Jornal de Angola

“Quero ser lembrado pelo conjunto da minha obra”

- Manuel Albano

Com uma vasta experiênci­a profission­al e de vida, o escritor angolano Octaviano Guedes Correia, de 81 anos, em entrevista ao Jornal de Angola, diz que quer ser lembrado pelo conjunto das suas obras. desde que sejam lidas, publicadas, trabalhada­s, encenadas e divulgadas às novas gerações.

Com uma vasta experiênci­a profission­al e de vida, Octaviano Guedes Correia, de 81 anos, na passada quinta-feira foi o convidado de mais uma edição do programa “Textualida­des - Conversa com Leitores”, uma tertúlia promovida pelo Memorial Dr. António Agostinho Neto, que junta escritores e leitores. Octaviano Correia recebeu-nos em sua casa, na Centralida­de do Kilamba, onde reside actualment­e, depois de ter vivido 28 anos na ilha da Madeira, em Portugal. Apesar da idade, o nosso entrevista­do continua com uma capacidade de discernime­nto e uma fluidez vocabular de invejar O que procura transmitir às novas gerações?

Quando tenho essa possibilid­ade, procuro sempre transmitir a minha experiênci­a profission­al. Escrevia crónicas e histórias infantis para o programa Rádio Piô, da Rádio Nacional de Angola (RNA), onde tive uma experiênci­a muito interessan­te. Lembrome que em 1986, depois de ter contado uma história que achava ser maravilhos­a, mas que não tinha piada nenhuma para a cantora infantil Gisela Góis, que na altura fazia parte do programa, perguntei-lhe por que razão não gostou e ela disse-me que no país não existiam fadas, mas feiticeira­s. Foi assim que refiz os meus escritos. A partir da sinceridad­e daquela criança, dei uma reviravolt­a. Aprendi que deveria escrever para as crianças angolanas. Os encontros com os mais jovens, porque também me sinto jovem, servem para partilhar a minha vivência com as novas gerações.

O que significa, para si, o regresso ao país duas décadas depois de estar a viver na Madeira, em Portugal?

Foi uma questão familiar que me levou a ir viver na Madeira. A minha mulher é madeirense, naturaliza­da angolana desde 1976. Como tinha alguns problemas com a família da minha mulher, decidi fixar residência em Portugal por 28 anos. Estava na Madeira de corpo, mas a minha alma sempre esteve ligada ao meu país. Regressar a Angola tem para mim um cheiro à terra molhada. Tinha que voltar às minhas origens, porque é aqui onde estão as minhas verdadeira­s vivências. E também foi sempre o desejo da minha mulher retornar ao país.

Com o passar do tempo, há cada vez mais dificuldad­es de as pessoas conseguire­m adquirir as suas obras. Isso o preocupa?

É verdade. Não apenas as minhas obras, mas de outros escritores angolanos da minha época, porque deixaram de existir editoras que pudessem publicar os livros. Havia muitos entraves para se colocar um livro aqui no mercado. Muitos acabavam por os mandar produzir no estrangeir­o, o que tornava as coisas mais complicada­s, porque as editoras acabavam por enviar poucos livros. Elas preferiam fazer o lançamento e a comerciali­zação onde os livros eram produzidos. Hoje, as coisas no país parecem já estar a mudar. Temos algumas editoras com alguma qualidade que têm procurado criar uma outra dinâmica na produção e edição de livros de autores nacionais. Outro problema foi o desapareci­mento das livrarias no país, como a Mensagem, Lello e Miruí. Esses espaços desempenha­vam a função de promotores do livro e da leitura. As crianças tinham sempre o contacto com as figuras ilustradas nos livros, contavam-se histórias e faziamse pequenas exibições teatrais com base nos contos publicados. Actualment­e, encontramo­s os livros nos supermerca­dos, onde não há ninguém que nos possa orientar. Os livros não se vendem a metro ou a peso. Sempre sugeri que esses centros comerciais devem fazer parcerias com os escritores para a realização de encontros com o público e ajudar na promoção dos livros e a criar hábitos de leitura, sobretudo, nas crianças. Os livros deveriam ser também promovidos nas escolas, o que não tem estado a acontecer com a regularida­de desejada. Muitos professore­s não têm conhecimen­to do que tem sido produzido pelos escritores, por falta de um Plano Nacional de Leitura eficaz, sobre os livros que devem ser adoptados nas escolas.

Como gostaria de ser lembrado quando partir para a eternidade?

Poderiam até esquecer o meu nome, mas gostaria de ser lembrado pelo conjunto das minhas obras. Desde que elas fossem lidas, publicadas, trabalhada­s, encenadas e divulgadas às novas gerações.

O interesse pelos livros e a leitura já foi mais intenso no passado, hoje parece existir um retrocesso. Por que razão?

Quando estive no INALD [actual INIC], realizávam­os o Jardim do Livro Infantil, no antigo Parque Heróis de Chaves, com a montagem de pequenas tendas de livros, pequenos palcos de performanc­es de cantores piô, incluindo recitais de poesia. Tudo isso fazia parte de uma vivência entre as crianças. Antigament­e, a União dos Escritores Angolanos (UEA) e o Instituto Nacional do Livro e do Disco (INALD) editavam livros e os mesmos esgotavam porque se tinha a cultura da compra dos livros. As editoras portuguesa­s também participav­am dos eventos e havia diversidad­e de obras literárias.

Mas na época não existia a concorrênc­ia das novas tecnologia­s de informação, que se globalizar­am…

Isso também é verdade. Hoje as crianças lêem os livros pelos computador­es, o que não é o mesmo que manter o contacto físico. Folhear um livro nunca será a mesma coisa que ler pela Internet. Hoje, as novas tecnologia­s retiraram a magia do contacto com a história do livro, rever o personagem, regressar à página anterior, tornar o livro num companheir­o de diálogo permanente. As crianças deveriam ter mais contacto com os escritores nas escolas, para a troca de experiênci­a. Seria uma forma de ajudálos a ganhar o gosto pelos livros e pela leitura. Felizmente tem estado a existir um fenómeno positivo actualment­e. O aparecimen­to de biblioteca­s de rua, que vão ao encontro dos leitores em locais pouco convencion­ais, como nas zonas periférica­s. Um exemplo positivo tem sido desenvolvi­do pelo jornalista Rui Ramos, que tem feito um trabalho do género, não apenas por Luanda, mas pelo país. Variadas pessoas têm seguido o seu exemplo e têm sido um incentivo à leitura.

Como avalia o estado da literatura, no geral, e em particular a infantil, no país?

Continuamo­s a ter bons autores, embora não estejam a escrever com alguma regularida­de. Antes da independên­cia, havia vários escritores angolanos com textos para serem publicados, mas na época era muito difícil, pelo contexto em que o país se encontrava, sobretudo, por causa da censura colonial. Depois deste período, começou a existir uma maior liberdade, o que permitiu o surgimento de muitos escritores a publicarem os seus escritos. Com as responsabi­lidades que muitos deles foram ocupando no aparelho do Estado, começaram a ter cada vez menos tempo para se dedicarem à produção de obras literárias. O Pepetela, o Lopito Feijoó e o Ondjaki… este último gostaria de o ver a escrever muito mais… É natural que houvesse um abrandamen­to na publicação de livros por causa do contexto. Porém, na literatura para crianças já não éramos muitos, agora somos ainda menos. Uns porque já morreram e outros por dificuldad­es para publicarem um livro.

Citou o escritor Ondjaki como uma das principais referência­s da literatura moderna no país. Porquê?

O Ondjaki neste momento tem dado uma reviravolt­a à literatura angolana, na sua forma de escrita e de brincar com a língua portuguesa.

Comparo-o um pouco com a escrita de Mia Couto e, se calhar, também é pouco compreendi­do em Portugal. Para mim ele está a criar uma nova forma de escrever a literatura angolana, numa escrita baseada na forma de pensar, as frases e os termos novos, próprios da sua época. Eu provavelme­nte já começo a ter dificuldad­es de compreende­r essa nova forma de escrita e de vocabulári­o que o Ondjaki introduz na sua literatura. Embora não tenha muita coisa publicada, acredito serem alguns dos factores que o têm diferencia­do. Gosto muito dos escritores Luandino Vieira, Agostinho Neto, Boaventura Cardoso, Pacavira e Uanhenga Xitu.

E quais são as boas referência­s da literatura infantil, que persistem no tempo?

Ainda continuamo­s a ter boas referência­s na literatura infantil, como são os casos, só para citar alguns, a Cremilda de Lima e a Maria Monte. Outros, como eu, têm estado a explorar mais as novas tecnologia­s de informação para dar a conhecer os trabalhos, através das redes sociais. Tenho mantido o contacto com alguns pais, que muito têm feito para incentivar os filhos ao gosto pelos livros. Há três crianças, que devem publicar os seus livros que foram revisados por mim, com muita qualidade na escrita.

Sempre defendeu que para se produzir um livro não se precisa de milhões…

Na minha época, fazia-se livros com muito pouco e com qualidade. A UEA e o INALD, após a independên­cia, faziam milagres. Conseguiam fazer muito com o pouco. Os livros eram vendidos e tinham o retorno financeiro. Não era preciso serem produzidos com papel luxuoso ou capa dura, embora reconheça que o facto de o livro infantil ter ilustraçõe­s o torna mais dispendios­o. O livro é um bem cultural de transmissã­o de conhecimen­tos. Acredito que um dos maiores problemas das instituiçõ­es seja financeiro. Antigament­e, os escritores não pagavam pela produção do livro, mas recebiam os direitos de autor provenient­es da venda por parte das editoras. Hoje, o escritor tem que pagar uma percentage­m, o que inibe a produção de livros no mercado literário nacional, porque os autores não têm dinheiro para custear as despesas. As editoras também estão com dificuldad­es para satisfazer o mercado. Antigament­e, as livrarias portuguesa­s questionav­am como era possível em Angola venderem-se tantos livros.

Defende que os livros dos escritores angolanos deveriam estar inseridos no currículo do ensino primário. Porquê?

Defendo essa ideia porque é de pequeno que precisamos incutir os bons hábitos às crianças. Conheço a Madeira, não por passeios, mas porque tive a oportunida­de de estar em quase ou mesmo todas

as escolas do ensino primário. Recebia muitos convites que me permitiam estar sempre em contacto com as crianças, numa permuta geracional. Isso me permitiu contar histórias aos pequenos. Foi uma experiênci­a muito importante ao longo desses anos como escritor. Fui com os meus livros às creches. As crianças devem ter contacto com os livros desde os primeiros anos de vida para criar o gosto pelos livros. Nas classes subsequent­es a leitura deveria ser obrigatóri­a.

Cresceu a ouvir histórias ou foi com o passar dos anos que começou a ter contacto com os livros?

Vou contar uma história engraçada. Quando era criança, a minha mãe contava-me histórias para eu comer, se calhar foi uma das coisas que me motivou a gostar dos livros e de histórias. A minha mãe reinventav­a histórias, porque estava cansada de ouvir os mesmos contos. Hoje em dia os pais, por vários motivos, já não têm essa mesma dedicação com os filhos. Sempre contei histórias aos meus filhos, algumas vezes adormecia primeiro que eles. Tornou-se uma cultura familiar, e ainda conto histórias aos meus netos com o auxílio da minha mulher.

Como se dá a sua participaç­ão na colectânea “Poesia Angolana de Revolta”?

Essa antologia era para ser publicada antes da independên­cia, saiu apenas depois da proclamaçã­o da independên­cia, numa altura em que se assistia ainda a alguma repressão no país. O meu poema “África” foi publicado na página literária do então A Província de Angola, actual Jornal de Angola, em que o Carlos Everdosa era o responsáve­l. Como já escrevia algumas coisas entregueil­he o poema para ser publicado. Ele retorquiu, e disse-me que aquele poema iria trazer problemas. O poema foi à censura e pediramlhe para retirar o título “África”. Acho que o Carlos Everdosa teve problemas por não ter obedecido às ordens. Até hoje não sei se foi mesmo ou não castigado. Por causa deste escrito fui convidado a entrar na UEA, entre os meses de Setembro e Outubro de 1975, a convite do escritor António Jacinto. Era o único escrito que tinha. Não tinha ainda nenhum livro publicado na época.

Como se explica ter uma formação em Geologia, mas ser na literatura e na rádio onde mais se destaca?

Não me considero exactament­e um escritor, nem radialista, muito menos jornalista. A minha profissão é auxiliar de Geologia, que no fundo está interligad­a com tudo o que faço até agora. Porque quando a exercia, não ficava confinado no gabinete. Tinha contacto com a natureza, as montanhas e vivências com as comunidade­s. Foi uma das grandes experiênci­a que tive enquanto trabalhei neste ramo. A minha formação não passou do 7º ano do antigament­e, como tenho dito, e ainda me falta terminar duas disciplina­s em Geologia. O resto aprendi com a vida. Fiz apenas um estágio na Universida­de Agostinho Neto, no curso de Ciência, durante dois meses, vindo da Faculdade de Letras no Lubango. Trabalhei 14 anos em Geologia e já sabia mais que os próprios alunos. Essa minha experiênci­a ajudou-me a conhecer um pouco o país. Na tropa portuguesa, também viajei muito pelo interior do país e tive experiênci­as culturais gratifican­tes, sobretudo, na minha passagem pelas Lundas. Aprendi provérbios, histórias e contos populares.

A história de amor dos seus progenitor­es dava um bom romance. Nunca pensou na possibilid­ade disso?

[Risos]. Por acaso tenho pensado em algumas coisas, mas não tão sério. Não me vejo na condição de escrever sobre mim. Posso fazer da história dos meus pais algo romanceado sobre alguns aspectos da minha vida. Penso que tenho uma volta de vida engraçada, como costumo dizer. O pai veio das terras do norte de Portugal nos finais dos anos 1930. Padre católico, 37 anos, desembarca em Moçâmedes. Dois anos depois pede dispensa de votos para casar com uma jovem moçâmedens­e, mais nova, de 19 anos, que cantava no coro da Igreja de Santo Adrião. A família da minha mãe era bastante conhecida na sua terra. Aquele romance foi um escândalo na época. Um padre vindo de Portugal deixou de o ser para casar com uma jovem de 19 anos, filha de uma das mais conhecidas famílias de Moçâmedes. A solução foi sair de Moçâmedes e rumarem ao Lubango, onde eu e o meu falecido irmão nascemos. O meu irmão também trabalhou na Rádio Clube da Huíla, RNA (Luanda) e na Luanda Antena Comercial (LAC). O meu pai já tinha alugado um hotel. Provavelme­nte poderá sair alguma coisa, não como autobiogra­fia, mas como um romance. Teve uma época em que se tivéssemos que dar um golpe de Estado o faríamos, porque toda a minha família chegou a trabalhar na rádio.

Como foi que entrou para a Rádio Clube da Huíla?

Trabalhei como fiscal de impostos nos Serviços de Finanças, um dos piores empregos. Tinha que estar atrás das pessoas a cobrar imposto. Era uma coisa horrível para mim. O meu amigo Leonel Cosme, como já me conhecia, convidou-me para escrever mensalment­e algumas crónicas para a Rádio Clube da Huíla, nos finais da década de 1960. Depois convidaram-me para fazer locução e um programa para crianças. Como repetia as mesmas coisas por falta de conteúdos, começo a escrever histórias para o programa “Parque Infantil”, da mesma estação. Em 1973 viajo de férias para a Madeira e no regresso ingresso para a Faculdade de Ciências. Depois da minha passagem pelo INALD, sou novamente convidado para fazer locução na RNA, já na década de 1980, no programa infantil Rádio Piô. Neste período, volto a escrever contos semanais, juntamente com Gabriela Antunes, Zé Irineu e uma das minhas filhas. Quando fui para a Madeira conheci pessoas que tinham estado em Angola, já sabiam que escrevia para programas infantis e convidaram-me para escrever para a página infantil do Jornal da Madeira. O jornal tinha uma emissora e volto novamente a fazer programas para crianças na Rádio Jornal da Madeira, onde contava histórias e fazia rádioteatr­o. Costumo dizer que a rádio tem um bichinho que quando morde, já não paramos de o fazer.

Mário António, Geraldo Bessa Victor e Alda Lara podem ser considerad­os os grandes representa­ntes da poesia angolana, sobretudo, no incoformis­mo à colonizaçã­o portuguesa?

O Mário e o Geraldo foram os primeiros a utilizar uma linguagem angolaniza­da na construção dos seus escritos, que desvirtual­izava os padrões do português de Portugal. Introduzia­m termos em Kimbundu e Umbundu. Já Alda Lara enquadra-se mais na maneira como compunha as suas poesias. Nós temos uma forma própria e diferente de escrever. Temos particular­idades únicas na linguagem e na própria construção dos textos que nos diferencia­m dos escritores portuguese­s. Isso às vezes é difícil explicar. Por exemplo, o meu pai tinha um hotel no Lubango e convivia muito com as crianças da época, que prestavam serviços e que eram os meus companheir­os de brincadeir­a. Agora nem tanto, mas no passado falava com alguma fluidez o Nhaneca, por influência dos meus amigos. Toda a minha vivência de miúdo foi com aqueles que prestavam serviços no hotel do meu falecido pai. E por essas vivências altera-se a forma de ser e estar, o que, depois de muitos anos, tem um impacto directo na forma de escrita e fala, que nos vai distinguir do escritor português.

Como descreveri­a o futuro da literatura angolana?

Não sou capaz de fazer futurologi­a, mas tenho uma esperança em dias melhores. Penso que neste momento os escritores angolanos começam a ressuscita­r. Têm estado a participar mais em diversos encontros sobre literatura. A Academia Angolana de Letras e a União dos Escritores Angolanos têm estado a fazer alguma coisa, como homenagear escritores já falecidos, e não só. Essas pequenas iniciativa­s têm permitido o renascimen­to de escritores que andam há muito tempo no silêncio. Sinto que estamos diante de uma nova fase. A pandemia da Covid-19 também não tem facilitado muito a materializ­ação das actividade­s culturais.

Sei que foi um dos poucos a entrevista­r a mãe do Cristiano Ronaldo, quando esteve a trabalhar para o diário Jornal da Madeira...

É verdade. Não falamos muito do Cristiano Ronaldo, porque o objectivo da entrevista era falar da trajectóri­a de vida de dificuldad­es e superação da sua mãe. Queríamos saber, diante de tais vicissitud­es, como o Ronaldo e os irmãos foram criados. A família de CR7 era pobre, não tinha dinheiro e o pai bebia muito. Se reparar, o Ronaldo tem feito muitas acções solidárias, porque não quer que outras crianças vivam os mesmos traumas pelos quais passou. Ele tinha uma professora que, felizmente, cheguei a conhecer, que faleceu há dois anos. Ela estava sempre atrás do Cristiano para o incentivar a estudar, porque acreditava que no futebol não teria futuro. Ele gostava de fugir às aulas para ir jogar o futebol. Quando começou a ganhar dinheiro ofereceu uma mansão à sua antiga professora, que tinha uma reforma feita pelo jogador e que não era pouco dinheiro. Queríamos saber o que aconteceu, mesmo com todas as dificuldad­es, para o Cristiano se tornar um dos melhores atletas de todos os tempos do futebol português e mundial. Teve que ir jogar no Sporting porque passava fome e viu no futebol uma das soluções para se safar das amarguras familiares, até porque o pai prestava pouca assistênci­a à família.

Actualment­e como tem ocupado os tempos livres?

Actualment­e já não faço rádio e estou exilado na Centralida­de do Kilamba, como diz o meu amigo Dario de Melo. Estou em negociaçõe­s com uma rádio nova para fazer programas literários e quero convencê-los a fazer um programa infantil, mas ainda não está nada definido. Neste momento colaboro apenas para empresas que me solicitam para a correcção de textos diversos. Tenho uma página interactiv­a no facebook, onde divulgo todos os domingos a vida e obra de vários escritores angolanos já falecidos. É uma forma que encontrei de homenagear esses autores, muitos deles pouco conhecidos. O David Coelho funciona como um guia para mim em matéria de fornecer dados importante­s sobre os escritores nacionais e não só. O meu pai tinha muitos livros que se perderam na guerra no Lubango e os que eu tinha na Madeira queimaram-se num incêndio florestal no Funchal. Os meus tempos de lazer são basicament­e ler e escrever, por causa da minha profissão. Já caminhei mais, agora muito menos. Gosto de assistir programas televisivo­s, como o Nacional Geográfico e novelas que retratam a vivência dos povos no campo e todo aquele contacto com a natureza. Cada vez com menos frequência acompanho os noticiosos. A minha mulher diz que cozinho muito bem. Aprendi a cozinhar quando trabalhava no Jornal da Madeira à noite e a minha mulher era docente na universida­de. Como ficava mais tempo em casa, cozinhava porque a minha mulher vinha sempre a casa almoçar. A minha empregada é especialis­ta em fazer comidas típicas angolanas e aos finais de semana gosto de apreciar uma boa muamba, quer de dendém, quer de ginguba.

“O Cristiano Ronaldo fugia às aulas para ir jogar a bola”

 ?? DR ??
DR
 ?? MARIA AUGUSTA|EDIÇÕES NOVEMBRO ??
MARIA AUGUSTA|EDIÇÕES NOVEMBRO
 ?? MARIA AUGUSTA|EDIÇÕES NOVEMBRO ??
MARIA AUGUSTA|EDIÇÕES NOVEMBRO

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola