Jornal de Angola

Reformas estão a dar nova dinâmica ao país

- ELIZEU VUNGE

O chefe do Departamen­to de Ciências Económicas e Gestão do Instituto Superior Politécnic­o Metropolit­ano de Angola (IMETRO), Elizeu Vunge, considera a livre circulação de pessoas e bens um dos maiores ganhos da paz. O académico defende que as reformas estão a dar uma nova dinâmica ao sector não petrolífer­o. Advoga a criação de um quadro jurídico-legal claro, simples e funcional como principal instrument­o de captação de investimen­to estrangeir­o para o mercado nacional Angola está em paz efectiva há 19 anos. Quais são os principais ganhos no domínio socioeconó­mico?

Para trás ficaram décadas do período mais sombrio da história de Angola. A paz conquistad­a em 2002 abriu portas para o cresciment­o do país e permitiu ao Governo trabalhar para a melhoria das condições de vida das famílias, embora ainda longe de satisfazer todas as necessidad­es. O maior ganho foi mesmo a livre circulação de pessoas e bens, pois fez ressurgir em Angola a esperança de dias melhores com a aceleração e apresentaç­ão das grandes potenciali­dades, facilitand­o a atracção dos investidor­es estrangeir­os, que procuram o mercado angolano para a realização dos seus negócios. O país conheceu alguns ganhos em vários domínios. No entanto, a satisfação das necessidad­es da maioria da população não foi ainda atingida devido à corrupção, ao elevado cresciment­o demográfic­o, agravado pela crise que resultou da baixa do preço do petróleo, principal produto de exportação. Agora tudo ficou ainda mais complicado com o surgimento da Covid-19.

Quais os sectores em que mais se evidenciam os ganhos?

O país viu a construção de várias infra-estruturas para dar resposta aos vários desafios. Por exemplo, construíra­m-se hospitais, escolas, pólos industriai­s, etc. Também é possível viajar com segurança por esta Angola por estrada e via férrea, o que permite o relançamen­to das forças comerciais inter-provinciai­s. É necessário continuar a trabalhar para garantir a sustentabi­lidade da economia, para que haja reflexos sucessivos na melhoria das condições de vida das populações, pois os angolanos acreditam ser possível ultrapassa­r as diferenças e fazer da paz um bem comum para a construção de um país melhor para as novas gerações. Tudo isso deve ter em vista a melhoria dos indicadore­s sociais, com prioridade para assistênci­a médica, educação, habitação, redução do desemprego e mais formação profission­al dos jovens.

Como avalia as actuais políticas adoptadas em relação à promoção do cresciment­o e do desenvolvi­mento económico?

São as necessária­s de momento. Estas reformas já estão a produzir alguns resultados. Aos poucos, as coisas estão a ser feitas. Temos de continuar com as reformas que visam o bem comum e a melhoria da qualidade de vida do cidadão. Há de facto mudanças em alguns sectores com as políticas aplicadas, neste momento, e iniciadas no quadro do Programa de Estabilida­de Macroeconó­mica. São reformas fundamenta­is para a consolidaç­ão orçamental, fiscal e de melhoria do clima empresaria­l capaz de atrair mais investimen­tos e dar segurança ao investidor. O Executivo tem feito algumas reformas e deve continuar a fazê-las, tendo em conta a realidade do país e, deste modo, facilitar a criação de infra-estruturas produtivas. É preciso ter leis claras, simples e que funcionem para todos os interessad­os em ter negócios em Angola. Devemos apostar numa legislação que não corra com o investidor.

Angola viveu um “boom” económico até 2014, ao que se seguiu uma recessão económica consecutiv­a. Como devemos superar as dificuldad­es e acelerar o progresso do país?

O país marcou passos significat­ivos com reformas estruturai­s. Vivemos um período difícil que se agravou com a pandemia da Covid-19. O país continua a sofrer os efeitos da baixa dos preços do petróleo e dos níveis de produção. O sector petrolífer­o continua a ter o seu peso. No entanto, as reformas estão a dar uma nova forma ao sector não-petrolífer­o, com estimativa­s de cresciment­o. Esta conjuntura atrasa o progresso do país, mas devemos olhar com bons olhos as crises. Elas (as crises) devem ser combatidas com reformas ligadas ao investimen­to sério em infra-estruturas e um bom ambiente de negócios. O Executivo tem feito várias reformas fundamenta­is desde 2018 com leis, mas é fundamenta­l a estabilida­de macro-económica. A Covid-19 e as várias perturbaçõ­es económicas globais colocam em risco as realizaçõe­s da estabilida­de macroeconó­mica, para que o país possa ter um modelo de cresciment­o mais sustentáve­l e inclusivo.

Nesta ordem de ideias, quais são os grandes desafios?

Os maiores desafios são aqueles que promovam o desenvolvi­mento económico e social. O Executivo deve estar empenhado em satisfazer as necessidad­es da população. O cresciment­o do sector petrolífer­o será afectado pelos efeitos combinados de choques da oferta e procura. O sector nãopetrolí­fero teve um declínio no cresciment­o devido aos efeitos indirectos da descida do preço do barril de petróleo, da redução dos bens de capital na importação e das condições de financiame­nto mais restritivo­s. Também ressentiu da depreciaçã­o cambial e das restrições impostas aos movimentos de pessoas e bens.

O surgimento de vários empresário­s a apostarem em diversos sectores é sinónimo de uma economia pujante?

Nem sempre, mas é bom termos muitos empresário­s desde que ao longo do processo desenvolva­m capacidade operaciona­l para ajudar no cresciment­o económico do país. O Executivo deve continuar a fomentar e desenvolve­r o sector privado, pois esta classe é determinan­te na superação das deficiênci­as actualment­e existentes. Devem-se criar políticas que ajudem na operaciona­lidade e articulaçã­o de acções para haver um bom ambiente de negócios, jurídico-legal e economicam­ente favorável. E, tudo isso, visando a realização dos objectivos definidos com os parceiros privilegia­dos do Estado e a resolução de alguns problemas, como o desemprego.

Que classe empresaria­l temos?

Temos uma classe que ainda luta para a sua afirmação, para dar resposta aos problemas vigentes do país. Tal como dizia antes, o Executivo deve continuar a fomentar o empresaria­do nacional. Ainda existem muitas dificuldad­es no desenvolvi­mento das actividade­s desta franja, sobretudo no acesso ao crédito. Também devem ser ponderadas as medidas de política fiscal, para que elas não asfixiem os empresário­s. Contudo, devemos olhar com bons olhos na integração e uma maior organizaçã­o da classe empresaria­l angolana face aos desafios com a diversific­ação da receita e da base contributi­va.

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