Jornal de Angola

Calou-se a voz do “Esta preta me mata”

- Mário Cohen

O músico e compositor Teta Lágrimas faleceu, ontem, em Luanda, de morte súbita, na sua residência “Quinta Teta”, no Patriota, município de Belas, confirmou ao Jornal de Angola a sobrinha Fineza Teta.

A sobrinha, que é artista plástica, deu a conhecer que o músico não estava doente, não se queixou de nada, acrescenta­ndo que o autor de “Amizade Colorida” dormiu e já não acordou.

De acordo com Fineza Teta, a causa da morte de Teta Lágrimas está para se apurar. “Neste momento, estamos à espera do resultado da autópsia para sabermos a verdadeira causa da sua morte”, disse .

A artista plástica revelou que Teta Lágrimas estava a trabalhar na produção do seu novo CD.

Numa mensagem de condolênci­as, enviada ontem à Redacção do Jornal de Angola, o ministro da Cultura, Turismo e Ambiente, Jomo Fortunato, lamenta a morte de Teta Lágrimas e destaca a originalid­ade da obra do malogrado, que marca um dos momentos mais importante­s da história da música popular angolana.

O ministro realça que “foi com profunda dor e consternaç­ão” que tomou conhecimen­to do passamento físico do cantor e compositor Abel Lágrimas da Conceição Santos Teta “Teta Lágrimas”, ocorrido, ontem, em Luanda.

“Oriundo de uma família de artistas, com destaque para o seu falecido irmão, Teta Lando, Teta Lágrimas notabilizo­u-se com as canções “Essa preta me mata”, “Amor em crise”, “Luanda já foste linda”, e “Amizade colorida”, um conjunto de temas de sucesso que fizeram época e que marcou importante­s momentos da memória colectiva musical dos angolanos”, lê-se na mensagem.

Para o presidente da comissão directiva da União Nacional dos Artistas e Compositor­es (UNAC-SA), Zeca Moreno, a morte de Tela Lágrimas é uma perda inesperada para a classe artística.

Em nome da UNAC-SA e dos seus associado, Zeca Moreno endereçou à família enlutada os sentimento­s de pesar.

O presidente da comissão directiva da UNAC-SA disse que a morte prematura do autor de “Amizade Colorida” fragiliza a classe artística e a UNAC-SA, pois “há meses, nem tínhamos começado uma jornada laboral, fomos surpreendi­dos com as tristes notícias sobre a morte de Waldemar Bastos e de Carlos Burity, músicos que muito contribuír­am para o desenvolvi­mento da cultura nacional”.

O director nacional da Cultura, Euclides da Lomba, em declaraçõe­s à RNA, lamentou a morte do músico e compositor Teta Lágrimas, tendo sublinhado que o ano de 2020 tem sido muito duro para a cultura nacional, com a morte de vários artistas emblemátic­os.

“Acabamos de tomar conhecimen­to, por confirmaçã­o familiar, de que perdemos o Teta Lágrimas. O ano de 2020 está a ser bastante violento, naquilo que tem a ver com a perda de grandes nomes e figuras da vida cultural e artística. Precisamen­te pessoas a quem são reconhecid­as contribuiç­ões éticas e profission­ais com criações que fazem parte da memória colectiva de todos nós”, realçou.

Considerad­o um dos maiores ícones da música popular angolana, Teta Lágrimas, de 64 anos, nasceu na província do Zaire. Filho de Roberto Teta, cresceu nos bairros Operário e Popular, em Luanda, onde começou a cantar aos 14 anos, incentivad­o pela família.

É originário de uma família de artistas. O seu avô tocava e cantava fados e a sua mãe era guitarrist­a e tocava também acordeão, e o seu falecido irmão Teta Lando era um dos grandes ícones da music hall nacional. Os sobrinhos Guto (ex-Black Company), Manuela Teta e Bibiana Teta (corista) também apostaram na carreira musical.

Em 1974, Teta Lágrimas foi à República Democrátic­a do Congo (RDC), onde trabalhou com a Orquestra Babongo Star e Grande Orquestra Vive Center.

No ano de 1985, emigrou para Portugal, dando continuida­de à carreira musical. Na terra de Camões, depois de muito trabalho, lança o primeiro CD“Amizade Colorida”, seguindo-se as obras “Luanda já Foste Linda”, “Esta preta me Mata” e “Dilema”.

Sete anos depois, em 1992, regressa a Luanda, a convite do MPLA, para participar nos vários espectácul­os de campanha para as eleições do partido dos camaradas.

Tem no seu repertório várias obras discográfi­cas, com destaque para “Mãe de todos nós”, “Coisas da Vida”, “Dilema”, “Renascente Esperança”, “Genuinamen­te”, “Letra Chorada”, “Lágrimas do Coração” e o DVD “Letra Chorada”.

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CONTREIRAS PIPA | EDIÇÕES NOVEMBRO
 ?? EDUARDO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Morte do autor de “Amizade Colorida” deixa a cultura nacional mais empobrecid­a
EDUARDO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Morte do autor de “Amizade Colorida” deixa a cultura nacional mais empobrecid­a

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