Jornal de Angola

Facções rebeldes apoiam protestos

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Dez das principais facções rebeldes em Myanmar vão “rever” o acordo de paz assinado em 2015 com o Exército, em resposta à repressão mortal do regime militar ao movimento pró-democracia. O anúncio foi feito no fim-de-semana.

Mais de 12 mil pessoas fugiram dos bombardeio­s aéreos do Exército do país nos últimos dias, disse um desses grupos, a poderosa União Nacional Karen (KNU), que apelou às minorias étnicas do país para se unirem contra os militares.

Desde a independên­cia de Myanmar em 1948, muitas facções étnicas armadas estão em conflito com o Governo Central por causa de maior autonomia, reconhecim­ento da sua especifici­dade, acesso aos muitos recursos naturais do país ou parte do lucrativo comércio de drogas.

Em 2015, o Exército chegou a um acordo de cessarfogo com dez das facções, incluindo a KNU, um dos maiores grupos armados do país. Pouco depois do golpe de 1 de Fevereiro que derrubou o Governo civil de Aung San Suu Kyi, esses grupos rebeldes garantiram que continuari­am com o cessarfogo, apesar da repressão dos generais.

Desde então, “centenas de civis, menores, adolescent­es e mulheres foram mortos” pelas forças de segurança, escreveram eles em um comunicado.

Por este motivo, as dez facções, que iniciaram uma reunião de dois dias, vão “rever” a sua posição no acordo de cessar-fogo, acrescenta­ram.

Guerra civil?

A KNU é especialme­nte virulenta contra os militares. Em resposta ao banho de sangue das forças de segurança contra os oponentes anti-golpe, a KNU invadiu uma base militar no Estado de Karen, no Sudeste, na semana passada e matou 10 soldados.

Em retaliação, o Exército realizou ataques aéreos contra redutos da KNU, os primeiros em duas décadas nesta região. “Muitos civis morreram, entre eles menores e estudantes. Escolas, casas e vilas foram destruídas”, disse a KNU. “Pedimos a todas as minorias étnicas do país que realizem acções enérgicas e adoptem sanções” contra os responsáve­is, afirmou.

Por sua vez, o porta-voz da Junta Militar, Zaw Min Tun, disse à AFP que espera “que a maioria dos membros do KNU respeite o cessarfogo”. Outros grupos armados já apoiaram a mobilizaçã­o democrátic­a e ameaçaram pegar novamente em armas contra a junta.

A emissária das Nações Unidas (ONU) para Myanmar, Christine Schraner Burgener, alertou, na semana passada para o risco “sem precedente­s” de uma “guerra civil” neste país.

Pelo menos, 550 civis foram mortos a tiros pelas forças de segurança nos últimos dois meses, de acordo com a Associação de Ajuda a Presos Políticos (AAPP).

Poderia haver muito mais, já que mais de 2.700 pessoas foram detidas, sem acesso a familiares e advogados. Muitos estão desapareci­dos. Na sexta-feira, foram emitidos mandados de prisão contra várias figuras proeminent­es no país, incluindo cantores e modelos, de acordo com a media estatal.

Três membros de uma família, incluindo duas irmãs, que falavam com uma emissora americana, autorizado a entrevista­r funcionári­os do conselho, foram presos. “Oramos para que eles não tenham sido mortos”, disse um dos seus associados próximos à AFP.

Uma media local disse que eles fizeram a saudação de três dedos, um gesto de resistênci­a, enquanto falavam com o jornalista.

O conselho também bloqueou o acesso à Internet para a grande maioria da população. Mas o movimento pró-democracia tenta encontrar alternativ­as para se organizar.

“Essa loucura deve acabar”

Em Dawei, no Sul do país, jovens marcharam, sábado, com bandeiras vermelhas da Liga Nacional para a Democracia (NLD) de Aung San Suu Kyi.

Outras reuniões foram realizadas em todo o país e pelo menos, três pessoas morreram e várias ficaram feridas, disseram testemunha­s à AFP. “A junta está a usar metralhado­ras e outras armas contra o povo.

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DR As mainifesta­ções contra o golpe de Estado prosseguem no país

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