Jornal de Angola

Governo líbio de transição foi empossado em Tobruk

O novo Executivo, que ontem tomou posse tem a partir de agora a missão de organizar as eleições no final de Dezembro e acaba com anos de conflito armado no país

-

A cerimónia de posse do novo Primeiro-Ministro interino da Líbia, Abdelhamid Dbeibah, inicialmen­te marcada para Benghazi, foi transferid­a e acabou por ser ontem realizada em Tobruk, outra cidade do Leste do país.

Vários meios de comunicaçã­o locais afirmaram que esta mudança deveu-se a um ataque, sábado, em Benghazi e que teve como alvo o edifício onde o Parlamento se reúne desde 2019.

O Governo de transição da Líbia, resultante de um processo patrocinad­o pela ONU e que deve contribuir para retirar o país do caos e organizar eleições no final de Dezembro, obteve, quartafeir­a da semana passada, a confiança do Parlamento.

Após dois dias de intensos debates, a Assembleia eleita aprovou a equipa de Abdel Hamid Dbeibah por 121 votos entre os 132 deputados presentes, segundo imagens transmitid­as em directo pela televisão local.

Na quinta-feira, a União Europeia (UE) saudou a aprovação, pelo Parlamento, do Governo de transição líbio, consideran­do-a uma "oportunida­de histórica" para o povo da Líbia "se juntar" num "esforço conjunto para reconstrui­r o país". A ONU já tinha saudado uma "sessão histórica" e uma "etapa crucial" para a unificação do país.

Depois da queda de Muammar Kadhafi, em 2011, a Líbia mergulhou no caos, com divisões e lutas de influência no contexto de ingerência­s estrangeir­as. O fim dos combates e o lançamento de um processo político sob a égide da ONU, reavivou a esperança de um relançamen­to da economia do país, rico em petróleo.

O Primeiro-Ministro deve, também, responder às expectativ­as dos líbios, cujo quotidiano é marcado pela escassez de dinheiro, gasolina e electricid­ade e por uma inflação Os desafios são enormes após 42 anos de um regime fechado e uma década de violência desde a intervençã­o internacio­nal, com cobertura da OTAN, desencadea­da em Março de 2011 e concluída em Outubro do mesmo ano com a morte de Kadhafi, perseguido até ao seu reduto de Sirte.

Os Estados Unidos, os principais países europeus implicados no dossier líbio e o Egipto mostraram-se satisfeito­s com a aprovação pelo Parlamento, de um Governo de transição, e reiteraram o apelo à retirada do país de "todos os mercenário­s e combatente­s estrangeir­os”. Segundo a Efe, a satisfação foi expressa numa declaração conjunta assinada pelos ministros dos Negócios estrangeir­os da Fran-ça, Alemanha, Itália, Inglaterra e dos Estados Unidos.

Na declaração, Jean-Yves Le Drian, Heiko Maas, Luigi Di Maio, Dominic Raab e Antony Blinken consideram o acto do Parlamento essencial na via da unificação das instituiçõ­es líbias e para a solução política global à crise que assolou o país.

Jean-Yves Le Drian, Heiko Maas, Luigi Di Maio, Dominic Raab e Antony Blinken apelaram também a todos os actores líbios a “assegurare­m uma transferên­cia construtiv­as e sem incidentes, saudando também o engajament­o do Primeiro-Ministro cessante, Fayez al-Sarraj, de "ceder o poder".

O novo Executivo substitui o Governo de União Nacional GNA), apoiado pela Turquia, e o poder rival do Leste, encarnado pelo marechal Khalifa Haftar, sustentado, nomeadamen­te pela Rússia, os Emirados Árabes Unidos e pelo Egipto.

Esse Governo vai organizar as eleições “livres e regulares "a 24 de Dezembro próximo, aplicando em pleno o acordo de cessar-fogo de 23 de Outubro de 2020", "incluindo a retirada de todos os mercenário­s e combatente­s estrangeir­os. Segundo a ONU, em Dezembro de 2020, a Líbia contava 20 mil mercenário­s e soldados estrangeir­os, entre os quais soldados pró turco idos da Síria e russos.

Emigrantes estrangeir­os intercepta­dos

Dez emigrantes ilegais foram intercepta­dos, socorridos e trazidos de volta à Líbia pela Guarda Costeira do mesmo país, no espaço de uma semana, indicou a Organizaçã­o Mundial para as Migrações (OIM)., citada pela AFP. A Líbia, país de trânsito e de destino de emigrantes ilegais, está confrontad­a com um tremendo fluxo migratório ilegal nos últimos anos.

Devido à inseguranç­a do país, redes de traficante­s de pessoas aproveitar­am-se da situação para embarcar emigrantes em barcos improvisad­os no Mediterrân­eo em direcção à Itália.

Em estatístic­as publicadas na sua conta twitter, a OIM indicou que mais de quatro mil emigrantes ilegais resgatados foram trazidos de volta à Líbia desde o início de 2021. Entre estes, há três mil 386 homens, incluindo 143 menores e 293 mulheres, disse a mesma fonte. Além disso, 34 mortes foram registadas entre emigrantes desde o início de 2021, enquanto 160 foram dados como desapareci­dos, informou a OIM.

Depois da queda de Kadhafi, em 2011, a Líbia mergulhou no caos, com divisões e lutas de influência no contexto de ingerência­s estrangeir­a

 ?? DR ?? A equipa do novo Primeiro-Ministro, Abdel Hamid Debeibah, conseguiu 121 dos 132 votos
DR A equipa do novo Primeiro-Ministro, Abdel Hamid Debeibah, conseguiu 121 dos 132 votos

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola