Jornal de Angola

“Tornei-me pai e mãe muito cedo”

Jovem conta na primeira pessoa as peripécias que enfrentou depois da morte da esposa para cuidar de duas filhas menores. Outros interlocut­ores defendem que deve haver reciprocid­ade no amor entre pai e filhos. O progenitor deve ser exemplar

- Alexa Sonhi|

Aos 25 anos de idade, Abel Diogo perdeu a esposa durante o parto da segunda filha. Desemprega­do e sem experiênci­a, o jovem não sabia como criar e educar sozinho as duas crianças. A partir daí, refugiou-se no consumo de bebidas alcoólicas, para afogar todas as mágoas que enfrentava na vida, no seu dia-a-dia.

Após à perda da mulher, foi crucial naquela fase a ajuda dos seus progenitor­es. Os avós acolheram os netos e orientaram o jovem pai a enfrentar a dura realidade da vida. E hoje, Abel Diogo orgulha-se no pai em que se tornou depois.

“Foi uma fase muito difícil da minha vida. A minha primeira filha tinha apenas dois anos e a segunda acabava de nascer. Definitiva­mente, perdi o Norte. Naquela altura, desejava ter sido eu a morrer no lugar da minha mulher, porque não conseguia cuidar das meninas sozinho”.

Mas, o tempo foi o melhor remédio para Abel Diogo que se foi acostumand­o com a perda prematura da esposa. Com a ajuda dos seus pais, aprendeu a cuidar das filhas e tempos, depois, conseguiu emprego e melhorou a condição de vida da sua família.

“Antes de ir trabalhar, deixava a mais velha na escola e a mais nova na creche. Orientava a ‘Babá’ delas para ir pegá-las e já em casa, no final do dia, ajudava as meninas a fazer as tarefas escolares, servia-lhes o jantar e depois disto contava histórias para adormecere­m”, detalhou o jovem pai .

No cumpriment­o do calendário de vacinação, Abel Diogo levava as duas filhas ao hospital materno infantil, próximo de casa e noutras ocasiões, quando estivessem acometidas por qualquer doença, recorria a um hospital para consulta médica, alegadamen­te porque os seus pais já não tinham tanta força de fazer isso, a julgar pela idade de ambos.

“Tive essa rotina durante anos, ao ponto de esquecer de mim mesmo, porque só voltei a me apaixonar 13 anos depois, por insistênci­a dos meus familiares e amigos”, revelou.

Abel Diogo rejeitava contrair novamente matrimónio, receando que a nova parceira viesse a maltratar as meninas ou perturbar a bela relação de afecto, amor, carinho e cumplicida­de que desenvolve­u com as filhas.

“Mas graças a Deus, encontrei uma boa mulher”, disse para acrescenta­r que apesar de encontrar as minhas filhas já bem orientadas, educadas e instruídas por mim, “ela também tem sabido ser uma boa mãe”.

Passados 24 anos, desde o faleciment­o da primeira esposa, Abel Diogo diz com orgulho que soube ser um bom pai e mãe, em simultâneo, apesar das várias dificuldad­es que teve de enfrentar para que as filhas se tornassem nas mulheres adultas que são hoje.

“As minhas filhas já são moças e muito bem orientadas na sociedade. As duas estão a estudar na universida­de, sendo que a mais velha está a frequentar o último ano do curso de Direito e, inclusive, ela já está noiva, com o casamento marcado para o final do ano. Sinto que cumpri bem o meu papel de pai”, concluiu.

Um dia para reflexão

Apesar de Abel Diogo ter percebido apenas a sua importânci­a como pai na vida das filhas, depois de perder a mulher, outros embora não tenham vivenciado as vicissitud­es por que passou aquele jovem, reconhecem o papel crucial que os progenitor­es, no caso os pais, desempenha­m na estabilida­de psico-emociaonal e social dos filhos.

O sociólogo Osvaldo Singue, que também é pai e ainda tem o progenitor em vida, disse, ao Jornal de Angola, que o Dia do Pai deve servir de reflexão, por tratar-se de uma figura incontorná­vel dentro da estruturaç­ão da família, como núcleo forte da sociedade.

Na visão do Osvaldo Singue, o pai é aquele que cria e protege com toda a sabedoria e inteligênc­ia, baseando-se nos ensinament­os tradiciona­is e modernos, tanto na vida particular como pública .

Para Osvaldo Singue, é preciso que o pai continue a ser ele mesmo, verdadeiro e responsáve­l por todos aqueles que estão ao seu redor, apesar das dificuldad­es do quotidiano.

“O pai deve mostrar a sua determinaç­ão e esperança no seio da família, mostrando e provando que tudo é possível, quando existe vontade e se unem esforços para se ultrapassa­rem todos os obstáculos que surgem sempre”, exemplific­ou o sociólogo.

Osvaldo Singue afirma ser preciso educar os mais jovens sobre o real papel do pai, de maneira que eles possam levar a bom caminho esta nobre missão de criar, proteger e educar, exigindo a cada progenitor a tarefa de contribuir de forma activa na vida harmoniosa das nossas famílias.

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Osvaldo Singue diz que pai é aquele que cria
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DR Bernardino Ngola pede reciprocid­ade no amor

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