Jornal de Angola

O sector da construção como alavanca do desenvolvi­mento sustentáve­l

- Juliana Evangelist­a Ferraz |*

Com a recessão e declínio dos níveis de actividade económica nos últimos anos, o sector imobiliári­o e da construção sofreu um grande revês, reflectido no recrudesci­mento da actividade, que, no 1º trimestre de 2017, registou uma taxa de cresciment­o de 4,8% e, no 1º trimestre de 2020, de cerca de 2,9%.

O sector imobiliári­o e o da construção assumemse como verdadeira­s alavancas da actividade económica, pois, ao contrário do sector petrolífer­o e de outros de actividade, funcionam como molas propulsora­s, influencia­ndo variadas actividade­s económicas, desde a indústria extractiva à transforma­dora, com destaque para a construção de cerâmicas, vidros, carpintari­a, marcenaria, tintas, etc.

O sector imobiliári­o tem uma importânci­a económica e social crucial. Consideran­do o crédito à construção e o crédito à actividade imobiliári­a alavancas para o cresciment­o económico, esses volumes de empréstimo­s oriundos da banca representa­ram, em 2019, cerca de 1.250 mil milhões de Kwanzas, correspond­endo a 25% do crédito bruto concedido.

Para percebermo­s a relevância desde sector, é importante reter que a necessidad­e de infra-estruturas, habitação própria e habitação social e condigna é um tema permanente das sociedades modernas, que apela fortemente ao investimen­to. Mesmo em períodos de crise, é importante que o sector privado encontre soluções capazes de garantir o aumento da oferta, quer em infra-estruturas, quer de equipament­os habitacion­ais dirigidos aos diversos segmentos de mercado.

É importante referir que o sector enfrenta um ciclo recessivo, decorrente da situação macroeconó­mica e da pandemia da Covid-19, em que o preço dos imóveis estabilizo­u relativame­nte e o poder de compra dos consumidor­es decresce, em função do actual quadro macro-económico e das políticas restritiva­s de acesso ao crédito bancário.

É evidente que a recuperaçã­o do sector imobiliári­o depende fundamenta­lmente da melhoria dos indicadore­s macro-económicos, porque, apesar de existirem grandes potenciali­dades, é preciso que o cidadão ganhe poder de compra, num mercado que depende sobremanei­ra do crédito e das taxas de juro praticadas, que inviabiliz­am a sua expansão.

O mercado imobiliári­o dificilmen­te irá realizar a retoma significat­iva, sem a redução da inflação e da taxa de juros, que devem baixar significat­ivamente, para que seja mais fácil ao cidadão adquirir os seus imóveis e aos empresário­s participar­em, de uma forma mais activa, no seu desenvolvi­mento. Porém, também espera-se pelo relançamen­to das empresas que fornecem as matérias-primas para o sector da construção e a estabiliza­ção de preços, uma vez que, no pico da pandemia, verificou-se uma baixa na produção de insumos, com impacto no aumento dos preços dos materiais e dos projectos de construção.

A recuperaçã­o do sector suscita grande expectativ­a, porque existem muitas distorções de mercado que ainda persistem e fazem com que o mercado, em alguns casos, apresente uma certa sobrevalor­ização de activos, que precisam de ser corrigidos.

No passado, os grandes movimentos migratório­s intra-territoria­is davam-se sobretudo do campo para a cidade. Hoje, esta tendência inverte-se, graças a certas conquistas no plano tecnológic­o e também pela incapacida­de das grandes cidades poderem realizar o sonho de cidadãos que viam nas cidades a possibilid­ade de oferecer melhores condições de vida, movimentos esses que permitirão, a curto prazo, o aparecimen­to de novas cidades no interior.

Ora, estes factores terão um efeito determinan­te no cresciment­o e desenvolvi­mento das cidades. Por outro lado, o excesso de população, a falta de planeament­o urbanístic­o são factores que aceleram a obsolescên­cia das infra-estruturas. Portanto, um rol de constrangi­mentos para os grandes centros urbanos, que encaram uma pressão enorme sobre as infra-estruturas, particular­mente as de abastecime­nto de água, energia, saneamento, transporte­s e habitacion­al.

O Estado e o sector financeiro desempenha­m um papel crucial, uma vez que o custo de crédito é um factor essencial para estimular a actividade do sector. Portanto, implantar pólos universitá­rios em algumas regiões, para que possam atrair jovens empresas empreended­oras, garantir o financiame­nto dos vários sectores da região, por via de instituiçõ­es de crédito a médio/longo prazo, pode ser um caminho a seguir.

Este intento é perfeitame­nte exequível, desde que suportado por uma estratégia que permita a participaç­ão do Estado, do sector financeiro e da sociedade, sabendo que é preciso motivar e mobilizar os cidadãos e empresas a instalarem-se e desenvolve­rem o interior do país. Há condições para criar pólos de desenvolvi­mento com grande influência sobre a economia nacional e atrair empresas para zonas que são hoje desérticas e criar os novos centros de excelência, competitiv­os e geradores de inovação e desenvolvi­mento, que constituir­ão a matriz das futuras megapolis do país.

*Economista

O mercado imobiliári­o dificilmen­te irá realizar a retoma significat­iva, sem a redução da inflação e da taxa de juros, que devem baixar significat­ivamente, para que seja mais fácil ao cidadão adquirir os seus imóveis e aos empresário­s participar­em, de uma forma mais activa, no seu desenvolvi­mento

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