Gambos sobrevive à seca
Solução passa pela construção de barragens, represas, canais de água e outras infra-estruturas de irrigação, bem como transvases de rios mais caudalosos, para garantir melhor atendimento à região Sul de Angola
No Ngandji, uma aldeia que fica cerca de 100 quilómentros no interior do município dos Gambos, província da Huíla, centenas de pessoas sobrevivem de folhas, frutos silvestres e tubérculos, cujos nomes elas mesmas desconhecem. É o drama da fome, que aperta por essas paragens, devido à prolongada estiagem, numa região tradiconalmente de poucas precipitacões, a provocar o deslocamento de populações inteiras para outras zonas, à procura de água e melhores pastos para os animais. Em alguns casos, são famílias inteiras a deixarem os seus kimbos, à procura de sobrevivência noutras regiões limítrofes. A transumância, hoje, deixou de ser exclusiva para os homens, passando a engajar todos os membros da família, para tentar salvar os poucos animais que sobreviveram à seca.
A situação é tão desesperante que, na Tunda dos Gambos, um boi de médio porte já está a ser vendido a pouco menos de 50 mil kwanzas, quando noutros mercados, como o de Luanda, ultrapassa os 500 mil. Quem conseguir vender na Chibia, um município mais a Norte dos Gambos, regressa com cerca de 150 mil kwanzas, mas um quilo de fuba de milho custa 1.500 kwanzas. No Ngandji, as famílias estão desesperadas para vender, pelo menos, uma galinha, mas não há compradores.
Impotentes, vímos gente de aspecto esquelético, uns mal conseguiam pôr-se de pé, crianças “grávidas de fome”. Um homem de meia idade acabou por cair, enquanto era abordado pelos jornalistas. Já levava alguns dias sem levar nada à boca. Estava com fome. Bem por perto, outras pessoas gemiam de fome, olhos fundos, pele rugosa, magras o quanto basta, era o quadro revelador de uma miséria extrema que nos foi mostrada em directo.
As pessoas consomem água turva de poços lamacentos. Nalguns casos, dividem-na com o gado. Criou-se um quadro capaz de trazer muitas doenças. Para quê escamoteá-lo? Gerou-se um ambiente de grande comoção entre a caravana de jornalistas, sobretudo os mais sensíveis.
Imagens particularmente chocantes.houve mesmo quem, como o Nelson Pedro, da RNA, não conseguiu conter as lágrimas. O feijão dado à caravana por Gil Chindai, um promissor jovem agricultor do Cunje, próximo do Cuito, Bié, acabaria por ser doado a alguns aldeões da Tunda dos Gambos, a começar pelo Ngandji.