Por que razão sentiam necessidade de fazer melhor que os homens?
Como é a recruta para uma senhora?
É igual. Eu não tive, sequer, as dores, os incómodos que algumas mulheres costumam ter. Nem eu, nem a Joana. Nós, lá dentro, tínhamos somente o desafio de fazer melhor que os homens. E saíamo-nos melhor que alguns homens. A partir do momento em que você tem um objectivo, tudo deve fazer para alcançálo. Lá, ninguém te trata como senhora; há uma lei castrense, que não diferencia mulheres de homens. Todo o mundo se rege pelo princípio de disciplina.
Porque éramos meninas e não queríamos enfrentar preconceitos. As mulheres têm que fazer um esforço maior. Se mostras fraqueza a um homem, ele vai logo dizer-te que o teu lugar é na cozinha. Tínhamos que mostrar que, além da cozinha, também podíamos fazer o que eles faziam.
Infelizmente, já é falecido. Eu chamava-lhe pai. Queria muito que ele estivesse em vida, para ver a “árvore” que plantou na Polícia a dar frutos. Senti um vazio, quando ele partiu; sentime desprotegida. Tratava-me como filha, porque sabia que me ajudou a entrar na Polícia sem o consentimento do meu pai. Cá em Luanda, custeou-me os estudos. Fiz Ciências Sociais na Escola da PIR, no 4 de Junho, e fiz Antropologia na Universidade Agostinho Neto. Tudo isso foi custeado por ele. Acredito que ele sentiu que tirou alguém das mãos dos pais, que talvez fizessem mais, e decidiu apostar em mim.