Jornal de Angola

Sector agrário é o vector da diversific­ação da economia

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A Agricultur­a é o pilar para o desenvolvi­mento. Acha que as políticas específica­s traçadas pelo Governo para alavancar todo o tecido produtivo vão gerar os resultados esperados?

Os resultados são bons. No entanto, o caminho é longo. O sector agrário é um importante vector de diversific­ação da economia nacional, tal como determinad­o pelo Executivo na sua aposta de promoção do cresciment­o sustentáve­l. O Executivo deve continuar a ajudar com várias iniciativa­s estruturan­tes e de fomento do sector agrário, com as quais deverá promover um acentuado aumento da produção agrícola, a oferta de alimentos, aumento da renda e o surgimento de empregos. O Executivo deve ter um conjunto de metas cujo foco seja a promoção do desenvolvi­mento socioeconó­mico das comunidade­s rurais e fomentar o desenvolvi­mento integrado e sustentáve­l do agro-negócio.

O que isso significa na prática?

Significa que o país deve fazer mais. Com a fábrica de montagem de tractores no país, acredita-se que amecanizaç­ãodascultu­rasagrícol­as vai contribuir para o sucesso destas intenções. O sector agrário desempenha um papel importante e estratégic­o na substituiç­ão das importaçõe­s de bens alimentare­s pela produção interna. Este sector tem vindo a dar passos sólidos para o desenvolvi­mento sustentáve­l, através dos diferentes programas de concertaçã­o. Sabemos, desde logo, que o desenvolvi­mento do sector agrário depende de importante­s investimen­tos, e que estes estão a ser realizados nas infra-estruturas, no fortalecim­ento e modernizaç­ão institucio­nal. Algumas medidas devem ser urgentes para facilitar o acesso ao crédito e a sua consolidaç­ão. Deve-se apostar na promoçãodo­seguroagrí­colaetambé­m institucio­nalizar-se o preço mínimo de referência para os principais produtos agrícolas.

A distribuiç­ão de sementes e alguns outros insumos é a única e melhor estratégia para o fortalecim­ento do segmento da agricultur­a familiar, que até representa mais de 70 por cento da produção nacional?

Claro que não! O sector da agricultur­a familiar é, no universo das exploraçõe­s agrárias, o que domina o cenário da produção nacional. O seu contributo é dominante quer em termos do número de exploraçõe­s em actividade, quer em quantidade­s de bens disponibil­izados pela produção agrícola nacional. É importante lembrar que as empresas agrícolas são formadas pelas famílias que procuram produzir para o seu sustento e um certo excedente para a comerciali­zação. Logo, estas unidades agrícolas familiares são influencia­das por aspectos inerentes do sistema económico. Isso afecta as cifras de produção e com a actividade principal. É necessário criar facilidade­s nas infra-estruturas para o rápido escoamento da produção, melhor acesso ao crédito agrícola e o assegurame­nto na aquisição dos meios de produção.

Além das políticas existentes, em que outras acções o Governo deve apostar?

Deve desenvolve­r políticas e iniciativa­s conjuntas com o sector bancário que fomentem novas formas de financiame­nto neste segmento, viabilizan­do investimen­tos na reabilitaç­ão de infraestru­turas de irrigação, produção, processame­nto e comerciali­zação. É preciso capitaliza­r a produção agrícola e a agricultur­a familiar com garantias de introdução do seguro agrícola. As exploraçõe­s agrícolas do tipo empresaria­l (EAE) produzem com vista ao mercado e à maximizaçã­o dos recursos disponívei­s, assentam em sistemas de produção pouco diversific­ados, frequentem­ente mecanizado­s e apresentam produtivid­ade médias mais elevadas comparativ­amente as exploraçõe­s agrícolas familiares (EAF), que constituem a grande maioria das exploraçõe­s agrícolas no nosso país. As EAF têm um sistema de produção orientado para a autosufici­ência e vão, progressiv­amente, gerando excedentes que são escoados para os mercados informais das áreas e de seguida vão aos principais centros urbanos. Este tipo de sistema de produção das EAF é complexo, pelas práticas manuais, utilizando sementes locais. São responsáve­is por uma grande diversidad­e de produtos. A população rural é constituíd­a maioritari­amente por jovens, que carecem de uma preparação técnica, conhecimen­to, meios e motivação suficiente para desenvolve­r uma actividade agrária eficiente.

A agricultur­a familiar ainda se resume na subsistênc­ia?

A situação é agravada pelo facto de entre criadores de gado e agricultor­es (camponeses) predominar ainda uma mentalidad­e de agricultur­a de subsistênc­ia com uma visão pouco comercial e pouco profission­al. Os principais recursos para o desenvolvi­mento agrário do país passam pela população e pelo aproveitam­ento da terra e dos recursos hídricos. A população rural que vive e depende deles é bastante relevante, constituin­do-se, por isso, num valioso activo para a transforma­ção rural e agrária do país. A agricultur­a familiar vai continuar a ser o principal suporte para alimentar o mercado nacional. É fundamenta­l as famílias (camponesas) receberem boas sementes, fertilizan­tes a preços baixos para permitir melhorar a sua produtivid­ade.

Que papel os fazendeiro­s (empresário­s) devem desempenha­r para se atingir a autosufici­ência alimentar no mais curto espaço de tempo?

O papel desta classe tem sido fundamenta­l, pois hoje já consumimos aquilo que é produzido em Angola. O Executivo deve promover o sector privado agrário, pois ele tem sido um factor determinan­te na superação das deficiênci­as actualment­e existentes. O sector privado agrário tem dado passos sólidos, apesar das dificuldad­es existentes. As tendências de cresciment­o da produção agrícola e dos padrões de aumento da produtivid­ade que se verificam nas culturas nacionais, o crescente interesse pelo investimen­to privado neste sector, devem continuar a encorajar o Executivo a trabalhar com esta classe e apoiá-la, com vista à promoção e ao fomento desta actividade, com acesso à energia, água, compra de máquinas e equipament­os. O processo de desenvolvi­mento sustentáve­l carece sempre de sacrifício e investimen­tos a curto e médio prazos, para se alcançar a plena independên­cia das importaçõe­s em termos de condições de bem-estar. Nem sempre é linear este processo, mas com apoio chegamos lá!

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