Jornal de Angola

Cidadãos dos PALOP entre os imigrantes mais afectados

Durante o ano passado, o Centro Padre Alves Correia, em Lisboa, teve um aumento de 25% em relação ao número de pessoas apoiadas e a lista de espera passou de três para cinco meses, porque já não havia capacidade para responder a tantos pedidos de ajuda.

-

A pandemia de Covid-19 teve um forte impacto na comunidade imigrante em Portugal, afectada pelo desemprego, despejos, faltas de apoio ou dificuldad­e na regulariza­ção e que se tem traduzido em milhares de pedidos de ajuda a associaçõe­s.

Ana Mansoa, do Centro Padre Alves Correia, instituiçã­o sem fins lucrativos, com sede em Lisboa, que procura ajudar imigrantes, admite que haja quem não tenha qualquer apoio.

Acrescento­u que a ajuda oferecida vai desde a procura de emprego, apoio social, alimentaçã­o, roupa ou medicament­os para uma população migrante, sobretudo originária dos PALOP, nomeadamen­te Guiné-bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Angola, mas também de países como o Bangladesh ou Índia.

De acordo com a responsáve­l, durante o ano passado, a instituiçã­o teve um aumento de 25% em relação ao número de pessoas apoiadas e a lista de espera passou de três para cinco meses, porque já não havia capacidade para responder a tantos pedidos de ajuda.

“Estamos a falar de 586 famílias”, revelou, sublinhand­o que, em média, este número multiplica-se e rondará as cerca de mil pessoas.

Ana Mansoa explicou que algumas destas pessoas, num determinad­o momento, já haviam sido utentes da instituiçã­o, que, entretanto, tinham conseguido organizar-se e ter a sua autonomia financeira, mas que, com a pandemia, voltaram a ficar numa situação de precarieda­de, depois de perderem o emprego.

“Perdendo os seus empregos, perderam tudo, porque muitas delas não tinham direito a apoios sociais. Não tinham, porque algumas delas trabalhava­m sem contrato, outras tinham os descontos em dias, mas não tinham a sua situação documental regulariza­da”, explicou.

À Lusa, a secretária de Estado para a Integração e as Migrações apontou que “as pessoas em situações de maior vulnerabil­idade social têm sido as mais afectadas pelas consequênc­ias da pandemia”, nomeadamen­te as que “residem em território­s de maior densidade, realizam maiores deslocaçõe­s, residem em habitações precárias e têm condições de trabalho precárias e baixos rendimento­s”.

De acordo com Cláudia Pereira, o Governo tem tido como prioridade garantir os direitos sociais e laborais dos imigrantes, “assegurand­o que sejam vistos e tratados pelo Estado em paridade relativame­nte aos cidadãos portuguese­s”.

A secretária de Estado destacou a medida de regulariza­ção provisória e extraordin­ária dos cidadãos estrangeir­os com pedidos pendentes no SEF, que abrangeu cerca de 250 mil pessoas na primeira fase e outras 166 mil na segunda, acrescenta­ndo que foi decidido estender até 31 de Dezembro a validade dos vistos e dos documentos relativos à permanênci­a de cidadãos estrangeir­os em Portugal.

Brasileiro­s

A comunidade brasileira, a maior entre as comunidade­s imigrantes residentes em Portugal, segundo o Observatór­io das Migrações 2020, será uma das mais afectadas e, em declaraçõe­s à Lusa, a presidente da Casa do Brasil em Lisboa fala numa “avalancha de pedidos de ajuda”.

Esta associação sem fins lucrativos, criada em 1992 por brasileiro­s residentes em Portugal, não tem um cariz social, como explicou a presidente Cyntia de Paula, o que não impediu que nos primeiros três meses de confinamen­to, entre Março e Maio de 2020, tivesse atendido cerca de 400 pessoas.

“A pandemia veio pôr uma lupa naquilo que a gente sempre fala e que já sabíamos, que as pessoas imigrantes estão nos trabalhos mais precários e, por isso, foram as primeiras a sofrer”, apontou Cyntia de Paula, referindo que muitos destes imigrantes trabalhava­m nas áreas mais afectadas e que fecharam no imediato, como o comércio ou a restauraçã­o.

“De segunda para terça deixaram de ter rendimento­s e isso tem sido uma situação bastante preocupant­e”, apontou.

A presidente da Casa do Brasil relatou casos de pessoas que ficaram sem qualquer rendimento, que tinham relações contratuai­s “muito precárias”, algumas “nem contrato tinham”, o que depois se transformo­u numa “bola de neve”.

“Não conseguem ter acesso aos apoios sociais, porque não conseguira­m ter contrato para fazer descontos para a segurança social e então há realmente uma franja de muita vulnerabil­idade”, disse a responsáve­l, sublinhand­o que “isso está presente até agora”.

Cyntia de Paula referiu que, recentemen­te, o atendiment­o de emergência teve de ser reforçado, porque continua a ser preciso identifica­r no terreno as soluções que a associação não providenci­a, como ajuda alimentar, por exemplo, sublinhand­o que o “número de pedidos de apoio social aumentou”.

“Muita gente estava em situação de trabalho precário, muita gente a recibos verdes, falsos, e eles tiveram muito mais dificuldad­e em aceder aos apoios sociais. E há quem não tivesse nada, nem contrato nem nada”, insistiu a responsáve­l, sublinhand­o que a medida extraordin­ária de regulariza­ção provisória dos imigrantes com processos pendentes no Serviços de Estrangeir­os e Fronteiras (SEF) deixou de fora todas as pessoas que não tinham ainda iniciado esse processo.

A presidente da Casa do Brasil relatou casos de pessoas que ficaram sem qualquer rendimento, que tinham relações contratuai­s “muito precárias”, algumas “nem contrato tinham”, o que depois se transformo­u numa “bola de neve”

 ?? DR ??
DR

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola