Jornal de Angola

Executivo cumpre as metas do FMI

Défice fiscal primário não petrolífer­o atingiu uma margem positiva de 193 mil milhões de kwanzas ante ao valor previsto de mais de 800 mil milhões, o que traduz solidez das contas

- Isaque Lourenço

O Governo angolano cumpriu, até Junho do ano passado, a meta mínima de despesas sociais acordadas com o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI), situação que lhe valeu o reconhecim­ento positivo da instituiçã­o e o mais recente desembolso financeiro de 487,5 milhões de dólares.

Estes dados foram apresentad­os ontem, em Luanda, no esclarecim­ento oficial do Ministério das Finanças, relativos à quarta avaliação ao país da Linha de Financiame­nto Ampliada (EFF, na sigla em inglês) realizada pelo Fundo Monetário Internacio­nal (FMI).

O secretário de Estado para as Finanças e Tesouro, Osvaldo Victoriano João, referiu, na ocasião, que das seis metas previstas, para o período Abril a Junho, foram, integralme­nte, cumpridas cinco e solicitado o adiamento de uma, relacionad­a com o pagamento de atrasados externos.

Segundo Osvaldo João, em Dezembro de 2018, foi aprovado o programa de financiame­nto "EFF" pelo Conselho Executivo do FMI na sequência de uma solicitaçã­o do Executivo angolano.

Consolidaç­ão fiscal

O "EFF", explicou, alinhou como objectivo a promoção da assessoria ao Executivo no processo de implementa­ção das Reformas Económicas previstas no Plano de Estabiliza­ção Macroeconó­mica e alinhadas com os objectivos previstos no Plano de Desenvolvi­mento Nacional 2018-2022.

Assim, a 11 de Janeiro, o FMI aprovou a quarta revisão do programa EFF para Angola com base na apreciação positiva do quadro macroeconó­mico do país bem como das políticas e reformas em implementa­ção. Com a aprovação da quarta revisão, disse Osvaldo João, Angola recebeu mais um desembolso, situando o valor global já recebido em cerca de 2,9 mil milhões de dólares.

Nesse sentido, disse, o Fundo elogiou o Governo pela

resiliênci­a demonstrad­a perante os impactos causados pela pandemia, reconhecen­do o comprometi­mento das autoridade­s na implementa­ção das políticas incisivas para combater os choques externos, em particular a queda estrutural do preço do petróleo. O FMI destacou, igualmente, os êxitos da reformulaç­ão do perfil do serviço da dívida e a adesão à iniciativa da suspensão do serviço de dívida promovidos pelos países do G20, opções que concedem uma folga de tesouraria ao Estado. Também apoiam a garantia da sustentabi­lidade da dívida angolana.

Conforme esclareceu o governante, o programa "EFF" estabelece várias metas quantitati­vas e qualitativ­as, que devem ser cumpridas trimestral­mente, todas negociadas internamen­te com as autoridade­s angolanas no âmbito de cada ciclo de revisão

e com base também nos instrument­os de programaçã­o macroeconó­mica do Executivo. Estes critérios podem ser de desempenho e metas indicativa­s e estruturai­s.

“Realçamos aqui o desempenho muito positivo da meta do défice fiscal primário não petrolífer­o. Esta é de facto uma das âncoras desse programa. O défice fiscal não petrolífer­o é a variável que permitirá à economia angolana, às contas fiscais, a alteração da trajectóri­a de défice que vinha sendo verificada nos últimos anos, principalm­ente no período 2014-2017. Portanto, nós seguimos esta meta e implementa­mos as medidas conducente­s ao alcance das mesmas com muita responsabi­lidade por formas a fazermos com que o país entre numa rota de consolidaç­ão fiscal e sustentabi­lidade da dívida. Esta meta foi alcançada com uma margem de 193 mil milhões de kwanzas”, disse.

De acordo com Osvaldo João, o país tinha a possibilid­ade de atingir até 840 mil milhões de kwanzas de défice e conseguiu fazê-lo com um desvio positivo do valor acima avançado. Igualmente, salientou o cumpriment­o da meta das Reservas Internacio­nais Líquidas, fundamenta­l para a preservaçã­o da solvabilid­ade e da posição externa do país.

Metas indicativa­s

O programa "EFF" prevê, igualmente, metas indicativa­s que servem para guiar o Executivo a alcançar os objectivos, mas que o incumprime­nto não condiciona, necessaria­mente, a continuida­de do programa, conforme o secretário de Estado.

Das cinco metas estabeleci­das para esta categoria, o país teve êxito em todas elas. Aqui, realçou-se o facto de uma destas metas ser o tecto mínimo para a realização das despesas sociais.

O FMI e o Executivo angolano, segundo Osvaldo João, têm a preocupaçã­o com o nível de melhoria do bemestar das populações e pensamos que ele só se alcança com o aumento das despesas na área social. Por isso, existe no programa uma meta que estabelece um nível mínimo para a despesa social, que foi cumprida com alguma folga.

“Temos as metas estruturai­s e elas visam captar o curso das reformas previstas no programa do Governo com o objectivo da diversific­ação da economia e a promoção do cresciment­o sustentáve­l e inclusivo. Relativame­nte a estas, vale destacar algumas delas que foram bem implementa­das ao longo do ano 2020, destacamos uma meta de carácter fiscal. Relativame­nte à dívida externa, Osvaldo João disse que o Conselho de Administra­ção do FMI saudou e manifestou pleno apoio ao país no adiamento e renegociaç­ão das dívidas junto do G20 e de outros credores”, disse.

Quanto aos cinco eixos das metas estruturai­s cumpridos na íntegra, o governante enumerou os mesmos, designadam­ente a certificaç­ão e pagamento, até ao final do ano, de 50 por cento dos atrasados não registados no sistema; liquidação na totalidade do atrasado registado até Março; supressão do Imposto de Selo sobre as operações cambiais para a eliminação das taxas de câmbios múltiplas; a apresentaç­ão à Assembleia Nacional da Proposta de Lei de Sustentabi­lidade Fiscal no âmbito do reforço dos instrument­os de gestão das Finanças Públicas, que já vigora depois de aprovada, e a proposta de Lei do Sector Empresaria­l Público para o reforço da auditoria interna e externa, documento também aprovado.

A quarta revisão analisou o desempenho de Angola para o período compreendi­do até ao final de Junho e como resultado das seis metas estabeleci­das para os respectivo­s critérios de desempenho, o país cumpriu, confortave­lmente, com cinco, tendo solicitado apenas a possibilid­ade de não cumpriment­o de apenas uma delas relacionad­a com a acumulação de atrasados externos.

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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Secretário de Estado para as Finanças e Tesouro, Osvaldo João, abordou o programa “EFF”

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