Quem faz os furtos no interior das residências?
Há bem pouco tempo, enfrentei algo que me ia custando a vida. Meliantes estavam a assaltar um vizinho, um estrangeiro. Os vizinhos tentaram ligar para o 113 e não conseguiram. Um dos vizinhos ligou para mim. Isso foi logo no dia do meu aniversário. Acordei às 2h00 da manhã, disseram-me que eram oito assaltantes. Peguei na minha pistola e fui socorrer o vizinho. Logo que ia fazer a curva para apanhar a rua do vizinho, que era atrás da minha rua, deparo-me com os meliantes, que já tinham feito o assalto e estavam a retiar-se. Fiz disparos, eles deixaram cair a pasta que levavam e puseramse em fuga. Um deles estava armado e disparou contra mim. Conseguiram fugir. Depois disso, fui socorrer o vizinho. Era tanto sangue no quintal, que pensei que o tivessem matado. Encontrei o vivo, no quarto, com ferimentos na cabeça. Liguei para os meus efectivos, que trouxeram uma viatura da polícia. Levamos o senhor para o hospital. Levou 20 pontos na cabeça.
A Comandante disse que no Honga havia muita criminalidade. Foi difícil trabalhar naquela zona?
Não foi difícil combater e prevenir a criminalidade no Honga. Encontrámos, de facto, muita criminalidade. Inclusive alguns jovens não conseguiam estudar à noite, por medo dos bandidos. Mas, logo no início da nossa estadia no Honga, dois ou três meses depois, a juventude recomeçou a estudar à noite. Acho que atingimos o nosso objectivo no Honga e ganhamos a confiança dos moradores. Eles facilitaram-nos o trabalho, porque conheciam os meliantes e foram mostrando. Fomos atrás desses meliantes e conseguimos resgatar armas, assim como fazer um controlo directo. Hoje, o Honga, em termos de criminalidade, está muito mais calmo e controlado.
Do Honga foi logo para o Kilamba?
Não. Depois do Honga, fui para comandante da Esquadra do Catinton, por três meses. Foi a mesma experiência do Honga. Em três meses, foi possível realizar um bom trabalho. Graças a Deus, aquela população é muito humilde. Reunimos e conversámos com eles. No final, demos nota de crime zero. Conseguimos resgatar, igualmente, as armas de fogo dos meliantes, assim como baixar, consideravelmente, a criminalidade na zona.
Como avalia o seu trabalho no Kilamba, comparando ao que fez no Honga e no Catinton?
Quando cá chegámos, encontrámos um número considerável de ocorrências, por dia. Os principais crimes no Kilamba são os furtos de acessórios de viaturas e no interior de residências. Tivemos que combater, primeiro, os furtos de acessórios de viaturas e, depois, as ocorrências nos apartamentos. Hoje temos um Kilamba mais calmo.
Demos conta que, além dos meliantes flutuantes, aqueles que não vivem no Kilamba, que apenas aproveitam a tranquilidade da rua, do prédio, e conseguem cometer o crime, também há o meliante residente. O morador do Kilamba tem a cultura de colocar objectos valiosos nas varandas, principalmente, nos apartamentos do rés-dochão e do primeiro andar.
Que tipo de objectos?
Bicicletas, telefones … Há os que colocam uma mesinha na varanda e esquecem-se do telefone, do computador, em cima da mesa; os que estendem tapetes nas varandas. Esses objectos são facilmente furtados pelo meliante. Muitas vezes, recebemos essas reclamações no piquete. Uns dizem que só foram, num instante, buscar água na cozinha. Esse tempinho é suficiente para um meliante subir e puxar o computador, por exemplo. Às vezes, notamos alguma negligência por parte dos moradores.
E os furtos dentro das residências?
Esses muitas vezes são mesmo praticados por moradores do Kilamba que fazem o acompanhamento dos movimentos do vizinho. Quando encontram uma brecha, entram nas casas dos vizinhos e tiram o que quiserem. Já apanhámos em flagrante, várias vezes, os próprios moradores a esconderem malas nessas viaturas avariadas, nos parques. Mas estas práticas diminuíram consideravelmente.
Que sonhos ainda tem, pelo menos a nível pessoal?
Os meus sonhos giram, quase todos, à volta da Polícia. Mas gostava de ser juíza. Se não fosse polícia, acho que seria juíza. Por agora, estou a fazer o mestrado em Segurança Pública, no Instituto Superior de Ciências Policiais e Criminais, Osvaldo Serra Van-dúnem. Termino já este ano. No próximo ano, vou fazer o doutoramento, também em Segurança Pública.
“Acho que atingimos o nosso objectivo no Onga e ganhamos a confiança dos moradores. Eles facilitaram-nos o trabalho, porque conheciam os meliantes e foram mostrando”.