CARTAS DOS LEITORES
A “rentrée” política
A expressão entre aspas, de origem francesa, no título, usada para significar o reinício das actividades políticas, tem que ver, aqui para o nosso cenário, com os últimos desenvolvimentos que a política doméstica conheceu. Falo dos dois principais contendores, nomeadamente o MPLA e a UNITA, dois partidos que lutam, felizmente hoje por meios pacíficos e completamente democráticos, para os fins que preconizam. O MPLA pretende, como é natural, continuar a exercer o poder e tem como desafios imediatos a governação. A UNITA, com a sua eterna vocação ao poder, pretende, também naturalmente, inverter o quadro a seu favor. O que me leva a escrever estas linhas tem que ver com a necessidade de os dois partidos promoverem um ambiente salutar em que a vida política seja também acompanhada dos aspectos éticos. Diz-se que a ética nem sempre acompanhou a política e que hoje, atendendo aos contornos da disputa pelo poder, as observações de natureza moral e cívica nem sempre se adequam ao contexto. Mas faz algum sentido que o jogo político seja acompanhado da componente ética. Os nossos políticos devem compreender que as gerações mais novas acompanham o que os mais velhos fazem, imitando, muitas vezes, as práticas destes últimos.
Nos últimos tempos, o discurso político tornou-se "agressivo" a ponto de as recriminações mútuas entre os partidos ter aumentado exponencialmente e beliscar a conivência na adversidade. Acho que com os recentes realinhamentos ao nível do MPLA, com as nomeações de novos "players" para chefiar o Secretariado de Informação do órgão de cúpula do partido, para liderar o grupo parlamentar e a maior praça política, confirmam possivelmente um novo contexto. De maior tolerância, de maior urbanidade no discurso político ou de agravamento do quadro anterior? Apenas o tempo vai dizer-nos com alguma precisão até que ponto as recentes mudanças no MPLA representam modificação, pelo menos que ao discurso moderado, a maior tolerância para com os adversários e sã convivência dizem respeito. O mesmo pode dizer-se da UNITA, cujas celebrações dos 55 anos de existência deveriam servir também para uma recalibragem da mensagem política eivada daqueles mesmos valores que se esperam da parte do partido no poder.
Se os dois partidos forem exemplares na forma como os seus cabos eleitorais se vão colocar em campo, como os militantes vão levar a mensagem dos seus respectivos partidos e como vão conviver na diferença com os adversários políticos, as outras formações políticas vão imitar. E quem sai a ganhar vai ser obviamente a sociedade angolana em geral e em particular as gerações mais novas que precisam de aprender com os bons exemplos dos mais velhos. Termino a minha carta da reconciliação, endereçando cumprimentos a todos os políticos e não políticos.