Cineasta angolano tem vários filmes sem serem comprados
Óscar Gil completa hoje 69 anos, dos quais 45 dedicados à televisão e cinema angolano, mesmo assim o produtor e realizador não se sente satisfeito porque tem filmes prontos para exibição e não há quem de direito aceite comprar os seus trabalhos.
“Encontros e Desencontros” é uma das obras de Óscar Gil, em formato minissérie com 25 episódios, narra várias histórias sobre saúde pública, a defesa dos símbolos da Nação, o emergir do sentimento patriótico, e enaltece diversos aspectos da cultura nacional, um dos trabalhos que as diferentes cadeias de televisão podiamadquirir comprar - para enriquecer as suas programações.
Vinte anos depois sem vender “Encontros e Desencontros”, o cineasta deixou de acreditar quer nas instituições públicas, quer nas privadas que veiculam conteúdos audiovisuais. Nem por isso deixou de sonhar e de trabalhar. O cineasta assemelha-se ao vinho na adega, quanto mais velho for, mais gosto terá, ou seja, quanto mais velho for mais experiente será, assim demonstrou o célebre Manoel de Oliveira, o malogrado cineasta português, o mais velho da Europa.
Na gaveta de Óscar Gil constam inúmeros projectos: “A Quinda”, um documentário transversal, que aborda o impacto ambiental, económico e cultural do plástico em detrimento dos artefactos de mateba (planta ribeirinha), material em que os anciãos produzem cestos, pastas, sacolas, assentos, mesas, entre outros de utilidade doméstica.
A indústria do plástico agrediu e suplantou uma prática cultural e económica nacional, em que a cestaria, feita pelos anciãos, antes nas aldeias, hoje mesmo em zonas suburbanas de Luanda demonstravam dotes artesanais na confecção de balaios, cestos, peneiras, objectos utilizados diariamente.
“Desenraizados”, projecto de ficção, também engavetado há largos anos, uma vez concretizados seria atingir o clímax de uma longa carreira recheada de memórias de norte a sul e do mar ao leste. Esse Projecto, “Desenraizados” narra o drama de uma família em que pai e filha se perdem na aldeia em pleno conflito armado e reencontram-se na cidade que acolhe milhares de deslocados.
O autor do projecto descreve as cenas como se tivesse vivido ou testemunhado episódios análogos, pois nos transmite uma forte carga psicológica ao contar a narrativa em conversa com colegas mais jovens. Contemporâneo de António Ole, Asdrúbal Rebelo, Manuel Mariano, Orlando Fortunato, Correia Mendes “Ki-kas”, Carlos, Francisco e Víctor Henriques e Rui Duarte de Carvalho, aliás Óscar Gil foi câmara-man de Rui Duarte de Carvalho na rodagem de “Faz lá coragem Camarada”, pertencem à primeira geração do cinema e televisão angolana.
“O cinema é uma forma de arte , de cultura e de diplomacia paralela”, advoga o cineasta,que diariamente contesta a inexistência de uma política sólida, clara e eficaz a nível do Executivo, em prol da Sétima Arte. “Cinema é uma arte cara e estratégica, por isso, os governos africanos, em geral, são chamados a criar fundos e meios de subsistência desse sector que, também, gera empregos e receitas”.