Procurador-geral adjunto feito “refém” da população
“As nossas visitas chegaram” (Etali akombe vetu veya”, na língua nacional Umbundu) foi o cântico tradicional entoado por um grupo de pessoas, entre passageiros e motoristas, que fizeram “refém” o procurador-geral adjunto da República, Luciano Cachaca Silva Cumbua, quando pretendia seguir viagem para a cidade de Menongue.
O motivo da alegria dos manifestantes durou apenas alguns segundos e a canção “Etali akombe vetu veya” foi, de imediato, interrompida, porque o efectivo da Polícia, proveniente de Menongue, chegou ao local com instruções precisas para “resgatar” o também inspector-geral do Ministério Público, Luciano Cachaca Cumbua.
Nas proximidades da Aldeia do Fio, 76 quilómetros da cidade de Menongue, a Polícia Nacional montou uma barreira de segurança que, a partir das oito horas, impediu qualquer viatura de passageiros ou de mercadorias, estatal ou privada, de entrar e sair do território do Cuando Cubango, por “ordens superiores.”
Proveniente de Luanda, o procurador-geral adjunto da República, Luciano Cachaca Silva Cumbua, chegou ao local às 14h00 e só perto das 17h30 conseguiu deixar o controlo da Polícia, onde estava retido, com ajuda dos efectivos provenientes da cidade de Menongue, pressionados por magistrados do Ministério Público que trabalham no Cuando Cubango.
Em breves palavras ao repórter do Jornal de Angola, que também se encontrava no local, o magistrado do Ministério Público disse: “Senhor jornalista, quero ver esta situação estampada no Jornal de Angola, porque o Decreto Presidencial sobre as medidas de biossegurança é claro, apenas a cidade de Luanda está sujeita a restrições nas entradas e saídas.”
“Será que aqui, no Cuando Cubango, não existe Polícia de Intervenção Rápida (PIR), afinal o que se passa neste território para que as pessoas sejam mantidas nessas condições? Mesmo as provenientes de Luanda têm até o dia 14 deste mês para entrar ou sair de Luanda, trago o meu teste negativo assim como o pessoal de apoio, então o que se passa?”, questionou.
Os manifestantes, visivelmente revoltados, retrucaram: “Se nós não passamos, seja lá quem for, aqui também não passa ou terá de nos matar”. E, diante da situação, o procurador-geral adjunto da República, não tendo outra alternativa, permaneceu no interior da sua viatura, imobilizada pela multidão furiosa.
Depois de resgatarem o procurador-geral adjunto da República, sem qualquer incidente, a população aproveitou a ocasião para afastar todos os cones e outros objectos que a Polícia tinha colocado sobre a Estrada Nacional (EN) nº 140. A delegação embarcou nas respectivas viaturas e seguiu depois viagem.
O comandante provincial da Polícia Nacional, ao explicar os argumentos de razão para manter a população durante oito horas de espera no controlo da Polícia, tinha muito pouca audiência, porque a maioria das viaturas e passageiros já tinham seguido viagem e a situação do magistrado teve um desfecho feliz.
Enquanto isso, a Comissão Provincial de Contingência à Covid-19 impôs uma cerca sanitária na unidade penitenciária de Menongue desde o dia 5 deste mês, depois do registo de 121 reclusos que testaram positivo à Covid19, estando neste momento o estabelecimento sob fortes medidas de biossegurança.