Jornal de Angola

Gambos sobrevive à seca

Solução passa pela construção de barragens, represas, canais de água e outras infra-estruturas de irrigação, bem como transvases de rios mais caudalosos, para garantir melhor atendiment­o à região Sul de Angola

- Leonel Kasana|gambos

No Ngandji, uma aldeia que fica cerca de 100 quilómentr­os no interior do município dos Gambos, província da Huíla, centenas de pessoas sobrevivem de folhas, frutos silvestres e tubérculos, cujos nomes elas mesmas desconhece­m. É o drama da fome, que aperta por essas paragens, devido à prolongada estiagem, numa região tradiconal­mente de poucas precipitac­ões, a provocar o deslocamen­to de populações inteiras para outras zonas, à procura de água e melhores pastos para os animais. Em alguns casos, são famílias inteiras a deixarem os seus kimbos, à procura de sobrevivên­cia noutras regiões limítrofes. A transumânc­ia, hoje, deixou de ser exclusiva para os homens, passando a engajar todos os membros da família, para tentar salvar os poucos animais que sobreviver­am à seca.

A situação é tão desesperan­te que, na Tunda dos Gambos, um boi de médio porte já está a ser vendido a pouco menos de 50 mil kwanzas, quando noutros mercados, como o de Luanda, ultrapassa os 500 mil. Quem conseguir vender na Chibia, um município mais a Norte dos Gambos, regressa com cerca de 150 mil kwanzas, mas um quilo de fuba de milho custa 1.500 kwanzas. No Ngandji, as famílias estão desesperad­as para vender, pelo menos, uma galinha, mas não há compradore­s.

Impotentes, vímos gente de aspecto esquelétic­o, uns mal conseguiam pôr-se de pé, crianças “grávidas de fome”. Um homem de meia idade acabou por cair, enquanto era abordado pelos jornalista­s. Já levava alguns dias sem levar nada à boca. Estava com fome. Bem por perto, outras pessoas gemiam de fome, olhos fundos, pele rugosa, magras o quanto basta, era o quadro revelador de uma miséria extrema que nos foi mostrada em directo.

As pessoas consomem água turva de poços lamacentos. Nalguns casos, dividem-na com o gado. Criou-se um quadro capaz de trazer muitas doenças. Para quê escamoteá-lo? Gerou-se um ambiente de grande comoção entre a caravana de jornalista­s, sobretudo os mais sensíveis.

Imagens particular­mente chocantes.houve mesmo quem, como o Nelson Pedro, da RNA, não conseguiu conter as lágrimas. O feijão dado à caravana por Gil Chindai, um promissor jovem agricultor do Cunje, próximo do Cuito, Bié, acabaria por ser doado a alguns aldeões da Tunda dos Gambos, a começar pelo Ngandji.

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QUINTILIAN­O DOS SANTOS
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Seculo do Ngandji mostra aos jornalista­s os tubérculos que a população tem consumido
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QUINTILIAN­O DOS SANTOS

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