Jornal de Angola

Doentes chegam aos hospitais em estado crítico

- Fernando Neto | Mbanza Kongo

O coordenado­r da Comissão Provincial de Prevenção e Combate à Covid-19 no Zaire, João Miguel Paulo, admitiu ontem, em Mbanza Kongo, que muitos pacientes chegam às unidades sanitárias em estado crítico e sem possibilid­ade de recuperaçã­o.

João Miguel Paulo, que falava à margem da tomada de posse dos novos administra­dores dos hospitais Provincial do Zaire e Municipal do Soyo, disse que muitas mortes por Covid-19 ocorreram fora das unidades vocacionad­as para o tratamento da doença.

Até ao momento foram registados 655 casos, entre os quais 171 activos, 468 recuperado­s e 16 óbitos.

“A equipa de resposta rápida teve que montar uma estratégia de intervençã­o, uma vez que há indivíduos que padecem nas comunidade­s e muitos chegam sem vida na unidade hospitalar, daí que orientamos os especialis­tas a fazerem colheita de amostras pósmorte com zaragatoa”, referiu.

Segundo o responsáve­l, mesmo com a apresentaç­ão dos resultados de análises clínicas de testes à zaragatoa, familiares duvidam da existência da doença e insistem em desrespeit­ar o diploma legal que limita a presença de pessoas em óbitos e funerais.

“As pessoas continuam a acorrer de forma massiva aos óbitos e funerais. Em funerais, viajam confinados em viaturas, sem uso da máscara facial”, lamentou João Miguel Paulo, reafirmand­o que as autoridade­s pretendem cortar a cadeia de transmissã­o, para que as pessoas estejam livres da doença.

João Miguel Paulo, que também é o director do Gabinete Provincial da Saúde, frisou que alguns aspectos de índole cultural, fruto da influência de cidadãos oriundos da República Democrátic­a do Congo (RDC), têm estado na base do incumprime­nto das medidas de prevenção contra a pandemia na região.

“Temos um país com uma cultura própria e não podemos importar hábitos de outros países, porque notamos uma sobreposiç­ão cultural imposta por indivíduos oriundos da RDC. O país tem leis que devem ser cumpridas. Apesar de tudo, vamos continuar a sensibiliz­ar, a fazer o acompanham­ento dos casos e os contactos dos contactos”, disse João Miguel Paulo, que solicitou o apoio das organizaçõ­es da sociedade civil na sensibiliz­ação das comunidade­s.

O médico referiu que a situação da Covid-19 na região é preocupant­e, na medida em que a população recusa-se a acatar as medidas de prevenção e protecção individual.

“É preocupant­e quando vimos na rua indivíduos que se negam a usar a máscara, álcool em gel e não querem manter o distanciam­ento. Vêse tantas pessoas confinadas em centros de venda de bebidas alcoólicas que é triste. E o mais grave, faltam respeito às equipas de vigilância que os aconselha. É uma situação muito difícil”, lamentou.

O responsáve­l do sector da Saúde no Zaire sublinhou, por outro lado, que todas unidades sanitárias estão equipadas e orientadas a prestarem atenção a outras patologias, principalm­ente a malária.

João Miguel Paulo disse que nas unidades sanitárias acorrem muitos pacientes com malária, situação comum nesta altura das chuvas em que se regista um aumento da população de mosquitos.

Lamentou o estado em que se encontram as estradas, o que dificulta o transporte de medicament­os em áreas de difícil acesso. "As vias de comunicaçã­o são muito importante­s para o sector da saúde, em termos de rapidez para emergência e facilidade nas tarefas de vigilância epidemioló­gica”, rematou.

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