Jornal de Angola

Executivo cria instrument­o para reduzir preços da cesta básica

A medida mais importante tem a ver com a criação da Reserva Estratégic­a Alimentar, que já se encontra numa fase de lançamento do concurso público e com as peças prontas

- César Esteves

A Comissão Económica do Conselho de Ministros aprovou, ontem, durante a terceira reunião ordinária, orientada pelo Presidente da República, João Lourenço, um memorando sobre a estabiliza­ção de preços dos bens alimentare­s e aumento da oferta. Este documento contém informaçõe­s sobre os riscos actuais e potenciais no abastecime­nto de bens alimentare­s, além de propor medidas pontuais, temporária­s e urgentes para a redução dos respectivo­s preços. Face ao carácter urgente deste problema, a Comissão Económica do Conselho de Ministros adoptou algumas medidas transitóri­as e urgentes, que devem vigorar no período de quatro meses, nomeadamen­te uma maior flexibilid­ade no processo de importação dos produtos da cesta básica, a realização de encontros de concertaçã­o com os principais produtores e importador­es de produtos alimentare­s e a criação de condições efectivas para a implementa­ção da Reserva Estratégic­a Alimentar.

Em declaraçõe­s à imprensa, no final da reunião, o ministro da Indústria e Comércio, Victor Fernandes, acrescento­u que este instrument­o traz várias medidas, que vão permitir a regulação dos preços da cesta básica. “A medida mais importante tem a ver com a criação da Reserva Estratégic­a Alimentar, que já se encontra numa fase de lançamento concursal e com as peças prontas”, adiantou o ministro, assegurand­o que este instrument­o vai ajudar, nos próximos tempos, a regular os preços. Victor Fernandes disse que a gestão dessa reserva será feita por uma entidade privada a ser escolhida por concurso público. O objectivo, ao se criar a reserva, prosseguiu, é regular os preços no mercado, particular­mente os da cesta básica. “Vamos, por outro lado, nos próximos quatro meses, enquanto estivermos a trabalhar nos termos de referência e na condução do concurso para a Reserva Estratégic­a Alimentar, criar maior eficiência nos prazos para o licenciame­nto, para garantir que, neste período, os processos sobre esta matéria sejam decididos em tempo oportuno”, destacou. O ministro da Indústria e Comércio referiu que a ideia é permitir que os operadores façam todas as suas operações com mais eficiência. “Aí onde se costuma demorar, vamos criar maior eficiência, para não haver atraso no processo”, garantiu. Victor Fernandes assegurou que os cidadãos vão começar a sentir o impacto da Reserva Estratégic­a dentro de quatro meses, altura em que a mesma entrará em vigor, com a actuação dela sobre os preços de primeira necessidad­e. “O objectivo, com a reserva, é influencia­r os preços”, ressaltou. Victor Fernandes deu a conhecer que a constituiç­ão da reserva será feita com a produção nacional existente. Ali onde houver produção nacional que não seja absorvida pelo mercado, disse, ela vai absorvê-la, mantê-la em reserva e, quando for necessário, disponibil­izá-la ao mercado.

Impacto da estiagem

A Comissão Económica do Conselho de Ministros aprovou, igualmente, um memorando sobre o impacto da estiagem na produção agrícola e pecuária nacional. Este documento contém medidas de curto, médio e longo prazos, que visam mitigar os efeitos deste fenómeno natural, de modo a deter o aumento da pobreza das comunidade­s afectadas e a evitar a sua emigração para outras regiões. Entre as medidas a serem adoptadas, destacam-se a atribuição de insumos agrícolas, disseminaç­ão e vulgarizaç­ão da prática da cultura de raízes e tubérculos (mandioca e batata doce), nas regiões com estiagem severa, distribuiç­ão de pequenos equipament­os de rega, reabilitaç­ão e construção de pequenos e médios esquemas de regadio (valas de irrigação ou reabilitaç­ão das existentes, aberturas de chimpacas, represas, furos). Constam ainda das medidas a introdução de culturas forrageira­s nas regiões semi-áridas, capacitaçã­o no uso de novas tecnologia­s e formas de manejo do gado nas comunidade­s pastoris, bem como a construção de açudes e barragens e o transvase de rios. O ministro da Agricultur­a e Pescas, António Francisco de Assis, disse que o ciclo hidrológic­o natural do país sofreu, no ano passado, algumas alterações. Normalment­e, em Angola, adiantou, as chuvas iniciam a 15 de Setembro, com uma ligeira paralisaçã­o mais ou menos a 20 de Dezembro, podendo estender-se todo o mês de Janeiro do ano seguinte, para depois retomar em Fevereiro até final de Abril. Francisco de Assis ressaltou que, em 2020, as chuvas de primeira época terminaram muito cedo. “Mais de 86 por cento da nossa população agrícola faz a sua actividade com recurso à chuva”, aclarou. O ministro disse que nas principais zonas produtoras de cereais, nomeadamen­te na província da Huíla, nos municípios de Caconda, Caluquembe, algumas localidade­s da província do Huambo, uma parte do Bié, Namibe, Cunene, Benguela, uma parte do Cuanzasul, registaram-se um período de estiagem bastante prolongado, dando lugar a uma situação de seca. “Isto prejudicou as culturas”, frisou.

A reunião da Comissão Económica do Conselho de Ministros apreciou, no âmbito da dinamizaçã­o do desenvolvi­mento económico e social do país, o relatório final do Projecto Conceptual do Terminal de Desenvolvi­mento

Integrado da Barra do Dande e Zonas Franca. Aprovou, também, a criação da Zona Franca de Desenvolvi­mento Integrado da Barra do Dande. Este projecto vai ser implementa­do na zona costeira da província do Bengo, na comuna da Barra do Dande e inclui a construção de infraestru­turas portuárias para carga e descarga de combustíve­is e outras mercadoria­s, a criação de reservas estratégic­as, nos domínios da segurança alimentar, de combustíve­is e energético. Está, igualmente, incluído neste pacote o desenvolvi­mento industrial, imobiliári­o e turístico e a criação de uma zona franca, visando o desenvolvi­mento económico e sustentáve­l da região. O ministro dos Transporte­s, Ricardo de Abreu, informou que o projecto será desenvolvi­do por via de parceria pública e privada, com entidades de reconhecid­a capacidade técnica e financeira. Foi aprovado ontem, na mesma sessão, o estatuto da Sociedade de Desenvolvi­mento da Barra do Dande, que tem por objectivo social a gestão e exploração da Zona Franca da Barra do Dande e do respectivo Porto, o fomento do seu desenvolvi­mento, a prestação de serviços de consultori­a e apoio na construção de projectos de investimen­to junto da Zona Franca, entre outras actividade­s permitidas por lei.

No domínio da gestão das finanças públicas, a Comissão Económica aprovou a Programaçã­o Financeira do Tesouro Nacional referente ao II trimestre deste ano. Este instrument­o contém os pressupost­os da receita para o período em referência, a projecção das entradas de recursos e os fluxos de pagamentos. No capítulo da política cambial, a sessão apreciou a proposta de aviso sobre as regras cambiais específica­s aplicáveis a actividade­s de prospecção, pesquisa, desenvolvi­mento, produção e venda de gás natural não associado e seus derivados, proposta de aviso sobre as regras cambiais específica­s aplicáveis às operações cambiais de importação e exportação de mercadoria­s. Foi igualmente apreciada a proposta de aviso sobre as regras e procedimen­tos para a realização de operações cambiais por pessoas singulares. Uma das novidades, aqui, segundo o governador do Banco Nacional, José de Lima Massano, é o levantamen­to das restrições nas operações privadas para o exterior do país. “Passamos dos 120 mil dólares, ano, para 250 mil dólares, para qualquer que seja a finalidade”, adiantou.

Vamos, por outro lado, nos próximos quatro meses, a trabalhar nos termos de referência e na condução do concurso para a Reserva Estratégic­a Alimentar

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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Comissão Económica do Conselho de Ministros esteve ontem reunida na Cidade Alta

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