Números da seca
O depoimento
de Tyndulo Kamutuapatyi pode ser a fotografia possível de uma realidade que afecta toda a região dos Gambos, numa altura em que as autoridades falam em 41.608 como o registo de pessoas em estado de extrema vulnerabilidade devido à fome tremenda. Quase metade da população total - 92.464- deste município, que fica cerca de cento e cinquenta quilómetros a Sul da cidade do Lubango. As zonas mais críticas ficam na Calela, Taka, Tuiku, Tytonotongo, Tyipeio, Luvota, Paquelo, Okanga, Tapu e Pocolo, todas mais a Sul dos Gambos.
O administrador municipal, Elias Sova, falou, sem avançar cifras, da assistência às famílias com bens alimentares e reconheceu, no entanto, “não ser, esta, a solucão para contrapor ao fenómeno seca”. Ao Jornal de Angola explicou que existe “uma discussão” sobre a viabilidade da construção de uma barragem sobre o rio Caculuvar e a represa Tuatua, criação de
“corredores verdes”, para mitigar a situação da seca e abrir caminhos para o fomento da prática da agricultura de regadio no seio das famílias.
Sobre a situação de emergência, Elias Sova referiu ser importante a implementação de um sistema de informção e alerta rápido, com dados que permitam o aconselhamento das comunidades para se prevenirem de situações de estiagem com consequências para a produção alimentar.
Zona de forte influência do deserto do Kalahary, desde Novembro do ano passado que não chovia nos Gambos, retornando na segunda quizena de Março, com as sementeiras da primeira e segunda épocas já comprometidas. Mas como não há bela sem senão, as poucas quedas pluviométricas permitiram, pelo menos, a recuperação dos pastos, para alí vio dos criadores tradicionais de gado.
Na vila da Cacula, a vicegovernadora da Huíla falounos da estratégia para lidar com as alterações climáticas.
Maria João Tchipalavela referiu-se, em concreto, a um fenómeno que “não é novo” na região, recordando a seca das décadas de cinquenta e oitenta, com as consequências de que se tem conhecimento.
Sem avançar números, ela insistiu numa aposta séria em culturas mais resistentes à seca, como o massango, batata doce, mandioca, abóbora e outras, em paralelo com a abertura de furos de água, construção de barragens e represas.
De férias na Humpata, o conhecido engenheiro agrónomo Isaac dos Anjos acabaria por corroborar desta opinião, avançando, entretanto, com mais detalhes, sobre a estratégia a seguir.
“Estamos, agora, no final de Março, temos apenas mais um mês de chuvas e depois vem o Cacimbo, que são mais quatro meses. Logo, temos que ver as coisas não na dimensão do hoje, porque já não vamos a tempo”, referiu, defendendo a mobilização de mais recursos para as infra-estruturas de irrigação, de atendimento de água, para que haja menos desperdício deste recurso natural, que vai todo para o mar.
Isaac dos Anjos defendeu mais investimentos para um melhor aproveitamento do caudal dos rios. “Não fazemos os investimentos necessários, porque leva tempo e isso tem consequências”, reconheceu.
Ele deixou a receita: “Tem que se fazer mais infra-estruturas de irrigação, barragens, condutas de água, transvases, enfim, obras que podem durar dez ou 15 anos, mas que têm que ser feitas”.
O também antigo ministro da Agricultura defendeu a construção das barragens de Njamba Yamina, Njamba Yoma, Baynes e o transvase da água do rio Cubango para o Cunene, evitanto a sua perda para o delta do Okavango.