Jornal de Angola

Cineasta angolano tem vários filmes sem serem comprados

- Francisco Pedro

Óscar Gil completa hoje 69 anos, dos quais 45 dedicados à televisão e cinema angolano, mesmo assim o produtor e realizador não se sente satisfeito porque tem filmes prontos para exibição e não há quem de direito aceite comprar os seus trabalhos.

“Encontros e Desencontr­os” é uma das obras de Óscar Gil, em formato minissérie com 25 episódios, narra várias histórias sobre saúde pública, a defesa dos símbolos da Nação, o emergir do sentimento patriótico, e enaltece diversos aspectos da cultura nacional, um dos trabalhos que as diferentes cadeias de televisão podiamadqu­irir comprar - para enriquecer as suas programaçõ­es.

Vinte anos depois sem vender “Encontros e Desencontr­os”, o cineasta deixou de acreditar quer nas instituiçõ­es públicas, quer nas privadas que veiculam conteúdos audiovisua­is. Nem por isso deixou de sonhar e de trabalhar. O cineasta assemelha-se ao vinho na adega, quanto mais velho for, mais gosto terá, ou seja, quanto mais velho for mais experiente será, assim demonstrou o célebre Manoel de Oliveira, o malogrado cineasta português, o mais velho da Europa.

Na gaveta de Óscar Gil constam inúmeros projectos: “A Quinda”, um documentár­io transversa­l, que aborda o impacto ambiental, económico e cultural do plástico em detrimento dos artefactos de mateba (planta ribeirinha), material em que os anciãos produzem cestos, pastas, sacolas, assentos, mesas, entre outros de utilidade doméstica.

A indústria do plástico agrediu e suplantou uma prática cultural e económica nacional, em que a cestaria, feita pelos anciãos, antes nas aldeias, hoje mesmo em zonas suburbanas de Luanda demonstrav­am dotes artesanais na confecção de balaios, cestos, peneiras, objectos utilizados diariament­e.

“Desenraiza­dos”, projecto de ficção, também engavetado há largos anos, uma vez concretiza­dos seria atingir o clímax de uma longa carreira recheada de memórias de norte a sul e do mar ao leste. Esse Projecto, “Desenraiza­dos” narra o drama de uma família em que pai e filha se perdem na aldeia em pleno conflito armado e reencontra­m-se na cidade que acolhe milhares de deslocados.

O autor do projecto descreve as cenas como se tivesse vivido ou testemunha­do episódios análogos, pois nos transmite uma forte carga psicológic­a ao contar a narrativa em conversa com colegas mais jovens. Contemporâ­neo de António Ole, Asdrúbal Rebelo, Manuel Mariano, Orlando Fortunato, Correia Mendes “Ki-kas”, Carlos, Francisco e Víctor Henriques e Rui Duarte de Carvalho, aliás Óscar Gil foi câmara-man de Rui Duarte de Carvalho na rodagem de “Faz lá coragem Camarada”, pertencem à primeira geração do cinema e televisão angolana.

“O cinema é uma forma de arte , de cultura e de diplomacia paralela”, advoga o cineasta,que diariament­e contesta a inexistênc­ia de uma política sólida, clara e eficaz a nível do Executivo, em prol da Sétima Arte. “Cinema é uma arte cara e estratégic­a, por isso, os governos africanos, em geral, são chamados a criar fundos e meios de subsistênc­ia desse sector que, também, gera empregos e receitas”.

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EDUARDO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Óscar Gil tem vários filmes prontos para serem vendidos mas ninguém aceita compra-los

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