Desbravar terrenos agrícolas por Angola adentro
Os profissionais da comunicaçao puderam ver os grandes desafios de um sector que precisa de uma lufada de ar fresco, num momento de dificuldades acrescidas com a seca e fome severas, fundamentalmente no centro e sul de Angola
Naquela que terá sido a maior expedicão alguma vez realizada por Angola adentro, jornalistas de vários órgãos deixaram o conforto das redacções e, em cerca de um mês, percorreram exactos 6mil 674 quilómetros ao encontro das familias camponesas, cooperativas, associacões agricolas e grandes proriedades agropecuarias em oito provincias.
Num diagnóstico possível, a terceira edicão do projecto jornalístico “Andar o país pelos caminhos da agricultura e do desenvolvimento” foi uma oportunidade ímpar para ver o que de melhor se faz no campo, os constrangimentos que os produtores enfrentam diariamente para levar a comida à mesa dos angolanos e os grandes desafios das fazendas para a produção em escala de cereais e carne.
A expedição também permitiu perceber, com detalhe, as grandes assimetrias entre as diferentes regiões de Angola, no que à poducão de alimentos diz respeito, numa altura em que as populações do centro e sul de Angola enfrentam grave escassez de comida, por conta de uma prolongada estiagem que levou já a perda do que se esperava das colheitas da primeira época.
Idos de Luanda, os componentes da expedicão organizada pela estacão de Rádio Luanda Antena Comercial (LAC), a que se juntaram jornalistas da TPA, Tvzimbo, ZAP, RNA, do Jornal de Angola,
Novo Jornal, Expansão, transportados em dez viaturas de marca Toyota Land Cruizer, seguiram para o Norte, flectindo depois para o Centro até alcancarem, 25 dias depois, a Tunda dos Gambos, no extremo Sul de Angola, hoje o epicentro da fome na Huíla.
Terra do Bago Vermelho
A primeira etapa da excursão foi consumida na principal província cafeícola de Angola, Uíge, com uma paragem no município de Quitexe, para uma visita à Fazenda Marcela e um encontro com uma cooperativa de agricultura familitar. Isso depois de uma viagem entre as comunas de Caxito e Úcua, no município do Dande, Piri, Dembos e Quibaxe, na província do Bengo, e Vista e Alegre e Quitexe no Uíge.
Uma chuva torrencial inviabilizaria a visita à Fazenda Vila Mawete, descrita aos jornalistas pelo governador do Uíge, José Carvalho da Rocha, como tendo grandes performances. Em compensação, os excursionistas foram recebidos, no dia seguinte, na fazenda Kinvovoto, no município do Songo, um exemplo acabado da aposta na produção de café em alta escala, apesar das dificuldades de acesso ao financiamamento bancário.
Uma realidade que afecta a maioria dos cafeicultores que se juntaram nessa propriedade, para apresentarem as suas “queixas” aos jornalistas.
Ainda em território do Uíge, a jornada acabaria por passar por Negage, para uma visita aos Institutos de desenvolvimento agrário e superior político. Depois, a caravana “guinou” para Sanza Pombo, onde assistiu a abertura da safra de arroz na Fazenda Agrícola Kimuanza e visitou uma cooperativa agrícola familiar. No Sanza Pombo, os expedicionistas foram surpreendidos, numa unidade sob gestão da Gesterra, com cerca de duas mil toneladas de arroz que não chegaram a ser descascadas.
Gado de Camabatela
A etapa do Cuanza-norte foi totalmente cumprida no conhecido Planalto de Camabatela, que se estende ainda pelas províncias do Uíge e de Malanje, com um registo de 208 fazendas, das quais apenas 58 estão operacionais. Na fazenda Pecuária Sorte Atalaia – Camabatela e Capeka, os profissionais puderam ver grandes manadas de gado bovino, provienientes do sul de Angola ou importados da Namibia, criados a pensar na dininuicão da importação da carne.
Particularmente interessante, foi o encontro com pequenos e médios criadores, de quem foram ouvidos os projectos, mas, sobretudo, as dificuldades de acesso ao financiamento bancário.
No Planalto de Camabatela, existem extensões de terras a perder de vista e a precisarem de investidores, algo que poderá contribuir para a diminuicão dos elevados índices de desemprego na região, como espera o governador do Cuanza-norte, Agostinho Mendes de Carvalho, que, numa bem sucedida operação de marketing,se juntaria à caravana de jornalistas.
Mas há preocupações de monta no Planalto de Camabatela. O gado proveniente do Chade, como contrapartida de uma dívida de cem milhões de dólares a Angola, não terá conseguido adaptar-se facilmente, do que resultou a morte de um, pouco desprezível, número de animais.
Na Fazenda Capeca, por exemplo, quase metade das 600 cabeças de gado, do lote chegado do Chade, já morreu, levando os criadores a interrogarem-se sobre as condições criadas para a recepção e adaptação dos animais. “Aqui, o gado do Chade é para esquecer”, sublinhou um responsável da Capeca.
Picadas em Malanje
Depois de Camabatela, os jornalistas subiram para Malanje, seguindo a rota Luinga-cassule-cateco Cangola-cabaça Muhongo-calandula, um troço em péssimo estado, que a exigir muita perícia dos condutores. As dificuldades de comunicação foram, também, um teste aos nervos dos profissionais para o envio dos seus despachos. Houve quem, imaginese, subissse a copas de árvores para conseguir uma ligação.
No Luinga, onde fomos recebidos pelas autoriodades de Malanje, há uma cooperativa agrícola familiar, a Ana Senda, que é considerada um caso de sucesso. Existem, também, duas fazendas, uma agrícola e outra agropecuária. A primeira, a “Raízes da África”, dedica-se, sobretudo, à produção de abacaxixi e canade-açucar, de que já resultou a montagem de uma unidade para a produção de aguardente e licor. A segunda, a “2M”, posssui quinhentas cabeças de gado bovino e pretende chegar às mil e quinhentas nos próximos tempos, segundo declarações do seu sócio gerente, Mário Rui, que ao Jornal
de Angola indicou terem sido investidos até agora cerca de um milhão de dólares.
Já era noite, quando a caravana chegou à Fazenda Tchimutaluta, na localidade do Soteco, Cacuso, para retemperar forças num resort desenhado a pensar no turismo rural.
A estada em Malanje incluiu, ainda, a passagem pelos projectos agrícolas da Quizenga e UNICANGA, que se destacam na produção de milho e soja em alta escala, antes de atingir a Quibala, em território do Cuanza-sul, seguindo a linha Lombe - Cacuso - Pedras Negras –Lauca – S.pedro da Quimba – Alto Dondo e Lussusso.