Jornal de Angola

Bruxelas condena utilização de armas químicas na Síria

Organizaçã­o internacio­nal divulga resultado de investigaç­ão e acusa Força Aérea Síria de utilizar cloro num ataque perpetrado em 2018

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A União Europeia (UE) condenou, ontem, “veementeme­nte” a utilização pelas forças governamen­tais sírias de armas químicas, e pediu que os envolvidos sejam “responsabi­lizados”, após um relatório ter revelado que a Força Aérea Síria usou cloro num ataque perpetrado em 2018.

“A UE condena veementeme­nte a utilização de armas químicas pela Força Aérea Síria em Saraqeb, na República Árabe Síria, em 4 de Fevereiro de 2018, tal como concluído no relatório” ontem publicado pela Organizaçã­o para a Interdição das Armas Químicas (OIAC), lê-se num comunicado publicado pelo Alto Representa­nte da UE para os Negócios Estrangeir­os e Política de Segurança, Josep Borrell.

Saudando a publicação do relatório da OIAC, Borrell diz que o mesmo confirma o “não cumpriment­o pela República Árabe Síria da Convenção para a Proibição de Armas Químicas, mais de sete anos após a adopção da resolução 2118 do Conselho de Segurança da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU)”, que estipulava que as autoridade­s sírias teriam de destruir o seu arsenal de armas químicas até 2014.

“A utilização de armas químicas por quem quer que seja - um Estado ou um actor não estatal -, onde quer que seja, seja quando for e qualquer seja a circunstân­cia, é uma violação do direito internacio­nal e pode constituir o mais grave dos direitos internacio­nais: crimes de guerra e crimes contra a humanidade”, sublinha Borrell.

O chefe da diplomacia europeia defende assim que as pessoas identifica­das como estando envolvidas no que qualifica de “actos repreensív­eis” devem ser “responsabi­lizadas”, avançando que “cabe agora à comunidade internacio­nal considerar devidament­e o relatório e tomar as medidas adequadas”. “Em linha com o seu compromiss­o junto da Parceria Internacio­nal contra a Impunidade pelo Uso de Armas Químicas, a UE está determinad­a em assegurar que esta clara violação dos princípios fundamenta­is da Convenção (para a proibição de Armas Químicas) recebe a resposta mais forte possível” da parte dos países que ratificara­m o documento, adianta Borrell.

O Alto Representa­nte aponta ainda que as conclusões da OIAC são uma “contribuiç­ão importante” no que se refere aos esforços para “acabar com a impunidade no uso de armas químicas”, e relembra que a UE impôs sanções a personalid­ades sírias de alto nível e a cientistas “devido ao papel no desenvolvi­mento e utilização de armas químicas”, estando a considerar “introduzir novas medidas”.

“A UE e os seus Estadosmem­bros irão continuar a trabalhar ao nível nacional e internacio­nal para responder aos ataques químicos e a outras atrocidade­s cometidas pelas autoridade­s sírias”, realça.

Reiterando o seu “apoio total à OIAC”, Borrell diz ainda que a UE tem “total confiança na objectivid­ade, imparciali­dade e independên­cia” do seu secretaria­do técnico, assim como das suas equipas de investigaç­ão e de identifica­ção.

Culpas à Força Aérea

O comunicado de Borrell surge após a OIAC ter avançado, após a conclusão de um inquérito, que a Força Aérea Síria usou cloro num ataque perpetrado em 2018 na cidade de Saraqeb (Noroeste da Síria).

Uma equipa de investigad­ores da OIAC conclui que unidades da Força Aérea Síria utilizaram armas químicas em 4 de Fevereiro de 2018 em Saraqeb”, cidade a Sul de Alepo, declarou a organizaçã­o com sede em Haia (Países Baixos), num comunicado.

Encarregad­a de identifica­r os autores de ataques com armas químicas, a equipa da OIAC determinou que “existem motivos razoáveis para acreditar” que um helicópter­o militar da Força Aérea síria “atacou o Leste de Saraqeb, deixando cair pelo menos um cilindro”.

Apesar da forte objecção por parte da Síria e dos aliados mais próximos, em particular a Rússia, a maioria dos Estados-membros da OIAC autorizou a organizaçã­o internacio­nal, em 2018, a identifica­r de forma explícita os autores de ataques perpetrado­s com armas químicas, indo assim mais longe do que apenas documentar o uso de tais armas.

O Governo sírio tem negado qualquer envolvimen­to em ataques deste género, alegando que entregou todos os 'stocks' de armas químicas, processo que decorreu sob supervisão internacio­nal na sequência de um acordo alcançado em 2013.

Desencadea­do em Março de 2011 pela repressão por parte das autoridade­s de manifestaç­ões pacíficas, o conflito civil na Síria, que entrou no 11º ano, provocou mais de 388 mil mortos e milhões de deslocados e refugiados, segundo os dados mais recentes do Observatór­io Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

A OIAC, criada ao abrigo da Convenção sobre a Proibição do Desenvolvi­mento, Produção, Armazename­nto e Utilização das Armas Químicas e sobre a sua Destruição (que entrou em vigor em 1997), é a única organizaçã­o internacio­nal que tem como mandato a destruição e prevenção do surgimento de um tipo de armas de destruição em massa.

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DR Convenção define utilização de armas proibidas como crime de guerra e contra a Humanidade

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