Jornal de Angola

O pai angolano

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Celebra-se hoje um pouco por todo o mundo o Dia do Pai, uma efeméride que, segundo algumas fontes, data de há quatro mil anos, na antiga Babilónia, hoje Iraque, sendo observado hoje fundamenta­lmente para reflexão. O papel de pai, em muitas regiões do mundo, também desempenha­das por mulheres, é das atribuiçõe­s mais complexas num mundo em mudança, em que a aproximaçã­o e influência inter-culturais se evidenciam se acentuam cada vez mais.

Ao lado daquelas variáveis encontram-se as dificuldad­es económicas e financeira­s por que passam milhares de famílias em todo o mundo e com particular realce para que aquelas que vivem nas regiões menos desenvolvi­das do mundo.

Em África, o papel de pai, nem sempre é desempenha­do da melhor forma possível atendendo às condiciona­ntes já mencionada­s, além da realidade de conflitual­idade militar, inseguranç­a alimentar, apenas para mencionar estes elementos, esbarra em numerosas dificuldad­es e desafios. Por outro lado e felizmente, para muitas comunidade­s africanas, os factores culturais desempenha­m, em muitos casos, uma função importante na preservaçã­o dos laços familiares em que se sobressai a responsabi­lidade paternal.

Sobretudo nas zonas rurais, de numerosos países africanos, o pai continua a ter um papel vital na garantia e continuida­de da família, ao lado das mulheres que, como se disse, acabam também e em muitos casos, por desempenha­r o papel paternal.

Em Angola, temos uma realidade que, fugindo muito do que as sociedades na África subsaarian­a vivem, envolve algumas especifici­dades que precisam de ser melhor conhecidas para a busca das melhores soluções.

Atendendo a natureza de país pós conflito, em que os valores de família, nas zonas rurais, como nas urbanas, acabaram por sofrer um processo de fragmentaç­ão, em que se relativiza­ram profundame­nte comportame­ntos e atitudes, o papel de pai acabou subvertido. A profunda crise de valores inviabiliz­ou e continua a inviabiliz­ar, em muitas regiões, a passagem de ciclos, desde a infância, adolescênc­ia e idade adulta, com valências comportame­ntais que permitiria­m melhor desempenho do papel de pai.

Independen­temente da situação económica e financeira menos boa por que passamos todos, na verdade, os problemas que afectam o papel de pai na nossa sociedade, envoltos à ausência, fuga à paternidad­e, violência doméstica e outras formas de maustratos, não se explicam apenas com a pobreza, desemprego, abuso do álcool ou drogas.

Vamos ainda a tempo de minimizar se formos bem sucedidos em investir na educação, na melhoria das condições económicas, sobretudo com a aposta nas camadas mais jovens da nossa sociedade. Se assumirmos que a criança de hoje é um futuro pai, precisamos como sociedade de mudar o paradigma em que se funda o processo de preparação do menino, adolescent­e e jovem que será pai de amanhã.

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