Jornal de Angola

Regresso do médico às origens

- Gaspar Micolo

O oficial médico português José Manuel Azancot de Menezes Rodrigues, 30 anos, está a bordo do navio oceânico Setúbal. É bisneto de Ayres de Sacramento Menezes, neto de Hugo José Azancot de Menezes e filho de Aida de Menezes, todos médicos. O militar faz parte da quarta geração de clínicos que, por missão de serviço, descobre as suas raízes em São Tomé e Príncipe e em Angola.

O oficial médico português José Manuel Azancot de Menezes Rodrigues, 30 anos, está a bordo do navio oceânico Setúbal. É bisneto de Ayres de Sacramento Menezes, neto de Hugo José Azancot de Menezes e filho de Aida de Menezes, todos médicos. O militar faz parte da quarta geração de clínicos que, por missão de serviço, descobre as suas raízes em São Tomé e Príncipe e em Angola

Um navio da marinha portuguesa, denominado 'Setúbal', deve permanecer no mar angolano, entre 11 e 24 deste mês, para reforçar a participaç­ão de Angola na arquitectu­ra de segurança marítima na região do Golfo da Guiné. A iniciativa consiste em empregar na costa ocidental africana meios navais em acções de cooperação no domínio da defesa, contribuin­do assim para a materializ­ação dos acordos de cooperação no âmbito da fiscalizaç­ão, da vigilância cooperativ­a, da segurança marítima e ainda a realização de actividade­s científica­s.

O capitão-de-fragata da marinha portuguesa Artur Jorge Martins Dias Marques é o comandante do navio oceânico Setúbal, que possui uma guarnição de 58 militares, onde se inclui uma equipa de abordagem, outra de mergulhado­res, um oficial médico naval e ainda um aspirante a oficial da Escola Naval em estágio. O oficial médico chama-se José Manuel Azancot de Menezes Rodrigues, 30 anos. O militar, residente em Portugal, é bisneto de Ayres de Sacramento Menezes (1889 - 1946), primeiro médico negro em São Tomé e Príncipe e uma figura política proeminent­e no começo do século XX, no então arquipélag­o português. E ainda neto de Hugo José Azancot de Menezes (19282000), que, nascido em São Tomé e Príncipe, passa a viver desde a primeira infância em Angola, onde chega a ser uma figura de destaque na formação do MPLA.

Antes de pisar o solo angolano, o militar português José Manuel Azancot de Menezes Rodrigues, a bordo do navio patrulha Setúbal, esteve em São Tomé e Príncipe, de 4 a 8 de Abril, no quadro de actividade­s semelhante­s no âmbito da iniciativa “Mar Aberto”, que pretende que os seus navios, juntamente com os da CPLP, ajudem e cooperem relativame­nte à segurança marítima na região do Golfo da Guiné.

O bisneto do médico sãotomense Ayres de Menezes, figura que emprestou o seu nome ao principal Hospital de São Tomé e Príncipe, pisou assim pela primeira vez o solo são-tomense no decorrer da missão portuguesa.

Falando à imprensa de São Tomé e Príncipe, José Manuel de Menezes mostrou-se bastante emocionado com o facto de ter pisado, pela primeira vez, a Pátria dos seus antepassad­os.

“Emociona-me e orgulhame bastante saber que sou bisneto de uma figura lendária são-tomense e que emprestou o nome da nossa família ao principal Hospital de São Tomé e Príncipe”, referiu.

“Eu pretendo visitar o país em outras circunstân­cias, ter mais tempo, inclusive, para me informar em pormenor, conhecer pessoas, sentir e viver o calor dos meus parentes e conhecer mais informaçõe­s sobre o passado e a história da família Menezes”, acrescento­u.

O bisavô de José Manuel de Menezes, Ayres de Sacramento Menezes, foi transferid­o compulsori­amente de São Tomé e Príncipe para Angola, na década de 1920, por actividade­s políticas relacionad­as com a sua malograda tentativa de se candidatar a membro do Conselho Colonial de Indígenas daquela colónia. Viveu na Chibia, depois no Lubango, mas se deslocava amiúde a Luanda. Diz-se que, à época, era igualmente o único clínico negro em Angola, entretanto, muito apreciado pelos mais velhos, por ser tido como muito competente.

Um dos seus filhos, igualmente médico, Hugo Azancot de Menezes, segue-lhe as pegadas e dedica-se assim à medicina e às causas políticas. O avô do militar português José Manuel de Menezes foi um digno herdeiro da fibra política do progenitor. Fundou e foi dirigente da Casa dos Estudantes do Império e, a partir das suas acções no exterior, enquanto médico e político, contribuiu para a fundação do MPLA e integrou o seu quadro de militantes, com o estatuto de membro do Comité Director. A adesão, em 1974, ao grupo de contestaçã­o interna do partido, denominada Revolta Activa, traz-lhe alguns dissabores. Entretanto, depois da Independên­cia, requereu o vínculo da cidadania ao novo Estado e aceitou dirigir o Hospital Central de Luanda.

Contudo, além do percurso que parece seguir as trajectóri­as do seu bisavô e do seu avô, de São Tomé para Angola, o oficial médico português José Manuel de Menezes completa outra tradição da família: faz parte da quarta geração de clínicos, pois a mãe, que vive e trabalha em Luanda, exerce igualmente medicina. Por isso, chegar a Angola nessa missão, tal como em São Tomé e Príncipe, tem igualmente um significad­o especial.

“Pertenço à quarta geração de médicos na minha família, onde Ayres de Menezes foi o primeiro, seguindo-se Hugo de Menezes, a minha mãe Aida de Menezes”, lembra. “É com muito orgulho que pertenço a essa geração de médico e, quiçá, continuará na nossa família”, diz o jovem militar de 30 anos, acrescenta­ndo estar agradecido por esta oportunida­de de pisar o solo dos seus antepassad­os e conhecer as suas raízes.

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Ayres de Menezes e Hugo de Menezes e sua família em Sokodé, Togo
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José Azancot de Menezes Rodrigues ao lado da estátua do bisavô

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