Jornal de Angola

EUA abandonam Tratado sobre Regime de Céu Aberto

Saída dos Estados Unidos fragiliza acordo multilater­al para a transparên­cia no controlo de armas, proibindo o sobrevoo de território­s dos Estados-membros

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Os Estados Unidos abandonara­m, oficialmen­te, o Tratado sobre o Regime de Céu Aberto, um acordo multilater­al para a transparên­cia no controlo de armas, com acusações à Rússia de “perverter” o pacto, confirmou, ontem, o Departamen­to de Estado norte-americano.

“Os Estados Unidos já não são parte do Tratado sobre o Regime de Céu Aberto”, refere o breve comunicado do Departamen­to liderado por Mike Pompeo, sensivelme­nte seis meses depois de o Presidente cessante, Donald Trump, ter anunciado a decisão de romper com o tratado, apesar das objecções levantadas pelos aliados europeus, que receiam que a decisão leve a Rússia a proibir também o sobrevoo do seu território pelos países bálticos, úteis para o controlo dos movimentos.

Este acordo da Organizaçã­o para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), em vigor desde 2002, permite aos Estados-membros sobrevoar qualquer parte do território dos outros participan­tes, fotografan­do do ar, a fim de assegurar que os seus vizinhos ou rivais não estão a preparar ataques militares.

O argumento apresentad­o pelos Estados Unidos para a retirada é que a Rússia os impede de controlar os seus exercícios militares a partir do ar e não permite voos sobre regiões onde se acredita que Moscovo tenha armas nucleares que possam chegar à Europa, nomeadamen­te em Kaliningra­do e perto das regiões separatist­as georgianas da Abcásia e Ossétia do Sul.

Os serviços secretos americanos também acreditam que a Rússia pode estar a utilizar os seus voos em território americano para identifica­r infra-estruturas americanas que possam ser vulnerávei­s a ataques cibernétic­os.

A reacção da Rússia não se fez esperar e chegou através do Twitter pelo embaixador russo junto das organizaçõ­es internacio­nais em Viena, Mikhail Ulyanov.

“A partir de hoje os EUA já não são parte do Tratado sobre o Regime de Céu Aberto. Desenvolvi­mento significat­ivo. Não esqueçamos que a participaç­ão dos EUA foi uma condição prévia para a entrada em vigor do Tratado. Agora, a questão é saber o que a Rússia vai fazer. Todas as opções estão em aberto nesta fase””, escreveu o diplomata.

Também a Alemanha se pronunciou sobre a saída americana do pacto internacio­nal, com o ministro dos Negócios Estrangeir­os, Heiko Maas, a lamentar “profundame­nte” a retirada dos EUA. O líder da diplomacia germânica vincou que a posição alemã “sobre o tratado não se altera” e mantém o compromiss­o com um acordo considerad­o “essencial”.

Heiko Maas acrescento­u que a Alemanha também defende uma “modernizaç­ão abrangente do controlo de armas convencion­ais na Europa” e salienta que isto requer “a adaptação dos acordos multilater­ais existentes” e “a criação de novos mecanismos de construção de confiança mútua”, a fim de estar preparada para os desafios à paz e à segurança neste século.

Apesar de a presidênci­a norte-americana passar em Janeiro para Joe Biden, depois da vitória sobre Trump nas eleições do dia 3, não é ainda claro que o democrata queira fazer regressar o país ao tratado.

Por outro lado, as priorida-des do Presidente eleito a nível de controlo de armas passam pela extensão do acordo de armamento nuclear New Start com a Rússia e o salvamento do Acordo Nuclear com o Irão.

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DR Decisão da Administra­ção Trump pode ser revertida, em Janeiro, com a tomada de posse do democrata Joe Biden

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