ONU e Etiópia acertam um inquérito conjunto
A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, aceitou, ontem, a proposta das autoridades etíopes sobre um inquérito conjunto no conflito da região autónoma do Tigray.
“A Alta Comissária respondeu positivamente ao pedido da Comissão para os Direitos Humanos Etíope (EHRC) à proposta de um inquérito conjunto”, disse à AFP Jonathan Fowler, porta-voz do bureau do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados. De acordo com Jonathan Fowler, residentes daquela região etíope denunciaram actos de violência sexual e de massacres contra os civis às ONG de defesa dos Direitos Humanos e aos de jornalistas. As mesmas ONG denunciaram ainda que o conflito armado destruiu o sistema de saúde, e alertaram contra o risco de fome em grande escala.
Em Novembro, o Primeiro-Ministro etíope, Abiy Ahmed, autorizou uma intervenção militar visando expulsar a Frente de Libertação do Povo do Tirgray (FLPT), no poder na região, que acusou de ter atacado bases das Forças Armadas Federais. A 28 do mesmo mês proclamou a vitória sobre os insurgentes, mas alguns dirigentes rebeldes escaparam e prometeram continuar a guerra.
Recentemente, o acesso a Tigray melhorou, mas as comunicações foram cortadas durante várias semanas, havendo também restrições na circulação de pessoas e bens, tornando difícil conhecer-se a situação no terreno.
Esta semana, os Médicos Sem Fronteiras disseram que 70 por cento das instalações de saúde na região foram saqueadas e mais de 30 por cento danificadas. Num relatório, a organização sublinha que as instalações de saúde foram “deliberadamente” atacadas para torná-las “não funcionais”, o que causou um impacto “devastador” na população, que disse ter verificado em visitas a 106 unidades de saúde entre meados de Dezembro de 2020 e início de Março corrente.
Antes do conflito, Tigray tinha um dos melhores sistemas de saúde da Etiópia, de acordo com os MSF. A instituição informou que um hospital de Semema foi incendiado e uma sala de parto em Sebeya destruída depois da instalação ter sido atingida por um morteiro e sublinhou que nas áreas rurais mulheres morreram durante o parto porque não puderam ir ao hospital.