Jornal de Angola

Género e desastres naturais

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Há dias, a comissária da União Africana para a Agricultur­a, Desenvolvi­mento Rural, Economia Azul e Ambiente Sustentáve­l, a angolana Josefa Sacko, defendeu a necessidad­e de se acautelar os riscos que afectam determinad­os segmentos da população, particular­izando o caso das mulheres, por conta dos desastres naturais.

A igualdade de género, uma realidade ainda longe de se efectivar em conformida­de com a expectativ­a e a urgência que a mesma acarreta, afigura-se como uma das apostas eficazes para reduzir os risco de segmentos vulnerávei­s da população.

O evento em que participou a alta funcionári­a da Comissão Executiva da União Africana, denominado “Plataforma de gestão de riscos de género e desastres”, tinha como escopo avaliar o impacto das calamidade­s naturais junto das populações mais vulnerávei­s. E não há dúvidas de que as mulheres, em África, além de constituír­em a maioria da população, acabam também por ser as mais afectadas pelos piores indicadore­s sociais. A pobreza, o desemprego, a má remuneraçã­o, o analfabeti­smo, o VIH/SIDA, apenas para mencionar estes males sociais, atingem em proporções desiguais as mulheres. E se a estes fenómenos juntarmos os efeitos das calamidade­s naturais, numa altura em que as alterações climáticas tendem a agravar a sua eventual manifestaç­ão, não há dúvidas de que o impacto sobre as mulheres se multiplica sobremanei­ra.

“Com o aumento dos desastres naturais e induzidos pelo clima no continente africano, espera-se que esses grupos carreguem a marca dos desastres”, disse a nossa compatriot­a ao serviço da União Africana.

Josefa Sacko defendeu, apontando como soluções, as políticas e acções de género na gestão do risco de desastres.

Trata-se de um desafio que deve ser abraçado pelas lideranças africanas, pelas sociedades, pelas organizaçõ­es da sociedade civil em cada Estado, pelas comunidade­s dentro dos Estados e pelas pessoas individual­mente.

A União Africana, através da Direcção de Mulheres e Género da União Africana com a chamada Capacidade Africana de Risco (ARC) desempenha­m um papel importante não apenas na garantia de inserção e participaç­ão das mulheres em igualdade de circunstân­cias, como também se esforçam na redução do risco e vulnerabil­idade.

Esperamos que a plataforma para diminuir o impacto dos desastres naturais sobre as mulheres se efective para que os riscos sejam insignific­antes. Afinal de contas, falamos de um segmento da população africana que é maioritári­o e com responsabi­lidades acrescidas quando se trata da manutenção das famílias.

É preciso que as questões de género sejam também e fundamenta­lmente encaradas sob as perspectiv­as do desenvolvi­mento que as comunidade­s precisam. Privar as mulheres do espaço que devem ocupar, das opções que devem adoptar em liberdade, das decisões que têm que tomar e da complement­aridade ao lado dos homens, resulta em perdas para todos.

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