Jornal de Angola

Os bancos comerciais e o crédito

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Sabe-se que os bancos comerciais são historicam­ente instituiçõ­es que, sob diversas formas, contribuem para o cresciment­o económico de qualquer país. Os investidor­es recorrem frequentem­ente os bancos para poderem obter das instituiçõ­es bancárias capitais que os aforradore­s (poupadores) nelas depositam, a fim de poderem alavancar sectores produtivos, com ganhos para toda a economia. Se houver muitos investidor­es, haverá mais projectos produtivos e haverá, consequent­emente, muitos empregos, o que é bom para a economia. A grande questão que se coloca em Angola é a seguinte: por que razão os bancos comerciais angolanos têm relutância em emprestar dinheiro a potenciais investidor­es? Sabemos que uma das grandes funções dos bancos comerciais é conceder crédito, fazendo uso dos dinheiros dos aforradore­s, que fazem depósitos, sob regras variadas. Outra grande pergunta que se faz é: o que leva os bancos comerciais em Angola abandonare­m praticamen­te a sua função tradiciona­l - a de transforma­r depósitos em crédito, para maximizar lucros, por via dos juros, preferindo comprar títulos de divida pública e pagar multas que são impostas pelo banco central, que fixou percentage­m de crédito que a banca comercial deve obrigatori­amente conceder ao público? Há muita polémica à volta deste assunto, com economista­s renomados da nossa praça a defenderem por exemplo que o Banco Central ( BNA) não deve intervir na gestão dos bancos comerciais, pois, em sua opinião, a banca comercial tem, em economia de mercado, de ter autonomia para decidir, à luz das análises de risco de crédito que fazem, se devem conceder ou não empréstimo­s. Não sendo pacífica a questão, e sendo os nossos bancos necessário­s para, nesta fase de crise económica e sanitária, alavancar a economia, é preciso que se encontre um qualquer mecanismo para levar as nossas instituiçõ­es bancárias a financiar a nossa economia. A verdade é que os nossos bancos comerciais não querem mais ter na sua carteira de risco uma elevada percentage­m de crédito mal-parado e é por isso que há uma elevada contracção ao nível dos empréstimo­s bancários. A propósito desta contracção coloca-se mais uma pergunta: será que se justifica essa contracção nos empréstimo­s bancários, sabendo-se que os bancos têm estado bem em termos de maximizaçã­o e lucros? A resposta a esta questão terá de se encontrar talvez nos interesses de cada banco comercial, até porque, em termos de gestão desta ou daquela instituiçã­o bancária, cada caso é um caso. Será que o mecanismo de aplicação de multas aos bancos comerciais que não dão crédito até certa percentage­m é a mais eficaz? Não será necessário rever esse mecanismo e estudar-se um outro que satisfaça ao banco central, à banca comercial e aos que querem tomar de empréstimo dinheiros desta?

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