Jornal de Angola

A dopamina das redes sociais (2)

- Osvaldo Gonçalves|

Estudiosos

alertam que as redes sociais são altamente viciantes, sobretudo, pelo facto de as chamadas “curtidas” conseguire­m activar o neurotrans­missor dopamina. Os jovens parecem ser as principais vítimas desta “pandemia”, que afecta indivíduos e famílias.

Entretanto, a tendência pode estar a mudar. Estudos recentes apontam para uma cada vez maior desistênci­a dos jovens das redes sociais. Uma pesquisa realizada em Março e Abril de 2020, pela agência de pesquisa Dentsu Aegis Network, em que foram entrevista­das 32 mil pessoas em 22 países, permitiu concluir que, na chamada Geração Z, isto é, jovens entre 18 e 24 anos, um em cada cinco desactivou as suas contas nas redes sociais.

Outros estudos, como o divulgado em Outubro de 2020 pela Plan Internatio­nal, uma organizaçã­o não-governamen­tal fundada, em 1937, e presente em 70 países, revelou dados similares em relação a outras franjas da sociedade, em particular as mulheres.

De acordo com esta ONG, também uma em cada cinco mulheres abandonara­m ou reduziram o uso das redes sociais, mas isso após sofrerem algum tipo de abuso. Uma pesquisa com entrevista­s a 14 mil mulheres de 22 países, com idades entre os 15 e os 25 anos, revelou que 58 por cento delas já foram vítimas de atitudes maldosas, como assédio, o que levou a mudanças no seu comportame­nto digital.

Além do assédio, as mulheres queixaram-se de já terem sido vítimas de racismo, xenofobia ou outro tipo de abuso ou ofensa em relação à sua orientação religiosa ou sexual. Nas redes sociais, os abusos, de forma geral, são mais comuns que nas ruas e, a ter em conta que estes acontecem também entre pessoas do mesmo sexo, seja porque motivo for, então é de sugerir aos cientistas sociais que deem maior atenção ao facto, até no sentido de melhor se disciplina­r o uso dessa ferramenta.

A tendência de abandono das redes sociais, reportada na pesquisa da Dentsu Aegis Network, é muito maior entre os jovens que nas pessoas com idade acima dos 45 anos. Os mais velhos parecem sentir-se menos afectados pelas maravilhas proporcion­adas por este novo mundo. Em boa verdade, as pessoas com emprego estável ou actividade definida procuram nas redes sociais saídas que a agitação do dia-a-dia coarcta, como localizar pessoas e encurtar distâncias.

É verdade que, com as redes sociais, aumentou o número de crimes cibernétic­os ou aplicados em resultado dos relacionam­entos à distância. Mas, já antes existiam os casamentos e negócios de compra e venda por procuração. Há 2.400 anos mandavam-se cartas e desde meados do século XIX existe um serviço postal público.

Reza a História que, na América pré-colombiana, os correios de Montezuma, imperador asteca, eram respeitado­s e detentores de imunidades. A ninguém era permitido barrar a passagem destes homens, que usavam uma rica manta atada ao corpo.

Nos incas, o serviço de correio era desempenha­do pelo “chasque”. Os mensageiro­s percorrera­m grandes caminhos ao longo da costa e nas serras, com postos de repouso e um organizado sistema tipo estafetas.

Se considerar­mos que quem conta um conto aumenta um ponto, muitas reticência­s ficaram perdidas em todos esses sistemas de comunicaçã­o, que vêm desde os tantãs e sinais de fumo.

Astecas e incas, que não dispunham de Internet, tinham outro tipo de redes sociais, mas os jovens estavam excluídos delas, sobretudo por despreparo.

Hoje, estudam-se os efeitos das redes sociais (modernas), sobretudo, entre os jovens, na perspectiv­a de que, para todo o mal, há sempre um remédio. Ideia antiga essa, de quem ainda não tinha Internet.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola