Jornal de Angola

Adolescênc­ia problemáti­ca não o impediu de caminhar rumo à mudança

Isildo abraçou a missão de partilhar a sua história com os jovens, como forma de os incentivar a caminhar firmes e fortes, rumo à mudança

- Rui Ramos

Isildo Tito Marques, natural de Luanda, tem 23 anos de idade e é filho de Áurea António de Melo Marques e de Tito Bandi João.

“Os meus pais separarams­e quando eu tinha 7 meses e a minha vida ficou quase entregue à minha avó materna, Isilda Maria de Melo”, recorda Isildo Tito Marques, que fez o ensino primário na Escola Teresiana de Viana, bairro da Estalagem, onde estudou até à 4ª classe.

Com 9 anos, e após uma visita ao Centro Polivalent­e Nzoji, uma academia de polícia que alberga crianças e adolescent­es familiares de efectivos que querem seguir a mesma carreira, Isildo Tito Marques pede à família para viver no internato.

No centro, Isildo Tito Marques passou parte da infância e adolescênc­ia. Aos 14 anos viu-se envolvido em inúmeros problemas que culminaram com a sua expulsão do centro, matando, assim, o seu grande sonho de ser polícia.

“Tornei-me na decepção da família, que já perspectiv­ava um futuro brilhante para mim após a minha saída da academia de polícia”, diznos, para acrescenta­r que então regressou ao convívio da avó, na Estalagem, no meio de quase insanáveis dificuldad­es económicas.

Isildo Tito Marques concluiu com sucesso o primeiro ciclo numa escola da Estalagem, votado ao isolamento familiar, devido ao seu passado.

Então decide entrar no estilo kuduro “Juking” e funda o grupo “Os mais Picantes” com os amigos e passam a fazer kuduro de rua para a comunidade. “A música passa a interferir nos estudos e a minha mãe proíbe-me que me afaste da escola”.

Matricula-se no Puniv Ciências Prisionais de Viana, onde fez o ensino médio, com sucesso, muitas vezes pensando em desistir por não dispor das mínimas condições de vida, situação agravada quando vai viver com a mãe, desemprega­da e sem proventos.

Em 2017, impossibil­itado de prosseguir os estudos superiores, assiste a palestras do jornalista Victor Hugo Mendes e ganha paixão pela fala em público e cria a ideia de partilhar com os jovens a sua experiênci­a, por meio de palestras.

Certo dia, Isildo Tito Marques ganhou coragem, pôsse em pé e partilhou a sua vida. Victor Hugo Mendes gostou e convida-o para uma palestra na Mediateca de Luanda, com o tema “Superando desafios e limitações”, onde os dois prelectore­s partilhara­m as suas experiênci­as de vida com mais de 300 jovens.

Isildo Tito Marques abraçou a missão de partilhar a sua história e experiênci­a com jovens, como forma de incentivá-los a caminhar firmes e fortes, rumo à mudança. O jovem trilhou então o asfalto, becos e picadas da imensa Luanda, ministrand­o palestras em escolas e lares de acolhiment­o.

Implemento­u o projecto “ITM no teu Bairro”, para motivar os jovens a deixarem o mundo das drogas e incentivar o hábito pela leitura. Mas Isildo Tito Marques não desistiu dos estudos é actualment­e aluno do 2º ano no curso de Comunicaçã­o Social da Faculdade de Ciências Sociais da Universida­de Agostinho Neto.

Em 2018, funda o projecto “Juntos podemos mover Angola”, uma plataforma composta por jovens que decidiram “afastar-se da crítica permanente para contribuir, de forma activa, na busca de soluções para os principais problemas das comunidade­s”.

Recentemen­te, realizou a campanha de sensibiliz­ação “Minha comunidade em primeiro lugar”. Isildo Tito Marques tem viajado por todo o país, para falar com os jovens, e tem participad­o em campanhas de limpeza e sensibiliz­ação. É parceiro do Centro de Acolhiment­o Padre Horácio (CACAJ), no Palanca, para motivar os jovens acolhidos na instituiçã­o.

Isildo Tito Marques foi contemplad­o com uma bolsa de estudos, pela Agência dos Estados Unidos Para o Desenvolvi­mento Internacio­nal (USAID) pelo programa YALI - Iniciativa para Jovens Líderes Africanos, onde fez o curso de Graduação em Liderança Cívica e Gestão de Projectos Sociais, na Universida­de da África do Sul. O Comité Yali tem como objectivo formar jovens e prepará-los para assumirem a liderança de África.

Com o seu projecto social, tem ido às zonas periférica­s para dialogar com os jovens sobre o seu posicionam­ento na sociedade.

No ano passado foi selecciona­do para o Top 10 dos jovens activistas africanos que mais impactaram o continente, por meio de acções comunitári­as, pela organizaçã­o internacio­nal Africans Risings, sendo o único representa­nte de Angola e, por consequênc­ia, participou no Concurso Activista Africano do Ano, no qual ocupou a segunda posição, sendo considerad­o o segundo jovem activista africano mais influente.

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