A limpeza de Luanda
O estado progressivo de imundice pública em Luanda é tão grave para a saúde pública que deve merecer a atenção de especialistas de vários sectores, o que não dispensa acções imediatas de limpeza, com meios apropriados.
A opinião foi manifestada, sexta-feira,nestemesmoespaço, no qual se alertava, igualmente, paraainconsequênciadorecurso a “brigadas de voluntários”, por o assunto ser demasiado sério, muito mais do que alguns pensam, para ser encarado com ligeireza do amadorismo.
Na altura em que escrevíamos, o Governo Provincial não tinha anunciado, para hoje, a “operação de limpeza” com a participação de moradores das várias zonas de Luanda. Infelizmente, concretizou-se o receio de ver anunciadas, em pleno século XXI, iniciativas em voga nos anos de 1970, quando Luanda e os tempos eram outros. Muitos de nós, viveram, então, momentos irrepetíveis das nossa vidas, de fulgor revolucionário soprado por ventos de exemplos internos e externos. Era a liberdade, na autêntica acepção da palavra, que não tardou a esmorecer esfrangalhada por conceitos, sobre os quais não éramos ouvidos. Uns quantos faziam-no por todos, com base em modelos decalcados de outras bandas. Ainda não tínhamos Bandeira, nem Hino e já nos eram impostos organismos e processos, contra os quais se tinham lutado. Tudo, em nome do “bem nacional”.
Assim, num ápice, surgiu a polícia política. Um clima de suspeição, vivido no tempo da ocupação, ressurgiu. Com todos a desconfiar de todos. Nos empregos, bairros, bares, em casa. Com prisões por vinganças de toda a ordem, apropriação de bens e tudo o mais que mentes perversas concebem. Mais tarde, os “sábados vermelhos”, com resultados que se sabem.
Luandaera,nosanosde1970, cidade provinciana, com meia dúzia de habitantes. Os jovens levadospelofulgorrevolucionário agora já não o são. Os sobreviventes trabalham, descansam, finalmente, o corpo de uma vida a “vergar a mola” ou aburguesaram-se, enriqueceram; os jovens de agora têm outros interesses - estudam os que podem, procuramemprego.Quemresta? Os desocupados por opção, as contrabandistas do nosso dinheiro e quem as fornece? Os “militantes disciplinados”, mais os que aparecem sempre para ficar na fotografia? E quantos são precisos para limparem a província de uma ponta a outra? E quando chegarem ao fim voltamaoinício,entretanto,jásujo? Que meios vão usar : vassouras, pás e baldes caseiros? E no dia seguinte que rendimento têm nas empresa que lhes pagam os salários? E os que aceitarem o desafio não são transgressores do recolhimento domiciliário decretado pelo Presidente da Republica? Ou, afinal, o lixo não é nada amigo da Covid19, pelo contrário, protege quem se junta a ele?
A limpeza de Luanda pode ser perigosa.