Jornal de Angola

A comandante não é durona?

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Como se define pessoalmen­te?

Os meus irmãos dizem que sou uma pessoa especial. Estou sempre presente, quando eles precisam. Têm-me como uma mãe, apesar de termos a nossa mãe. Sou o tipo de pessoa que luta pelo bem-estar da família. Ninguém pode tocar nos meus. A minha família e os meus efectivos não podem pensar que sou ausente. Eles podem contar comigo sempre e para tudo.

Sou dura apenas para os duros, os indiscipli­nados. Para esses, sou muito dura.

E com o seu marido?

Com o meu marido sou dura, se necessário, e reclamo os meus direitos de mulher. Falo para ele como qualquer esposa fala para o marido e ele também diz aos amigos dele que não tem uma comandante­emcasa.temamulher dele. Somos muito amigos.

Como se veste, quando não está fardada?

Gosto de me vestir bem, gosto de um bom salto alto. A minha cor preferida é o vermelho.

O que faz nos tempos livres?

Gosto de passear, de ir às compras, nos supermerca­dos e no mercado informal. Vou muitas vezes ao 30 e ao Catinton.

Há bocado chorou, ao falar do comandante Gasolina. Vindo de uma comandante, foi uma surpresa…

Eu acho que essa imagem de que o comandante deve ser rude é um tabu que as pessoas criaram. Um comandante rude não consegue atingir os seus objectivos, particular­mente no combate à criminalid­ade. O comandante deve ser flexível, não deve ter vergonha de chorar, se tiver vontade. Ainda que esteja diante dos seus subordinad­os, dos moradores da zona que controla ou onde vive.

Quem é a sua melhor amiga?

Chama-se Natalina Ribeiro. É amiga e comadre, madrinha da minha filha. Essa senhora incentiva-me muito. Acho que se eu a conhecesse há muito tempo, a minha vida fora da polícia já estava bem mais evoluída. Conheço-a há pouco tempo, mas ela está a ajudarme a mudar a minha vida para melhor. É exigente, às vezes, dura comigo. Mas ensinou-me a fazer muita coisa. Incentivam­e a crescer, dá-me muitas ideias. Todos os dias, falamos. Ela é mais do que uma irmã. Mesmo em tempo de pandemia, ela esteve comigo no bloco operatório, quando fui ter a minha bebê.

Não tem amigas de infância?

Não sei porquê, mas acho que elas sentem receio; não se aproximam de mim. Eu queria muito que elas estivessem comigo nessa fase, que elas acompanhas­sem, mais de perto, a minha vida, como acompanhar­am as minhas brincadeir­as. Eu não queria que ligassem apenas quando me vissem na TV ou no jornal. Queria-as próximas a mim. Por isso, quando sinto saudades, ligo. Quero estar, um dia, com todos os meus amigos de infância. Vezes há em que alguns não me abraçam porque estou fardada.

É permitido abraçar um polícia fardado e em pleno exercício das suas funções?

As pessoas podem e devem saudar os seus conhecidos, os seus ente- queridos polícias. Encontrei-me, há tempos, com uma amiga de infância, que ficou feliz por me ver com a farda e com a patente. Pediu-me um abraço. Eu abracei-a demoradame­nte. Até chorámos. Muita gente olha para os polícias com tabus. Os polícias são seres humanos, são pessoas normais e também merecem abraços e beijos.

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