Uma nova geração de baixistas
O caderno Fim-de-semana, ao longo das várias coberturas de concertos musicais, tem apontado a emergência de uma nova safra de instrumentistas. Na edição do dia 21 de Fevereiro deste ano, dedicou especial atenção à Banda Prontidão. Voltamos a dar destaque a esta geração de executantes
Eduina Semedo, recentemente homenageada, faz uma ponte perfeita entre a nova geração e os mais antigos executantes do baixo. Na fase inicial, o baixo era feito no violão de seis cordas, o chamado baixo dedilhado. Por influência dos instrumentistas da chamada música moderna, o baixo eléctrico convencional conquista o seu espaço na música angolana. A senhora Eduina Semedo começou miúda com os irmãos Alcino, Jorge e Yola nos Impactus 4.
Carlitos Vieira Dias é uma referência da música angolana, sendo, aliás, responsável pela caracterização ou mesmo angolanização da viola baixo, bem confirmada no momento de grande produção do Conjunto Os Merengues. Muitos dos principais sucessos revisitados, gravados e versionados têm a sua marcação. Encontramos ainda nos Kiezos Hélder Vieira Dias, Zeca Tirilene e Dulce Trindade; nos Jovens do Prenda, encontramos Cangongo, Carlos Timóteo Calili e Canhoto. Manuelito, este que se notabilizou nos Águias Reais e Kissanguela. Kinito Trindade, Moreira Filho e Wando Moreira são outros nomes a ter em conta, assim como Mog, que se notabilizou no Interpalanca com Matadidi Mário. Depois, há uma geração onde pontificam Carlitos Chiemba, Mias Galhetas, Nvondo Sheriff, Zito Monteiro assim como Eduardo Paim. São alguns nomes que servem de suporte para esta safra de baixistas onde encontramos: Mayo Bass, Mattilson, Benjamin, Kris Kasinjombela, Berlim Bassman, Kappa D, Wilder Amaro, Luwawa e Joel, numa interminável lista de possíveis sucessores dos mestres.
A coqueluche do baixo
Mayo Bass é hoje um dos mais apreciados baixistas. A música surgiu-lhe em casa e na Igreja Tocoísta. Tem um dos grooves mais apreciados. Fez escola na Banda Jabumba e também pertenceu à Banda Café Negro, onde o rock e a voz de Irina Vasconcelos eram as principais marcas. Durante muito tempo foi o baixista de eleição das formações de Nino Jazz, acompanhando nomes como Mukenga, Sandra Cordeiro, Afrikkanitha e, mais tarde, esteve ligado ao Show do Mês. Agora reside em Portugal, onde acompanha nomes como Paulo Flores, Bonga, Yuri da Cunha, Aline Frazão, Sara Tavares, Elida de Almeida e outros artistas africanos. O jovem está a preparar um álbum de instrumentais e tem coisas soltas com Nino Jazz e Simmons Mancini. A sua grande meta, depois da internacionalização, é a consagração e estar no top dos baixistas mundiais.
Simão Benjamim António, mais conhecido por Mayo Bass, nasceu aos 7 de Julho de 1990. Começou a tocar como baterista aos 8 anos, na banda de apoio do grupo coral da Igreja Tocoísta. A paixão pelo baixo foi inspirada pelo pai, baixista da mesma igreja. Tocar como ele era o objectivo do filho. O miúdo ia dedilhando e aprendendo sonoridades como o Nkembo, Kilapanga, Sungura e outros estilos tradicionais que ia tocando na Igreja. Integra a primeira banda aos 17 anos, a Jabumba, onde teve o privilégio de conhecer o grande mestre Bebé Duía e o respeitado Aníbal Lopes.
Antes de optar pela carreira internacional, em Portugal, durante um largo período foi o baixista principal do Show do Mês. Foi o responsável pela entrada de muitos jovens na Banda do Show do Mês, porque, como afirma, “sempre acreditei nos músicos que temos em Angola e nos da minha geração”.
A Igreja Tocoísta é uma grande escola. Lá Mayo Bass aprendeu muito, musicalmente. Fora dela teve outra abertura musical, mas a sua base é o que absorveu com o Nkembo. É-lhe sempre prazeroso voltar e juntarse à banda Juventude Central, com os amigos Yark Spin, Pascoal e outros, para animar os cultos. Sente que eles revolucionaram a música dentro da igreja, porque tiveram a coragem de levar para lá estilos como o Semba, Reggae e outros considerados música do mundo mas que eles sabiam que, enquadrados no gospel, ficariam bem. Depois passaram a ser elogiados e mudaram muita coisa, até mesmo a forma de executar o Nkembo.
Baixista versátil, Mayo Bass navega pelo Rock, Funk, Pop, Semba, Rebita, Chianda, Afrojazz e outros estilos musicais. Tem participações em discos de vários artistas nacionais: Filipe Mukenga, Yola Semedo, Yuri da Cunha, Ary, Matias Damásio, Paulo Flores, Pérola, Puto Português, Aline Frazão, Heavy C, Maya Kool, Carlos Burity, Eddy Tussa, Gabriel Tchiema, Toto St, Anabela Aya, Lina Alexandre, Selda e outros. Gravou com Grace Évora e Sara Tavares, trabalhou com Boy Ge Mendes, Elida Almeida, Emicida (Brasil), Badoxa (Portugal), Manecas Costa (Guiné-bissau).
O baixista descreve como momentos inesquecíveis da sua carreira os dias em que conheceu o mestre Artur Maia, baixista brasileiro reconhecido mundialmente, tendo dele ganhado um baixo. Menciona também o momento em que conheceu Simmons Massini e Nino Jazz, assim como a compra do seu primeiro baixo.
Tem como principais influências: Kota Calili, Carlitos Chiema, Richard Bona, Marcus Miller, Moreira Filho, Mias Galhetas, Simmons Massini, Jaco Pastorius, Victor Wooten, Michel Álibo e Artur Maia. Não deixa de ouvir músicos angolanos, porque é aí que começou a pegar a respiração do Semba. Tem Simmons Mancini como um irmão mais-velho, porque ensinou-lhe muitas coisas, não apenas no campo musical; deu-lhe muitos conselhos. Eduardo Paim é um pai, aquele que lhe ofereceu o primeiro baixo.