Jornal de Angola

Perto de dez mil pessoas abandonara­m a vila de Palma

O número de pessoas deslocadas de guerra da vila de Palma sobe diariament­e e outros estão em movimento nas florestas à procura de segurança nas outras regiões

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Cerca de 9.900 pessoas, quase metade crianças, deslocadas de Palma devido à violência nesta vila de Cabo Delgado, em Moçambique, chegaram desde 24 de Março aos distritos de Nangade, Mueda, Montepuez e Pemba, anunciaram, ontem, as Nações Unidas, citadas pela Lusa.

De acordo com o portavoz em Moçambique do Escritório das Nações Unidas para a Coordenaçã­o de Assuntos Humanitári­os (OCHA), Saviano Abreu, o número de pessoas deslocadas após os ataques tem vindo a “aumentar considerav­elmente nos últimos dias”.

“Temos informaçõe­s de que milhares de pessoas estão deslocadas dentro do distrito de Palma e outros estão em movimento através da floresta à procura de segurança, esperando-se que cheguem a diferentes locais nos próximos dias”, acrescento­u aos jornalista­s. Saviano Abreu disse, ainda, que cerca de 45 por cento dos deslocados são crianças.

A vila de Palma, cerca de 25 quilómetro­s do projecto de gás natural da multinacio­nal Total, sofreu um ataque armado a 24 de Março, que as autoridade­s moçambican­as dizem ter resultado na morte de dezenas de pessoas e na fuga de centenas.

Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgente­s, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso por parte do Governo, embora haja relatos e testemunho­s que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenário­s na zona.

Apelo à solidaried­ade

O arcebispo de Maputo, Francisco Chimoio, apelou à solidaried­ade dos moçambican­os e dos países vizinhos para as vítimas da violência armada em Cabo Delgado, consideran­do que esta preocupaçã­o pode “minimizar o seu sofrimento”.

“Apelar a todos para que de facto nos solidarize­mos com aqueles irmãos que estão deslocados na província de Cabo Delgado”, disse Francisco Chimoio, por ocasião da passagem da Páscoa, em declaraçõe­s à Televisão de Moçambique.

Para o arcebispo, o apoio aos deslocados vai minimizar o seu sofrimento, numa altura em que os “terrorista­s estão sempre a semear luto e a destruir infra-estruturas” naquela província do Norte.

“Nós sabemos que os terrorista­s estão a fazer com que os nossos irmãos vivam numa constante angústia, então a nossa solidaried­ade com eles vai minimizar o seu sofrimento”, declarou o arcebispo.

Francisco Chimoio pediu ainda a união de “todas as forças possíveis”, incluindo aos países vizinhos, para que “a tragédia conheça o quanto antes o seu fim” e os moçambican­os possam viver em paz.

“Os países vizinhos, por onde passaram esses insurgente­s, devem também ser solidários com o nosso sofrimento para que juntos possamos criar uma paz verdadeira, uma paz que realmente vai permitir a todos viver tranquilos”, concluiu.

A violência desencadea­da há mais de três anos na província de Cabo Delgado ganhou uma nova escalada há pouco mais de uma semana, quando grupos armados atacaram, pela primeira vez, a vila de Palma, que está a cerca de seis quilómetro­s dos multimilio­nários projectos de gás natural.

Os ataques provocaram dezenas de mortos e obrigaram à fuga de milhares de residentes de Palma, agravando uma crise humanitári­a que atinge cerca de 700 mil pessoas na província, desde o início do conflito, de acordo com dados das Nações Unidas.

“Temos informaçõe­s de que milhares de pessoas estão deslocadas dentro do distrito de Palma e outros estão em movimento à procura de segurança”

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DR A situação na província de Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitári­a sem precedente­s

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