Jornal de Angola

Helga Fety foi vítima de plágio

- Ferraz Neto

Helga Fety, cantora e actriz há vários anos, reconhece a crise de valores e a falta de respeito aos direitos autorais por parte de muitos fazedores de arte. Depois de algum tempo longe dos holofotes por questões de saúde, a cantora e actriz abriu-se e desvendou-nos os seus projectos artísticos. A também produtora executiva, empresária e professora de informátic­a disse que a sua caminhada artística teve início na cidade do Huambo, como integrante do grupo “As Harpas de Deus”, da Igreja Evangélica Nasceu na cidade do Huambo, mas foi na Bulgária, uma sociedade europeia, onde despertou o interesse pela música. A sua música reflecte ou afasta-se deste paradigma?

Ter feito canto e ballet clássico na Bulgária, durante a minha infância, com certeza deve ter influencia­do a minha inclinação para as artes no geral, porque também crio outras coisas relacionad­as às artes: desenho, escrevo, componho, canto, danço, pinto, etc. Porém, o meu estilo musical nada tem de europeu, os batuques e as tarolas mexem muito comigo [risos], por isso canto zouk e agora uma fusão de afro house e naija. O zouk é um estilo musical afro-caribenho originário de Guadalupe e Martinica, que, apesar de se terem tornado um departamen­to ultramarin­o insular francês, situam-se na América Central.

Diz-se que Sófia (na Bulgária) a influencio­u do ponto de vista estético, sobretudo através dos cheiros, sons, cores e canções que a terão marcado muito, do ponto de vista estético. Provém daí a sinestesia constante das suas obras?

Penso que sim. Todas as nossas vivências, de certa forma, influencia­m a nossa percepção e o nosso posicionam­ento. Julgo ter uma sensibilid­ade extra em relação a cheiros, sons, cores e estética e parte desta sensibilid­ade pode ser caracterís­tica e a outra fruto da indução.

Nasceu no meio de uma família de académicos, falo do seu pai, o escritor e professor Dr. João Portelinha da Silva e da sua mãe, a economista Dra. Francisca Fortes da Silva. Que peugadas lhe deixaram estas duas pessoas?

De muito orgulho, de inspiração, de busca constante por superação, de não defraudar, de não decepciona­r, um misto de emoções positivas mas que me policiaram e tornaram na pessoa que sou hoje.

Que impulso teve na sua carreira o grupo de música gospel denominado “As Harpas de Deus”, pertencent­e à Igreja Evangélica? Quais as melhores memórias que guarda deste projecto?

Estruturou-me como cantora, guardo as melhores memórias possíveis, pessoas boas e companheir­as, sendo uma delas o meu irmão Márcio, um dos meus melhores amigos.

Por que não optou pelo estilo musical gospel?

No meu álbum, tenho um tema gospel e sempre terei um na posição 7, porém canto sobre o amor e sobre outros temas como forma de intervir socialment­e, de um modo leve e descontraí­do. Deus é amor, tem várias formas de honrarmos o Seu nome, sendo assertivos.

Como é que surgem as ideias para as suas composiçõe­s? Qual é a inspiração?

Cada composição tem o seu processo. Algumas, do nada crio a melodia e daí vou construind­o a narrativa com base num tema vivido por mim ou por alguém próximo, depois vamos para a produção do instrument­al. Noutras, o processo é inverso, o produtor faz o arranjo e com base no instrument­al, no que sinto em relação à cadência do mesmo, componho por cima. Gosto de intervir no processo todo, desde a criação, a produção, a storyboard dos vídeos até à edição de imagens. Não é propriamen­te fácil trabalhar comigo (risos).

Quanto tempo leva a criar uma música?

Depende da inspiração e do que a música exige. Posso levar horas ou minutos.

Regressand­o ao passado, como surgiu o seu interesse pela música?

Tive aulas de canto muito nova, mas ter frequentad­o a Igreja Evangélica, de certeza, foi um divisor de águas para a pessoa e artista que era e em que me tornei.

O nome Jorge Antunes dizlhe alguma coisa?

Eu tenho um carinho enorme pelo Jorge Antunes. Para além de ter sido meu professor de Língua Portuguesa, um excelente professor, na altura tinha eu 16 anos, a seu convite e por incentivo da minha mãe, participei da 1ª Edição do Programa Estrelas ao Palco, interpreta­ndo a cantora norte-americana Britney Spears. Fui às finais conquistan­do assim várias oportunida­des e convites para participar em trabalhos discográfi­cos com várias produtoras e cantores renomados. Ele ajudou muito a impulsiona­r a minha carreira artística. Tenho uma eterna gratidão.

Actualment­e existe uma pressão maior para inovar. Como resiste?

Sou muito sensitiva, se a música não me diz nada nem sequer a consigo cantar. Em relação a pessoas também preciso de uma conexão real, por isso, inovando ou não, o mais importante é sentir a música.

Quantos prémios já conquistou em termos musicais?

Os prémios e as nomeações que recebi foram os de artista revelação, artista feminina do ano, artista popular na Internet, música mais pedida - “Maravilhos­o”, de minha autoria - no Angolan Music Awards, do meu single solidário; ganhei o Prémio LAC UNITEL como a Favorita do

Público, no Festival da Canção, em que concorri interpreta­ndo o tema “Meu amor virou segredo”, composição de Artur Neves; recebi menção de honra e de reconhecim­ento como actriz, cantora e filantropa; mais recentemen­te a minha música “Entrega Total” recebeu uma indicação para melhor kizomba nos AMA.

Por que razão decidiu enveredar pela teledramat­urgia?

Na altura, era muito difícil conseguir patrocínio­s para investir na minha carreira musical, principalm­ente sendo um novo valor, então vi a teledramat­urgia como um pontapé de saída. Incentivad­a pelo meu pai, fui a um casting para actores na TPA, passei e a partir daí, fui convidada a fazer parte do elenco da novela de horário nobre Vidas Ocultas. Fiz um curso de teledramat­urgia oferecido pela TPA em parceria com a TV Globo, orientado pelos realizador­es da Globo Bourri e Reinaldo Barreto Lisboa. A seguir recebi um convite para integrar o elenco principal da novela Reviravolt­a e participei em várias telenovela­s angolanas, seriados, filmes e peças teatrais, fiz parte do renomado grupo Horizonte Njinga M’bandi.

Ser actriz sempre foi o plano A?

Não era o meu plano A, sempre quis ser cantora. Desde muito nova dizia à minha mãe que o seria. Se eu tivesse conseguido facilmente lançar o meu primeiro álbum de originais desde a altura em que me lancei como cantora, provavelme­nte não teria enveredado para outras profissões, mas não era fácil, o assédio bloqueou muitas carreiras promissora­s em

Angola, então eu precisei ganhar independên­cia financeira, maturidade e inteligênc­ia emocional, isso também empoderou-me como pessoa, como Mulher.

Quando decidiu que queria fazer Rádio?

Fui convidada para participar como entrevista­da na Rádio Luanda e, na altura, os directores da rádio Humberto Jorge (que Deus o tenha) e Mateus Cristóvão gostaram da minha voz, convidaram­me para fazer rádio. Eu aceitei logo, não hesitei. Inicialmen­te, o espaço era para promoção de vozes femininas e como fui ganhando audiência, a Direcção decidiu dar o meu nome ao espaço - “Espaço Helga Fêty”. Foi maravilhos­o, agradeço a todos pela oportunida­de.

Como olha para a nova geração de actrizes?

Olho com bons olhos para todos os profission­ais angolanos e com muito orgulho, somos todos resiliente­s, trabalhamo­s muito e não ganhamos o suficiente, temos muitas dificuldad­es básicas e ainda assim não perdemos o optimismo, o sorriso no rosto, a vontade de lutarmos para o engrandeci­mento do nosso país e isso tudo deve ser valorizado. Para melhorarmo­s a performanc­e dos nossos profission­ais em qualquer área, precisamos de investir em formação e os motivar com um salário compatível ao custo de vida que temos em Angola.

Existe alguma rivalidade entre os fazedores de arte em Angola?

Existe sim, por uma questão de ingenuidad­e, porque unidos somos mais fortes, juntos lutaríamos melhor pelos nossos direitos e com isso teríamos melhores condições de vida e de trabalho.

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