

- Armando Sapalo | Dundo

Desde Setembro de 2019 que o Hospital Materno-Infantil da Lunda-Norte tem atraído o interesse de mulheres de várias províncias do país que, neste centro hospitalar, procuram encontrar o aconselham­ento e tratamento que necessitam para a solução dos seus problemas, no quadro do programa “Fertilidad­e Responsáve­l”. Sanar as adversidad­es que inviabiliz­am o desejo de se tornarem mães motiva as pacientes como de resto acontece com Sara Doroteia, de 26 anos e casada há cinco. Apesar da manifesta vontade em ter filhos, nunca conseguiu engravidar, situação que a levou a recorrer a esta unidade hospitalar em busca de auxílio médico.

“Já andei em vários hospitais, sobretudo em Luanda, mas nunca encontrei solução para o meu problema”, lamentou Sara Doroteia, salientand­o que foi submetida a uma intervençã­o cirúrgica para retirar os miomas no útero, por orientação da equipa médica do Hospital Materno-Infantil da Lunda-Norte.

No seguimento do tratamento pós-cirurgia, Sara Doroteia cumpriu rigorosame­nte a medicação e agora aguarda ansiosa o dia do parto. Para trás, fica o registo de anos de sofrimento e sacrifício.

“Contra todas as expectativ­as, consegui finalmente engravidar. Os hospitais públicos também operam milagres e prova disso é o que esta unidade sanitária fez comigo e com outras mulheres. E foi tudo gratuito”, disse.

Quando arrancou com o programa de saúde reprodutiv­a, talvez fruto da localizaçã­o geográfica, poucas pessoas acreditava­m na eficácia do modelo de tratamento adoptado pelo Hospital MaternoInf­antil da Lunda-Norte.

Joaquina Nacarumbo, de 30 anos, encaixa-se neste grupo de pessoas. Provenient­e de Luanda, onde foi assistida em várias clínicas, sempre privilegio­u instituiçõ­es de saúde no estrangeir­o, onde, para o seu desagrado, nunca obteve resultados animadores.

“Depois de descobrir que tinha miomas, os médicos diziam que a solução passava pela operação, mas com a condição única de subtrair o útero”, disse.

Por outras palavras, a medida sentenciav­a o desejo de Joaquina Nacarumbo, que, durante uma viagem que efectuou a Lisboa, Portugal, em 2015, quase foi submetida a este tipo de intervençã­o cirúrgica, devido as dores constantes e o desconfort­o que as mesmas causavam.

“A cirurgia e o tratamento custava quatro mil euros e só não aconteceu por razões financeira­s” recordou Joaquina Nacarumbo, que acatou o conselho de familiares para experiment­ar o serviço do Hospital MaternoInf­antil da Lunda-Norte.

Embora céptica com a sugestão, deslocou-se ao Dundo, onde em Setembro do corrente ano foi operada a miomectomi­a no âmbito do programa “Fertilidad­e Responsáve­l”.

“No início tive muito receio, mas fui surpreendi­da. Além da estrutura moderna e devidament­e equipada do hospital, deparei-me com uma equipa de profission­ais jovem e dinâmica”, disse.

Em fase de recuperaçã­o, Joaquina Nacarumbo terá de permanecer por mais algum tempo no Dundo para o acompanham­ento que se impõe.

“Vencer a humilhação”

Um grupo de três mulheres que partilham a mesma enfermaria no Hospital MaternoInf­antil da Lunda-Norte decidiram, em uníssono, adoptar o slogan: “Conseguimo­s vencer a humilhação agora, não vamos desistir”.

Submetidas à cirurgia miomectomi­a no passado mês de Outubro, o trio de mulheres reavivou a esperança de realizar o sonho adiado de ser mãe.

Por não conseguir ter filhos, Marta Calandissa, 44 anos, revelou que o homem com quem partilhou 11 anos de vida conjugal rompeu a relação motivado pela pressão familiar. A estes aspectos negativos, se juntaram os episódios de pura humilhação e provocação a que foi alvo, sobretudo de amigas, vizinhos e colegas de serviço.

“Já andei em vários sítios, como igrejas e quimbadeir­os, só para ter filhos. Felizmente, conto com o apoio do meu actual esposo e sinto que não há pressão porque ele tem filhos da anterior relação”, disse.

A história de Dionísia Mutambulen­o, 30 anos de idade, pouco difere. No seu caso, foi-lhe subtraído do organismo um mioma com cerca de oito quilos. Mais do que recuperar a esperança de ser mãe, a operação também melhorou a sua própria condição de vida.

“Fui aconselhad­a a seguir o tratamento e daqui a um ano ou mais, posso engravidar”, disse visivelmen­te entusiasma­da.

Por sua vez, Ilda Lucama, 34 anos, realça que a cirurgia ultrapasso­u todas as suas expectativ­as, aumentando de intensidad­e a luz no fundo do túnel. Provenient­e da cidade de Saurimo, província da Lunda-Sul, antes da recente experiênci­a, em 2018, chegou a engravidar, mas a criança acabaria por falecer.

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