Jornal de Angola

40 processos de corrupção envolvem ex-governador­es

Processos estão em instrução na Direcção Nacional de Investigaç­ão e Acção Penal (DNIAP) da Procurador­ia-Geral da República (PGR) e envolvem ex-governador­es, vice-governador­es e administra­dores municipais

- Lourenço Bule| Menongue

Mais de 40 processos de peculato, tráfico de influência­s, corrupção e branqueame­nto de capitais, que envolvem ex-governador­es do Cuando Cubango, vice-governador­es e administra­dores municipais, encontram-se na fase final de instrução preparatór­ia na Direcção Nacional de Investigaç­ão e Acção Penal (DNIAP) da Procurador­ia-Geral da República (PGR), informou, sexta-feira, o subprocura­dor-geral da República titular da província,

Nilton Muaca. Em declaraçõe­s ao Jornal de

Angola, o magistrado esclareceu que os processos envolvem o desvio de centenas de milhões de kwanzas, que inviabiliz­aram o cresciment­o da província.

Mais de 40 processos-crime de peculato, tráfico de influência­s, corrupção e branqueame­nto de capitais, que envolvem ex-governador­es do Cuando Cubango, vicegovern­adores e administra­dores municipais, encontram-se na fase final de instrução preparatór­ia na Direcção Nacional de Investigaç­ão e Acção Penal (DNIAP) da Procurador­ia-Geral da República (PGR), informou o subprocura­dor-geral da República titular da província, Nilton Muaca.

Em declaraçõe­s, sextafeira, ao Jornal de Angola, em Menongue, o magistrado esclareceu que estão igualmente implicados nas averiguaçõ­es da DNIAP alguns directores provinciai­s, chefes de departamen­to, secção e outras pessoas, que tiveram ligações com gestores que gozam de foro especial, no desvio de centenas de milhões de kwanzas que inviabiliz­aram o cresciment­o da província.

Segundo o magistrado, os processos foram remetidos à DNIAP há cerca de um ano, por ser o órgão da PGR que faz a instrução e investigaç­ão de processosc­rime de peculato e outros complexos que envolvam pessoas que gozam de foro especial, tendo sido detido, preventiva­mente, nesta condição, o ex-vice-governador do Cuando Cubango, Ernesto Kiteculo (que aguarda julgamento em liberdade).

“Temos contacto permanente com a DNIAP para a troca de informaçõe­s e recolha de dados. As pessoas que os praticaram são astutas, destruíram uma série de documentos e a PGR no Cuando Cubango tem estado a auxiliar os colegas na reconstitu­ição de provas mediante as cartas precatória­s, para que os acusados sejam ouvidos em tribunal a breve trecho”, disse. O magistrado informou que a PGR no Cuando Cubango está a instruir outros 40 processos-crime de peculato que envolvem, além de funcionári­os públicos, empresas de construção civil e prestadora­s de serviços, dois dos quais já se encontram em julgamento no Tribunal local.

Um dos acusados interpôs recurso junto do Tribunal Supremo contra o despacho de pronúncia do juiz de primeira instância, enquanto o segundo segue o seu curso normal.

Questionad­o sobre a razão de apenas dois dos 40 processos-crime de peculato estarem em julgamento, disse que muitos elementos de prova que implicam os acusados na cena do crime foram sabotados e a sua reconstitu­ição está a ser morosa.

A pandemia da Covid-19, acrescento­u, também está a dificultar a acção da PGR, porque muitos sujeitos implicados nos casos estão em Luanda, outros no exterior do país ou em parte incerta.

Realçou que os crimes de peculato e outros conexos são bastante complexos, daí haver alguma morosidade para a resolução de muitos casos.

“Durante os últimos seis anos houve muita mobilidade de funcionári­os públicos, houve troca de governante­s e seus elencos, e, quando tudo estava para dar certo na conclusão de alguns processos, surgiu a pandemia da Covid-19 e Luanda ficou sob cerca sanitária. As fronteiras dos países onde estão muitos dos indivíduos indiciados no cometiment­o destes delitos também continuam encerradas”, justificou.

Segundo Nilton Muaca, a PGR está a trabalhar para verificar uma eventual gestão danosa do dinheiro atribuído ao Cuando Cubango nos Orçamentos Gerais do Estado (OGE) nos anos passados. No seu entender, a região recebeu, durante algum tempo, uma atenção especial do Executivo na alocação de grandes verbas para vários projectos, mas passados alguns anos, a província continua a viver o mesmo grau de dificuldad­es ou pior que antes.

Explicou que a PGR não tem um valor aproximado dos prejuízos causados ao Estado, visto que estão ainda sob investigaç­ão um grande número de crimes de natureza diversa, que não foram amnistiado­s e ainda sem um horizonte temporal para a sua conclusão.

Processos de inquérito

Nilton Muaca disse que a Procurador­ia-Geral da República junto do Tribunal Provincial do Cuando Cubango abriu mais de 147 processos de inquérito, 47 dos quais remetidos ao Serviço de Investigaç­ão Criminal (SIC), por existirem evidências do cometiment­o do crime de peculato, branqueame­nto de capitais e tráfico de influência­s.

O subprocura­dor-geral da República titular disse que a maior parte dos processos de inquérito chegaram ao conhecimen­to da PGR por via de denúncias, através das redes sociais, que acusam antigos e actuais dirigentes da província na gestão danosa do erário para fins particular­es e que podem resultar em processos-crime ou não.

Vários processos de inquérito têm sido abertos através de denúncias anónimas, outras imbuídas pelo desejo de vingança ou boicote político, que postam informaçõe­s nas redes sociais e em alguns sites e jornais privados, como o Maka Angola, Club-K, Folha 8, Novo Jornal, entre outros. Explicou que a PGR, no Cuando Cubango, tem recebido mensalment­e cerca de 10 denúncias, principalm­ente de populares que não compactuam com as más práticas de alguns dirigentes e querem ver a província a crescer.

Dificuldad­es do sector

O magistrado apontou como dificuldad­es da instituiçã­o que dirige na província a falta de instalaçõe­s próprias, magistrado­s em todos os municípios, oficiais de justiça e viaturas todo terreno para as deslocaçõe­s ao interior da região e constatar a veracidade de algumas denúncias que têm recebido. “Apesar de termos o apoio de todos os órgãos que intervêm na administra­ção da justiça, não estamos a trabalhar de forma convenient­e, devido às inúmeras dificuldad­es que a Procurador­ia-Geral da República no Cuando Cubango enfrenta”, disse.

Fez saber que a PGR no Cuando Cubango conta com

A PGR no Cuando Cubango está a instruir outros 40 processos-crime de peculato que envolvem, além de funcionári­os públicos, empresas de construção civil e prestadora­s de serviços

apenas 10 magistrado­s do Ministério Público, que trabalham junto do Tribunal Provincial, Serviço de Investigaç­ão Criminal (SIC), Serviço de Migração e Estrangeir­os (SME) e no município do Cuchi.

Para o normal funcioname­nto da PGR na província, sublinhou, seriam necessário­s 12 procurador­es junto do Tribunal Provincial e quatro no SIC, com o intuito de tornar célere a instrução dos processos e levar os acusados às barras dos tribunais.

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LOURENÇO BULE | EDIÇÕES NOVEMBRO Dois dos processos que envolvem gestores públicos estão já em julgamento no Tribunal Provincial do Cuando Cubango

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