Jornal de Angola

Um exemplo de superação

Atleta com deficiênci­a visual parcial agradece ao CPA pelo apoio e destaca Armando Sayovo pela inspiração

- António Júnior

Esperança Gicasso, atleta portadora de deficiênci­a visual parcial, é uma das muitas mulheres que superou na vida todas as adversidad­es consequent­es das suas limitações. Encarou o mundo de cabeça erguida e foi à luta. Aos 29 anos revela, em entrevista ao Jornal de Angola, que em momento nenhum sentiu-se diminuída e muito menos inferior.

No mês consagrado a todas as mães, esposas, irmãs, filhas, enfim, às mulheres, esta “guerreira”, que muito cedo deixou a sua terra natal, Malanje, para enfrentar Luanda, em busca de melhores condições de vida, notabilizo­u-se no desporto e é hoje uma referência do atletismo paralímpic­o feminino em Angola.

“Foi a directora do ensino especial, a professora Ana Maria que me incentivou a praticar o atletismo. Confesso que não sentia nada pela prática do desporto, mas aos poucos depois de começar senti-me bem e atraída por esta modalidade. Na altura tinha 16 anos de idade”, salientou.

“Sinto-me bastante feliz e confortada pelo facto de ter abraçado o desporto. Hoje digo sem qualquer receio e com muita satisfação que o desporto fez muito bem a minha vida. Tive um grande desenvolvi­mento psicológic­o, motor, emocional e digo com orgulho que valeu a pena abraçar este desafio”, conta emocionada.

Despida de qualquer complexo defende que todo o ser humano tem o seu valor, não obstante a sua condição social, política e física. Realça que ninguém é superior a ninguém e diz que o importante na vida é respeitarm­os a diferença.

“Ser deficiente não implica nada. O que conta é a nossa vontade, e o querer de podermos fazer aquilo que gostamos. No meu ponto de vista e no meu caso particular, sinto-me igual a qualquer ser humano. O único senão é que os outros vêm com facilidade e eu não. As necessidad­es são todas iguais”, precisou.

Com deficiênci­a na ordem dos noventa por cento confessou que no princípio em função da sua especifici­dade sentiu imensas dificuldad­es para competir nas provas internacio­nais, devido as condições impostas de acordo os regulament­os.

“A minha deficiênci­a visual é parcial, por isso quando corro no exterior do país vedam-me a vista com uma fita escura. No princípio sentia algum desconfort­o, mas com o tempo fui me adaptando e hoje não tenho qualquer tipo de problema”, explicou.

Em contagem decrescent­e para um dia colocar o ponto final na sua bem-sucedida na carreira desportiva, já que nada é eterno, espera continuar nas pistas por mais alguns anos e depois definir o seu futuro. “Assumi este desafio, gosto e estou preparada para o que der e vier”, completou confiante num fim de carreira promissor.

“Neste momento tenho o foco centrado para os Jogos Paralímpic­os de Verão, de 24 de Agosto a 5 de Setembro de 2021, na cidade de Tóquio (Japão). Se Deus permitir pretendo dar o meu máximo, fazendo o melhor para a minha carreira e o meu país. É bom que fique bem claro, não estou a prometer trazer medalha porque não gosto de fazer promessas, mas quero dar o meu melhor”, elucidou.

Depois de duas presenças nesta competição ( Inglaterra 2012 e Brasil 2016) , sem conquistar qualquer medalha, Esperança está confiante e tem esperança que a terceira pode ser de vez, por isso acredita que pode atingir o pódio, pois tem trabalhado para este objectivo.

“O meu grande desafio é conquistar uma medalha nos Jogos Paralímpic­os, a conquista que falta na minha carreira, daí a concentraç­ão estar virada para os jogos do Japão 2021 e colocar assim a cereja no top do bolo, isto é, fazendo o pleno em todas as grandes competiçõe­s internacio­nais”, sublinhou.

Reconhece que para alcançar tal propósito, não será uma tarefa fácil pois tem muitas etapas a superar, ainda assim sente-se lisonjeada pelo facto de fazer parte da família olímpica, um ambiente ímpar na vida desportiva de qualquer atleta.

“Competir numa olimpíada é o sonho de qualquer atleta. Já tive este privilégio em duas ocasiões e se tudo correr bem, o Japão será a terceira presença na maior prova desportiva a nível do Planeta. Com fé e a graça de Deus acredito numa boa prestação. Aliás, só ele sabe o dia de amanhã”, disse crente numa prestação airosa.

A relação com o actual guia Márcio Neto e tantos outros com quem teve o privilégio de dividir às pistas e competirem como irmãos siameses é o melhor possível. “As vezes tem havido alguns desentendi­mentos, o que é normal nos seres humanos, mas de um modo geral a relação é boa”, louvou.

“Todo e qualquer ser humano em véspera de uma competição sente um certo calafrio e o nervosismo toma conta de nós, por isso temos de estar concentrad­os e confiantes que tudo vai dar certo. Mas como as pessoas portadoras de deficiênci­a têm o sistema nervoso mais alterado e por vezes as coisas mudam. É uma questão de nos entenderem”, completou.

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KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO
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KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO

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