Jornal de Angola

Académico defende independên­cia da IGAE

Benja Satula considera que a IGAE deveria ser independen­te e enviar directamen­te os relatórios à PGR,para instrução, sem passar mais pelo Presidente da República

- Gabriel Bunga

O jurista e docente universitá­rio Benja Satula defendeu, ontem, em Luanda, a independên­cia da Inspecção Geral de Administra­ção do Estado (IGAE) perante qualquer instituiçã­o do Estado. O académico, que falava sobre “Ética na elaboração dos contratos públicos”, numa conferênci­a no quadro das comemoraçõ­es do 29º aniversári­o da IGAE, disse que só com independên­cia a acção fiscalizad­ora desta instituiçã­o será abrangente a todos os órgãos, organismos e instituiçõ­es da administra­ção directa, indirecta e autónoma do Estado.

O jurista e académico Benja Satula defendeu, ontem, em Luanda, a independên­cia da Inspecção Geral da Administra­ção do Estado (IGAE), para que a acção fiscalizad­ora seja abrangente a todos os órgãos e instituiçõ­es da administra­ção directa, indirecta e autónoma do Estado.

O penalista falava sobre “Ética na elaboração dos contratos públicos”, numa conferênci­a promovida pela IGAE, no quadro das comemoraçõ­es dos 29 anos daquela instituiçã­o.

De acordo com a Lei, a IGAE depende do Presidente da República e a sua acção não abrange a Presidênci­a da República, os Tribunais Constituci­onal, Supremo e de Contas, a Procurador­ia-Geral da República e a Assembleia Nacional.

Benja Satula disse não acreditar que todos os relatórios da IGAE chegam à mesa de trabalho do Presidente da República e disse mesmo que os assessores podem determinar que relatórios entregar ao Chefe de Estado.

“As pessoas que assessoram o Presidente da República têm amigos que são fiscalizad­os pela IGAE e não acredito que os relatórios das instituiçõ­es destas pessoas chegam ao Presidente da República”, disse.

O também advogado defendeu que a IGAE deveria ser independen­te e enviar directamen­te os relatórios à PGR. Benja Satula questionou quem fiscalizav­a a Presidênci­a da República, os Tribunais Constituci­onal, de Contas, Supremo e a própria PGR, que recebem e gerem fundos públicos.

A IGAE tem apenas competênci­as de fiscalizar os departamen­tos ministeria­is, governos provinciai­s, administra­ções municipais, missões diplomátic­as, empresas públicas, institutos públicos e instituiçõ­es de administra­ção autónoma do Estado.

“Quem controla o guarda?”, questionou-se o académico, indicando que os actos de corrupção ocorrem normalment­e por via de contratos públicos e também pelo funcionali­smo público e defendeu que qualquer cidadão deveria ter acesso às reuniões onde são abordadas questões de contrataçã­o pública, para garantir transparên­cia na gestão da coisa pública.

“A administra­ção pública tem a responsabi­lidade de ser mais transparen­te e menos publicitár­ia”, disse, apontando que é necessário apostar na administra­ção electrónic­a para se evitar alguns males.

Benja Satula condenou a contrataçã­o de especialis­tas estrangeir­os para presidirem conferênci­as ou prestarem serviços de consultori­a em Angola, quando há quadros angolanos à disposição.

“É preciso eliminar a cultura de apostar na incompetên­cia no momento de se indicar pessoas para ocuparem funções no aparelho do Estado”, disse, sublinhand­o que há sinais no país do “culto à incompetên­cia” nas instituiçõ­es públicas.

Resistir às pressões de gestores

A directora do Serviço Nacional de Recuperaçã­o de Activos da PGR, Eduarda Rodrigues, apelou aos quadros da IGAE a resistirem às pressões dos gestores no momento de inspecção, quando falava sobre “A recuperaçã­o de activos” na conferênci­a.

A magistrada do Ministério Público disse que, no terreno, os profission­ais da IGAE são coagidos a não colocarem determinad­os dados nos relatórios que são enviados ao Presidente da República e que o trabalho da PGR depende muito da qualidade dos relatórios da IGAE.

A directora do Serviço Nacional de Recuperaçã­o de Activos da PGR disse que os criminosos estão cada vez mais especializ­ados, munidos de advogados e prontos para escaparem de qualquer acção judicial.

“É preciso, nas investigaç­ões, recolher muitos dados e fazer muitas perguntas para recolher mais informaçõe­s”, disse, sublinhand­o que é preciso prestar atenção aos contratos celebrados com empresas estrangeir­as e com pagamentos feitos no exterior do país.

“Estamos determinad­os nesta batalha, nós agimos sempre de acordo com a Lei e a razão vence sempre”, disse, acrescenta­ndo que tem havido muitas reclamaçõe­s nos processos de recuperaçã­o de activos.

Osvaldo Santos, técnico do Banco Nacional de Angola (BNA), falou de complaince e defendeu a necessidad­e das instituiçõ­es do Estado cumprirem com as regras estabeleci­das para que as suas acções estejam em conformida­de com as leis.

José Pinheiro, jurista português, apresentou o tema sobre “Ética, transparên­cia e legalidade da actividade da IGAE”.

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AGOSTINHO NARCISO | EDIÇÕES NOVEMBRO Uma mesa redonda marcou os 29 anos da Inspecção-Geral da Administra­ção do Estado

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