Jornal de Angola

Desminagem devolve segurança à terra

A porção já desminada em todo o país correspond­e a mais de dois terços da área global identifica­da logo depois da guerra

- ZONAS LIVRES DE ENGENHOS EXPLOSIVOS

À medida que os anos passam, aumenta no país o número de campos minados que cedem lugar a projectos agrícolas, industriai­s, habitacion­ais, rodoviário­s e ferroviári­os, embora os números apontem para um caminho ainda longo para que Angola seja declarada “território livre de minas”.

O balanço mais recente indica que, desde o arranque dos trabalhos, o processo permitiu a limpeza de uma área global superior a 13 mil milhões de metros quadrados de superfície, com a remoção de 453.161 minas anti-pessoal, 26.833 minas anti-tanque, 6,1 milhões de engenhos explosivos não detonados, 3,1 milhões de quilos de material letal diverso e 15,1 milhões de metais.

Os benefícios disso, de acordo com o chefe-adjunto da Direcção de Engenharia do Exército e chefe da Sala

Operativa da Comissão Executiva de Desminagem, brigadeiro António Jorge, vão desde o aumento do sentimento de segurança, para quem vive no país, à inspiração de confiança a investidor­es estrangeir­os.

Os ganhos, acrescenta o militar, estendem-se à recuperaçã­o 3.218 quilómetro­s de linhas de caminhos-deferro, à instalação de 10.006 quilómetro­s de extensão de fibra óptica, 350,3 milhões de extensão de linhas de transporte de energia eléctrica de média e alta tensão.

Os ganhos vão ainda da reabilitaç­ão de 109 mil quilómetro­s de estradas, incluindo secundária­s e terciárias à construção e modernizaç­ão de 1,3 milhões de quilómetro­s de água e canais de irrigação e 52 mil quilómetro­s de linhas sísmicas.

A porção já desminada em todo o país, segundo dados cruzados pelo Jornal de Angola, correspond­e a mais de dois terços da área global identifica­da logo depois da guerra.

Dados compulsado­s por este jornal indicam que dos cerca de três mil campos de minas então identifica­dos, mais de 2.000 já foram limpos, o que envolveu esforço financeiro de cerca de 500 milhões de dólares.

O ritmo inicial dos trabalhos levou as autoridade­s a aprazarem para 2025 o término do processo, mas a crise económica e financeira que atinge o país, desde a queda abrupta em 2014 do preço do petróleo no mercado internacio­nal, desacelero­u o andamento dos trabalhos.

Em consequênc­ia disso e após a divulgação, em Genebra, de um relatório do Landmine Monitor, o país pediu em 2018 uma extensão do prazo para até Janeiro de 2026 eliminar os campos residuais de minas.

Na quinta-feira, o brigadeiro António Jorge, que apresentav­a aos jornalista­s a trajectóri­a e as perspectiv­as da desminagem no país, admitiu que o processo pode levar mais tempo do que o previsto. “Podemos estar a falar de 2040 e, na melhor das hipóteses, 2032”, vaticinou o oficial general.

Compartici­pação financeira

Para fazer face à crise financeira que o país atravessa, segundo o brigadeiro, a Comissão Executiva de Desminagem adoptou uma política de compartici­pação dos organismos e pessoas singulares nos custos operaciona­is, iniciativa já comunicada ao Ministério das Finanças.

Os valores, segundo o oficial general, variam entre 30 e 160 kwanzas por metro quadrado, sendo que para as grandes empreitada­s aplica-se o menor valor da tabela. “Quanto maior for o terreno a desminar, menor é o preço, devido aos custos operaciona­is, resultante­s da movimentaç­ão de pessoal e equipament­os”, explicou.

Os valores arrecadado­s são maioritari­amente canalizado­s para a melhoria das condições de trabalho dos 4.215 sapadores espalhados pelo país que, devido à crise, viram amputados, entre outras regalias, os subsídios de risco a que tinham direito.

 ?? ANTÓNIA JOÃO | EDIÇÕES NOVEMBRO ??
ANTÓNIA JOÃO | EDIÇÕES NOVEMBRO

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola