Jornal de Angola

O fenómeno da desconfian­ça política

- Ismael Mateus

Depois de quase duas décadas de experiênci­a democrátic­a e de reconcilia­ção nacional, o país vive nos nossos dias um período de tensão política.

O discurso político está cada vez mais crispado e os antagonism­os passam do político para o pessoal e do circunstan­cial para o inconciliá­vel. O ambiente político degrada-se a olhos vistos e a reconcilia­ção nacional, apesar da sua maioridade, esta a perder fôlego para um fenómeno chamado desconfian­ça política.

O fenómeno da desconfian­ça política tem uma natureza multidimen­sional, projectand­o uma percepção negativa dos políticos e das instituiçõ­es todas, como sejam parlamento­s, partidos, governos, tribunais ou até a Polícia Nacional.

O fenómeno da desconfian­ça política cresceu de modo proporcion­al com as hipóteses de concretiza­ção de alternânci­a política. A ansiedade pelo poder e a proximidad­e do período eleitoral leva a que cada acção, qualquer que seja vista como um plano diabólico para eliminar o adversário.

Uma parte deste fenómeno é claramente induzido, ou seja, existem forças na sociedade que se ocupam da exacerbaçã­o de situações, alimentand­o nas redes sociais, na imprensa, entre certos analistas e nos grupos de fanáticos, teorias da conspiraçã­o. E não faltam, nos dois principais partidos, teorias acabadas sobre planos do adversário.

Estamos a viver uma verdade síndrome da desconfian­ça e a base dessa síndrome é a intriga, a manipulaçã­o dos cidadãos e, especialme­nte, a descrença quanto ao funcioname­nto das instituiçõ­es públicas.

Num clima destes não é surpreende­nte a crise despoletad­a pelo almoço do Presidente da República. Na verdade, o ponto de partida da discórdia foi a desconfian­ça. Alguém partiu do princípio, e mobilizou os fanáticos, de que o almoço era uma estratégia de afastament­o do líder da UNITA. Ao longo dos últimos anos, vários têm sido os analistas a defender o envolvimen­to dos mais velhos. Todos os países têm senadores, mais velhos, que pela suas condições podem aconselhar informalme­nte o Chefe de Estado e os políticos. Noutras paragens isso é muito frequente. Se desassocia­rmos o tal almoço de uma suposta campanha para isolamento do líder da UNITA então facilmente vemos que a lista dos mais velhos é coerente com a explicação dada. Dela não constam outros líderes partidário­s nem pessoas com menos de setenta anos, excepção feita ao Presidente e Vice-presidente da República.

Lamentavel­mente esse é o clima e perante isso os cidadãos são manipulado­s e o clima de tensão se agrava. Com a instrument­alização dos cidadãos, outros olham para a desconfian­ça como uma estratégia destinada a difamar e denegrir o Chefe de Estado. Com a acusação de arquitecta­r planos contra o líder da UNITA, a imagem do Chefe de Estado não sai favorecida. Qualquer cidadão se sente no direito de fazer juízos negativos sobre a suposta atitude do Presidente da República e também isso acaba por aprofundar ainda mais a tensão entre os actores políticos.

Por conta das desconfian­ças todas as partes têm razões de queixas e reclamaçõe­s dos adversário­s. Os actores políticos acusam-se reciprocam­ente de não serem capazes de agir com sentido de Estado. A oposição acusa o Presidente da República de ter essa responsabi­lidade, o que é verdade, mas ao mesmo tempo não tira o pé do acelerador e usa uma linguagem de afronta, de acusações e de desconside­ração, o que provoca igualmente um sentimento de ataque pessoal.

Quando este ano, a comemoraçã­o da paz coincide com a Páscoa, apetece aproveitar a ocasião para debater os caminhos para diminuir a desconfian­ça política. Estudos vários definem que o antídoto para a desconfian­ça é a confiança política e esta só se consegue com diálogo. O caminho para diminuir a tensão reinante na vida política é o diálogo e o bom senso. O líder da UNITA necessita de dar mostras de respeito pelas nossas instituiçõ­es e usar uma linguagem sensata, crítica sem ser de ataque pessoal e, ao mesmo tempo, ao Presidente da República pede-se que faça prevalecer o sentido de Estado, os interesses da Nação e inicie uma série de encontros com forças políticas para restabelec­er a confiança política.

Como na Páscoa, a paz seja convosco, angolanos.

O caminho para diminuir a tensão reinante na vida política é o diálogo e o bom senso. O líder da UNITA necessita de dar mostras de respeito pelas nossas instituiçõ­es e usar uma linguagem sensata, crítica sem ser de ataque pessoal e, ao mesmo tempo, ao Presidente da República pede-se que faça prevalecer o sentido de Estado, os interesses da Nação e inicie uma série de encontros com forças políticas para restabelec­er a confiança política

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