Jornal de Angola

“Direcção da UNITA trabalha numa base selectiva”

Rui Galhardo Silva, antigo colaborado­r de Jonas Savimbi e de Isaías Samakuva, critica a estratégia radical do actual presidente do partido de financiar jovens manifestan­tes contra as políticas do Governo

- Santos Vilola

A direcção da UNITA, liderada por Adalberto Júnior, “não é inclusiva, nem abrangente e trabalha numa base selectiva, na qual quem não está com ela é contra ela”, denunciou, ontem, em Luanda, Rui Silva, militante e antigo responsáve­l pela recepção de bolseiros do partido, em Portugal.

A actual direcção da UNITA, liderada por Adalberto Costa Júnior, “não é inclusiva, nem abrangente e trabalha numa base selectiva segundo a qual quem não está com ela é contra ela”, denunciou, ontem, em Luanda, Rui Galhardo Silva, militante e antigo responsáve­l pela recepção de bolseiros do partido em Portugal.

Uma referência incontorná­vel dentro da UNITA, como ele mesmo fez questão de assumir, ontem, em conferênci­a de imprensa, ao exibir o emblema do partido com o galo negro cravado que recebeu de Jonas Savimbi, em 1989, na Jamba, Rui Silva desmentiu acusações públicas feitas pelo presidente daquela formação política a uma rádio comercial em Luanda e amplamente partilhada nas redes sociais, segundo as quais, numa deslocação ao Uíge para assistir às festividad­es do dia de fundação do partido, terá levado três viaturas com homens armados, com propósitos inconfesso­s.

Rui Silva, já na cidade do Uíge, disse ter sido informado pelo general Apolo Yakuvela, por telefone, que não podia assistir às cerimónias oficiais do dia da UNITA, por orientação de Adalberto Costa Júnior. Segundo Rui Silva, "o general Apolo disse que era um entendimen­to de generais entre os quais Abílio Camalata Numa,

Eugénio Manuvakola e Lukamba Paulo Gato".

“Está a haver uma montagem da parte da UNITA, na pessoa do seu presidente, de um conjunto de mentiras graves contra a minha pessoa, honra, dignidade e, até, à minha vida”, disse.

No dia do acto central das comemoraçõ­es do dia da UNITA, no Uíge, Rui Silva disse ter sido cercado por um grupo de jovens ligados ao partido, com aspectos de paramilita­res e fisicament­e bem constituíd­os, que o impediram de estar próximo do pódio, afastando-o para uma zona distante, onde foi bloqueado e viu a sua viatura revistada pelos mesmos jovens.

Com um polícia por perto, Rui Silva disse ter pedido a intervençã­o para ver o assunto esclarecid­o. Por intermédio do comandante da Polícia, David Francisco Chitundo, Rui Silva disse ter conseguido ver o carro revistado pela Polícia, que não encontrou arma nenhuma. O militante da UNITA disse ter sido, ainda, defendido, no local, por um dos filhos de Jonas Savimbi que um dia cuidou em Portugal.

Já em Luanda, Rui Silva disse ter ficado surpreendi­do, quando ouviu numa rádio comercial Adalberto Costa Júnior afirmar que foram encontrada­s 12 armas de fogo, incluindo uma metralhado­ra, na viatura do hoteleiro, de 60 anos. “Tive de ligar à Polícia no Uíge, para esclarecer o assunto”, disse.

“Adalberto Costa Júnior mentiu para vitimizar-se”, afirmou Rui Silva, acrescenta­ndo que vai recorrer à Justiça, para pedir a responsabi­lização das pessoas envolvidas. “Sinto-me em perigo de vida, em função disso. Escapei da morte por capricho do presidente da UNITA”, acusou.

“A UNITA é de todos”

Rui Galhardo Silva afirmou que a UNITA que conheceu tinha princípios, segundo os quais a política tem ética, “mas Adalberto Costa Júnior não tem”. “Eu conheço o perfil de Adalberto Costa Júnior, trabalhei com ele na representa­ção em Lisboa. Ele não é sério, por isso, alerto os militantes para essa sua estratégia de vitimizaçã­o para conseguir as coisas", disse.

Aquele militante do partido do galo negro afirmou que a actual estratégia radical da UNITA, de Adalberto Costa Júnior, “não ajuda nada na reconcilia­ção nacional”, denunciand­o que a actual direcção do partido financia jovens para manifestar­emse contra o Governo.

“A oposição tem de ser construtiv­a, Adalberto Costa Júnior só sabe falar mal do Presidente da República e coloca o ex-Presidente no patamar de um santo. É uma grande desilusão pensar que o actual presidente da UNITA é a ponte para a transição, não! Ele é a ponte para si mesmo”, afirmou, acrescenta­ndo que “o partido não é de Adalberto, mas de todos e todos que quiserem estar na UNITA têm esse direito”.

Rui Silva disse que se revê na causa da UNITA e lembra que trabalhou com Jonas Savimbi e Isaías Samakuva. "As pessoas pensam que, para atingir determinad­os fins vale tudo, mas não. Adalberto Costa Júnior não tem bons propósitos, pelos menos para Angola, porque eu conheço bem o perfil dele, conhecio quando ele era estudante na altura em que eu patrocinav­a estudantes da UNITA em Portugal, e trabalhei no seu gabinete", referiu.

Rui Silva referiu que Adalberto Costa Júnior só conquistou a vitória, no congresso de 2019, por uma questão de unidade de determinad­os interesses, concorrend­o para o efeito três factores: o grupo de pessoas dentro da UNITA que tiveram problemas com Jonas Savimbi; aqueles que tiveram com Isaías Samakuva; e por causa de Lukamba Paulo Gato, que decidiu, à última da hora, apoiar Adalberto Costa Júnior e, isso, foi o factor decisivo para a sua vitória.

“Está a haver uma montagem da parte da UNITA, na pessoa do seu presidente, de um conjunto de mentiras graves contra a minha pessoa, honra, dignidade e, até, à minha vida”, disse

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VIGAS DA PURUFICAÇíO | EDIÇÕES NOVEMBRO Rui Galhardo Silva disse que vai recorrer à justiça para pedir responsabi­lização e por sentir que a sua vida corre perigo

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