Situação conhecida
A difícil realidade de alguma da comunidade brasileira também é conhecida da Associação Lusofonia, Cultura e Cidadania (ALCC), que nos últimos 12 meses ajudou 9.600 pessoas de várias nacionalidades e chegou a receber mensalmente uma média de trinta novos pedidos de ajuda.
Nilzete Pacheco, coordenadora da ALCC, contou à Lusa que a comunidade brasileira foi a que mais pediu ajuda, tendo havido uma “loucura de pedidos” nos três primeiros meses de confinamento, na primeira vaga da pandemia, com 387 imigrantes brasileiros a contactar a associação entre Março e Maio.
No entanto, a responsável revelou que não foi só esta comunidade a pedir ajuda, tendo sido necessário ajudar imigrantes dos países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), mas também cidadãos nacionais, nomeadamente membros da comunidade cigana que vive próxima da sede da ALCC, na zona da Ameixoeira, em Lisboa.
De acordo com Nilzete Pacheco, os problemas que motivavam os pedidos de ajuda eram vários e iam desde a ausência de habitação ou quartos e casas partilhados por dez ou mais pessoas, empregos precários que se tornaram ainda mais precários, perda de rendimentos, desemprego ou ausência de documentação.
A responsável contou que começou o apoio alimentar para 350 famílias e que hoje esse apoio ainda chega a 108 agregados, sendo que, em média, cada família tem quatro a cinco pessoas.
“As pessoas estão aparentemente mais calmas, porque acabaram por se acomodar de uma forma ou de outra ao nível de habitação, muito precária, o nível do trabalho continua precário e ao nível da alimentação há muitas famílias com muitas carências”, descreveu, salientando que isto tem afectado não só famílias brasileiras, mas também da Guiné ou São Tomé e Príncipe.
Ao longo do último ano, Nilzete Pacheco diz ter assistido a “muitos choros, muitos desabafos”, com dias em que as pessoas iam buscar comida “e desatavam a chorar” ou até mesmo casos de quem tenha ido buscar ajuda alimentar sabendo que estavam infectados com Covid-19, porque não tinha outra alternativa.
A coordenadora da ALCC admite que, ao longo deste tempo, a associação acabou por ficar conhecida pelo trabalho que fazia junto das comunidades imigrantes e que isso fez com que lhe chegassem pedidos de ajuda de outras partes da cidade de Lisboa e até do Seixal, que tiveram de encaminhar para que toda a gente tivesse apoio localmente.
Ainda assim, diz que “há má vontade em apoiar os imigrantes” e garante que há casos de quem não esteja a receber qualquer tipo de ajuda.