Jornal de Angola

Mala diplomátic­a

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A Convenção de Viena sobre Relações Diplomátic­as (Abril de 1961) é que passou a regulament­ar a chamada Mala Diplomátic­a que, numa definição simplista consiste num envelope, uma caixa, um contentor ou qualquer outro volume utilizado pelas missões diplomátic­as para envio e recepção de documentos diplomátic­os e objetos destinados a uso oficial a coberto da imunidade diplomátic­a. A mala diplomátic­a não pode ser aberta ou retida. Os volumes que constituem a mala diplomátic­a deverão ter sinais exteriores visíveis que indiquem o seu carácter e só poderão conter documentos diplomátic­os destinados a uso oficial.

Esta questão da mala diplomátic­a está ligada às imunidades de que gozam não só diplomatas como governante­s. Se um presidente organiza uma viagem para visitar outro país, cumprindo as regras protocolar­es, nenhuma bagagem será revistada. Mas há tristes exemplos como o filho do presidente da Guiné Equatorial que é também vice presidente do pai e que viajou para o Brasil, S. Paulo com uma comitiva de 10 pessoas, sem cumprir as regras protocolar­es. Aí, não obstante as suas reclamaçõe­s, as malas foram abertas e não continham nem jinguba nem bombô… mas um milhão e 400 mil dólares, 55 mil reais, cerca de vinte relógios avaliados em 15 milhões de dólares. Justificou-se com consultas e tratamento­s a fazer e parte do dinheiro para outra viagem … quanto aos relógios eram de uso pessoal. Reparem na burrice da ostentação. É que se ele tivesse organizado a visita de forma oficial ninguém lhe abria as malas. Interessan­te é que quer o Brasil quer a Guiné Equatorial são membros da CPLP… e Obianga filho pensou que dentro da comunidade era só voar e aterrar e dizem os mujimbos que o então presidente Cavaco e Silva empurrou Obianga para a conferênci­a sem qualquer votação pois o presidente da Guiné Equatorial já se havia obrigado a comprar a Portugal material para o ensino da língua portuguesa bem como recrutar professore­s portuguese­s para o ensino da língua. Foi nesse cepelpismo que o filho entrou no Brasil como o relojoeiro da (des)organizaçã­o!

Até onde sabemos e pesquisamo­s, na mala diplomátic­a vai e vem tudo. Vem chouriço, morcela, presunto e vinho e…vai lagosta e gambas Aliás, quando há uma guerra num país africano, da américa latina ou sudoeste asiático, as embaixadas que asilam seus nacionais, mandam vir pela mala diplomátic­a, comes e bebes e outras coisas.

Mas houve um cônsul português, Sebastião Mendes, que salvou cerca de 30.000 pessoas, ajudado

As malas diplomátic­as são verdadeiro­s supermerca­dos com comidas, bebidas, dinheiro lavado e tudo o mais para cumprir as imunidades. Também, quando o diplomata viaja não é revistado. Então, para além da mala diplomátic­a, tem a mala de mão

por um rabi que asilara no consulado. Arriscou as imunidades no sentido humanitári­o. E esses judeus conseguira­m escapar ao nazismo. Claro que Salazar além de o exonerar, castigouo até ao confisco da casa do diplomata na sua terra. Nós, nas andanças para demandarmo­s o reconhecim­ento na OUA e na ONU, andávamos sem passaporte porque não “existíamos” internacio­nalmente” como Estado. A Nigéria emprestou-nos um avião e corremos o mundo. Como saíamos e entrávamos não conto por falta de espaço. Imagine-se quanto dinheiro terá passado na mala diplomátic­a e na sala dos VIPs do aeroporto 4 de Fevereiro! É de conhecimen­to geral que a marinhagem estrangeir­a, principalm­ente tuga, com tradições de mar, sai à noite em lanchas até à ilha, fugindo ao controlo do porto, para buscar contraband­o. Desde liamba a diamantes. Mas falando em mala diplomátic­a, um diplomata português que veio para Luanda naqueles tempos da guerra e escassez, adorava comer bananas. A mulher em Lisboa, preocupada com a situação do marido, tinha uma embalagem em que mandava bananas para o marido na mala diplomátic­a (contentor). Comprava as bananas na mesma mercearia e eram bananas diferentes das da Madeira, muito maiores. A dona da mercearia explicava que as bananas eram importadas da Costa do Marfim. Do que se passa entre a realidade e a ficção. Uns marinheiro­s tinham um negócio de carregar para bordo bué da cachos de banana para chegar a Portugal quase madura. Era nessas lanchas que falei atrás. Iam à noite buscar os cachos que chegavam a Lisboa quase maduros e abasteciam a mercearia onde a esposa do diplomata comprava bananas para enviar ao marido e ele reconforta­r o estômago com bananas de mala diplomátic­a. Que as malas diplomátic­as são verdadeiro­s supermerca­dos com comidas, bebidas, dinheiro lavado e tudo o mais para cumprir as imunidades. Também, quando o diplomata viaja não é revistado. Então, para além da mala diplomátic­a, tem a mala de mão. Salazar quis dar uma finta à opinião pública internacio­nal e introduziu na Assembleia Nacional deputados das colónias. Lembro-me de Burity da Silva que chegou a comendador e o advogado Barros que era virado à independên­cia. Um dia chegou a Lisboa e obrigaram-no a ser revistado. Mesmo naquele tempo foi uma escandalei­ra e a esquerda portuguesa cantava uma música que estava na moda: “olha a mala/olha a mala/ olha a malinha de mão…”

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Manuel Rui

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